PMMA: veja os usos indicados para o procedimento (estética não é um deles)
Entenda quais são as aplicações seguras desse material, que ficou famoso por seus efeitos colaterais, deformações e até mortes de pacientes por maus usos.
O polimetilmetacrilato, também conhecido como acrílico ou pela sigla PMMA, é um tipo de resina plástica muito versátil. Pode ser usado para produzir vários tipos de objetos de plástico, inclusive alguns biocompatíveis, ou seja, que podem ser aplicados em contextos médicos – como lentes de contato, implantes de esôfago, cimento ortopédico e implantes de dentes.
Há décadas, porém, o PMMA em formato de gel também é usado para preenchimentos corporais para fins estéticos – em procedimentos conhecidos como “bioplastia” –, por ser mais duradouro e barato do que outras alternativas. O problema é que ele não é seguro, e não são incomuns as notícias de pacientes que tiveram complicações ou até morreram.
O caso mais recente foi da influenciadora Aline Ferreira, de 33 anos, que faleceu após a aplicação de PMMA nos glúteos em uma clínica em Goiânia. A polícia ainda investiga a relação entre a morte e o procedimento estético.
Perigos do PMMA
O fator mais complicado do preenchimento com PMMA é que esse material não é absorvido pelo corpo – ele se aloja entre os tecidos e por lá fica. O ácido hialurônico, por exemplo, é um outro material comum para esse tipo de intervenção, mas com o diferencial que pode ser “dissolvido” de forma segura caso seja necessário desfazer o preenchimento. Já o PMMA infiltra nos tecidos e só pode ser retirado cirurgicamente, em procedimentos delicados que sempre acabam removendo um pouco de tecido vivo junto.
Além disso, se o PMMA não for aplicado adequadamente no local correto, pode causar deformações, inflamações graves, necrose e até morte. Quando o material entra na corrente sanguínea e interrompe o fluxo de sangue, ocorre a chamada embolia, que pode ser fatal. “Como ele é um produto permanente, os efeitos adversos também podem ser permanentes”, explica o médico dermatologista Márcio Serra, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
É por isso que o uso para fins estéticos não é aprovado e traz riscos altos. Em vez de injetar acrílico no próprio corpo, procure profissionais capacitados e técnicas mais seguras, como o uso do ácido hialurônico, sempre se informando sobre possíveis riscos dos procedimentos.
Para que serve o PMMA, então?
A substância não é de todo maléfica. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), existem dois usos para os quais o preenchimento com PMMA é autorizado. O primeiro é corrigir a perda de gordura em partes específicas do corpo que é causada pelo uso de medicamentos antirretrovirais para HIV/AIDS.
Nesse tipo de caso, o paciente sofre da chamada síndrome lipodistrófica, que, entre outros sintomas, muda a distribuição de gordura no corpo. A maior parte fica acumulada no centro do corpo, e a lipoatrofia tira a gordura do rosto, braços, pernas, e nádegas. Esses impactos não são unicamente estéticos: sem a gordura dos glúteos, por exemplo, os pacientes podem sentir dor ao ficarem sentados.
Segundo Serra, “existem outras alternativas, mas, para os casos de lipoatrofias graves, o custo/benefício do PMMA é indiscutível, além de ser o único material que pode ser utilizado no terço inferior da nádega e da região perianal”. Ou seja, os benefícios claramente superam os riscos nesse cenário.
O segundo uso permitido pela Anvisa é para preenchimentos faciais e corporais para corrigir irregularidades e depressões graves na pele. Para essas situações, Serra explica que é fundamental que o procedimento seja realizado por um médico dermatologista ou cirurgião plástico devidamente capacitado. Somente esses profissionais têm conhecimento anatômico suficiente para avaliar quando e quanto do PMMA é adequado para o caso específico.
A capacitação profissional também é importante para o manejo de eventuais intercorrências ou efeitos colaterais após a aplicação do PMMA. Segundo um dossiê elaborado pela SBD e pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), “profissionais não qualificados podem demonstrar incapacidade em detectar tais complicações prontamente ou falhar no conhecimento para tratá-las de forma eficaz, comprometendo a segurança do paciente.”
“A única profissão que tem no seu exercício profissional a habilitação para executar procedimentos invasivos é a medicina. As outras profissões não têm essa cláusula na sua lei de exercício, e se utilizam de resoluções que são ilegítimas porque não podem superar a própria lei”, diz o presidente da SBD, Heitor de Sá Gonçalves.