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Por que o Reino Unido decretou seu terceiro lockdown nacional

Número de novos casos bateu recorde nesta terça-feira (5): 60.916 foram registrados em 24 horas. Em Londres, uma em cada 30 pessoas está com Covid-19.

Por Bruno Carbinatto
5 jan 2021, 19h04

O primeiro-ministro britânico Boris Johnson anunciou na última segunda-feira (5) que a Inglaterra voltará ao lockdown. A medida veio após um crescimento acentuado dos números de casos de Covid-19 no país.

Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales também já haviam adotado medidas parecidas. Em seu terceiro período de lockdown em apenas nove meses, o Reino Unido desponta como um dos países mais afetados pela pandemia na Europa e no mundo.

As novas regras impostas pelo governo estão entre as mais restritivas desde o início da pandemia, semelhantes às adotadas em março do ano passado. Todas escolas ficarão fechadas, assim como todos os estabelecimentos não essenciais.

Os ingleses deverão ficar em casa exceto para atividades essenciais, como fazer compras ou buscar assistência médica ou para atividades físicas ao ar livre, limitadas a apenas uma vez ao dia – e desde que não envolvam contato com mais de uma pessoa de outra casa. O lockdown ainda não tem data para acabar, embora deva permanecer durante todo o mês de janeiro e possivelmente até metade de fevereiro.

O anúncio veio logo após um aumento repentino e radical nos números da pandemia em solo britânico. Na semana entre 27 de dezembro de 2020 e 2 de janeiro de 2021, estima-se que 1,1 milhão, ou um em cada 50 britânicos, estava com Covid-19. O número considera apenas cidadãos que estão em suas casas, sem contar os internados em hospitais e casas de repouso. Na capital Londres, uma em cada 30 pessoas estava infectada.

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Nesta terça-feira (5), o país também bateu seu recorde em novos casos diários: 60.916 foram registrados em 24 horas. Antes disso, a marca nunca havia ultrapassado os 60 mil, e os 50 mil só foram superados pela primeira vez no final de dezembro.

Hospitais do Serviço Nacional de Saúde (NHS), o sistema público e universal de saúde do Reino Unido, estão sobrecarregados. Calcula-se que o número de pacientes internados seja 40% maior do que quando o país enfrentou o pico da primeira onda de infecções no ano passado.

A situação chama a atenção porque o Reino Unido foi o primeiro país do Ocidente a aprovar uma vacina para uso geral da sua população: o imunizante da Pfizer foi aplicado pela primeira vez em território britânico em dezembro de 2020. Recentemente, o país concedeu autorização de emergência também para a vacina da AstraZeneca, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford. O Reino Unido já aplicou mais de 944 mil doses, segundo os dados atualizados.

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Por trás dos números

Vários fatores podem explicar o aumento vertiginoso de casos no país. Um deles é o fenômeno da segunda onda: um retorno das infecções após uma queda causada pelas medidas de contenção que eventualmente são afrouxadas. A Europa como um todo passa por esse processo, incluindo países como a Alemanha, que havia conseguido manter seus números significativamente mais baixos do que seus vizinhos europeus. Além disso, o inverno no Hemisfério Norte e as festas de fim de ano podem ter contribuído para piorar a situação.

Mesmo assim, é provável que um ingrediente especialmente britânico tenha tornado essa receita ainda mais caótica em comparação com outros países: a variação do coronavírus conhecida como B.1.1.7, identificada no Reino Unido pela primeira vez em outubro de 2020.

A variante viral conta com uma série de mutações que, segundo evidências atuais, podem tornar o vírus até 70% mais transmissível, embora não pareça causar sintomas mais graves. A B.1.1.7 se espalhou rapidamente pelo país e chegou a vários países do mundo – incluindo ao Brasil – e, hoje, é responsável pela maior parte dos novos diagnósticos positivos no Reino Unido.

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Especialistas alertam, no entanto, que a variante não deve ser a única responsável pela situação caótica do país. O primeiro-ministro Boris Johnson tem sido muito criticado pela lentidão para decretar medidas mais restritivas, mesmo com várias previsões alertando para um aumento de casos no final do ano. Apenas 36 horas antes do anúncio do novo lockdown, o primeiro-ministro havia pedido para que os pais enviassem seus filhos para as escolas que estivessem abertas, argumentando que eram “ambientes seguros”.

A pressão da oposição política, de autoridades de saúde e organizações de professores e outros profissionais aumentou no final do ano, quando o País de Gales e a Irlanda do Norte decretaram seus próprios lockdowns. Na segunda-feira, antes do anúncio de Boris Johnson, a primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, também decretou a medida em seu país – mesmo com uma situação bem menos preocupante do que a da Inglaterra. 

Não é a primeira vez que o governo britânico está no centro das atenções da gestão da pandemia. O país está no top 10 de mortes per capita no mundo – um dos piores da Europa. Ao longo de 2020, a posição oficial do governo quanto as medidas de isolamento social foi ambígua e muitas vezes indecisa. Ainda nos primeiros meses da pandemia, o país considerou adotar uma estratégia amplamente criticada: isolar os idosos e pessoas do grupo de risco e deixar o vírus circular entre os jovens para se criar uma “imunidade de rebanho”. A ideia foi abandonada rapidamente – na mesma época em que o próprio Boris Johson foi internado em uma UTI após pegar Covid-19.

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