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Taxistas e motoristas de ambulância têm menos chances de desenvolver Alzheimer?

Estudo analisou 348 mil mortes causadas pela doença. Entenda as descobertas e as discussões levantadas pelos pesquisadores.

Por Bela Lobato
21 dez 2024, 19h00

Ganhar a vida dirigindo uma ambulância ou um táxi pode te proteger contra o desenvolvimento do Alzheimer. É o que aponta um estudo publicado no último dia 17 na revista BMJ, que analisou as mortes de quase 9 milhões de pessoas buscando alguma relação entre as profissões exercidas com a doença neurodegenerativa.

A pesquisa foi realizada por uma equipe da Escola de Medicina de Harvard. Os cientistas analisaram certidões de óbitos de 2020 a 2022 nos EUA, das quais 348 mil listavam Alzheimer como a principal causa da morte. A análise leva em conta ajustes para fatores de risco como idade e considera também correlações com sexo, raça, etnia e escolaridade.

A diferença é significativa: enquanto a prevalência média de morte por Alzheimer na população geral é de 1,69%, essa taxa é de 1,03% para taxistas e 0,91% para motoristas de ambulâncias. 

A hipótese é que haja uma ligação com a função cerebral de navegação espacial. “A mesma parte do cérebro envolvida na criação de mapas espaciais cognitivos – que usamos para navegar pelo mundo ao nosso redor – também está envolvida no desenvolvimento do mal de Alzheimer”, disse o médico Vishal Patel, o autor principal do estudo, em comunicado

Importante ressaltar que o estudo não prova que o trabalho de motorista por si só reduza o risco de Alzheimer, mas sugere uma ligação que deve ser investigada mais a fundo – e que, no melhor dos cenários, pode sugerir novas formas de prevenção ou controle da doença. 

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Uma pista pode estar em uma pequena parte do cérebro chamada hipocampo, essencial para o  aprendizado, a memória e a navegação espacial. E também uma das primeiras áreas a se deteriorar com o Alzheimer. 

Uma famosa pesquisa anterior já havia mostrado que existem diferenças no hipocampo dos motoristas de táxi de Londres em comparação com a população em geral. Quanto mais tempo de carreira como taxista, mais a parte frontal do hipocampo aumenta, enquanto a posterior diminui. 

A prática constante das habilidades de localização parece estar relacionada à neuroplasticidade nessa região. Neuroplasticidade é capacidade do cérebro de se moldar a novas experiências ao longo da vida, por meio da criação de novas conexões entre os neurônios.

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“Nossa hipótese é que as ocupações que exigem processamento espacial e de navegação em tempo real podem estar associadas a uma carga reduzida de mortalidade por doença de Alzheimer em comparação com outras ocupações”, diz Patel.

O fenômeno não se reproduz em outras ocupações semelhantes, como pilotos de ônibus, aviões e barcos. Os autores supõem que a diferença pode ocorrer porque esses motoristas dependem menos de navegação imprevisível, de decorar mapas e tomar decisões em tempo real – funções que, para os cientistas, são decisivas para as mudanças no hipocampo.

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Entretanto, a diferença entre os resultados aumenta a possibilidade de que existam fatores e limitações sendo desconsideradas na análise. 

“Esse é um grande estudo que aumenta o conhecimento sobre o desenvolvimento da resiliência cerebral para reduzir o risco do mal de Alzheimer. Entretanto, com base nesse tipo de dados, não é possível concluir com certeza que essas ocupações protegem as pessoas do mal de Alzheimer.”, escreveu a pesquisadora Tara Spires-Jones, presidente da British Neuroscience Association, em uma revisão da pesquisa

Ela argumenta que é possível que haja um viés prévio na escolha profissional: talvez, pessoas com maior risco de Alzheimer não escolham ocupações de direção com uso intensivo de memória, como essas. Os autores consideram essa possibilidade no estudo, mas afirmam que a existência desse viés é improvável, já que os sintomas da doença de Alzheimer geralmente se desenvolvem após a idade produtiva (ou seja, bem depois da escolha da profissão).

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“Também vale a pena observar que a idade de morte dos motoristas de táxi e ambulância neste estudo foi de cerca de 64 a 67 anos, enquanto que para todas as outras ocupações foi de 74 anos. Essa é uma séria limitação do estudo, já que a idade de início do Alzheimer geralmente ocorre após os 65 anos, o que significa que os motoristas de táxi e de ambulância poderiam ter desenvolvido Alzheimer se tivessem vivido mais.”, argumenta Spires-Jones. “Da mesma forma, a proporção de mulheres motoristas de táxi e ambulância foi de 10% a 22%, enquanto em todas as outras ocupações foi de 48%. Isso é importante porque as mulheres têm maior probabilidade de desenvolver o mal de Alzheimer do que os homens.”

“Consideramos esses resultados não como conclusivos, mas como geradores de hipóteses”, disse Anupam B. Jena, médico que também participou da pesquisa. “Mas eles sugerem que é importante considerar como as ocupações podem afetar o risco de morte por doença de Alzheimer e se alguma atividade cognitiva pode ser potencialmente preventiva.”

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