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A psicologia do dia das bruxas: por que gostamos de sentir medo e levar sustos?

Você é daquelas pessoas que ama documentários e podcasts de true crime? Conheça os mecanismos que nos atraem para filmes de terror e experiências assustadoras

Por Bela Lobato
22 out 2024, 12h00

O medo é uma emoção fundamental para a sobrevivência humana, e embora ele esteja geralmente associado a situações de risco, muitas pessoas buscam experiências assustadoras de forma voluntária, especialmente durante o Halloween. Influenciados por tradições norte-americanas, essa é a época típica para maratonas de filmes de terror, fantasias sanguinolentas e contação de histórias de true crime.

Esse fenômeno parece contraditório à primeira vista e justamente por isso desperta o interesse de psicólogos. Afinal, em um mundo de guerras, mortes, doenças e outros horrores, por que pessoas que estão em segurança buscam por atividades que simulam o medo?

Uma explicação para essa busca pelo medo controlado está na ativação do sistema de “luta ou fuga“, uma resposta fisiológica evoluída para lidar com ameaças reais. O susto faz o corpo responder como se estivéssemos em perigo: o coração acelera, a respiração se intensifica e o corpo se prepara para reagir. 

No entanto, nesses ambientes controlados, essa reação intensa não precisa ser seguida por uma ação real. Por isso, logo em seguida o corpo libera dopamina, um neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e alívio. Essa combinação de medo e prazer pode explicar por que tantas pessoas gostam de se assustar.

Pesquisas mostram que a exposição a experiências assustadoras pode reduzir a ansiedade no longo prazo. Em um estudo, indivíduos que participaram de uma experiência de medo controlado, como uma casa mal-assombrada de alta intensidade, relataram níveis mais baixos de ansiedade após a vivência. Isso sugere que o medo controlado pode ter um efeito calmante, funcionando quase como uma catarse emocional.

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Além dos benefícios individuais, o medo controlado também pode fortalecer laços sociais. Psicólogos identificam que compartilhar experiências assustadoras com amigos ou familiares pode aumentar o senso de conexão entre as pessoas. Isso ocorre porque o medo desperta o sistema de “cuidar e fazer amizade”, um mecanismo que incentiva a criação de laços sociais em momentos de estresse

Outro aspecto é o papel que o medo pode desempenhar na preparação emocional para enfrentar situações reais de perigo. Durante o começo da pandemia de COVID-19, por exemplo, houve um aumento significativo da popularidade de filmes de terror sobre pandemias, como o filme Contágio. 

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Um estudo dinamarquês mostrou que os fãs de filmes de terror demonstraram maior resiliência psicológica durante a crise da COVID-19, sugerindo que essas obras podem funcionar como uma espécie de treino emocional, ajudando as pessoas a lidar melhor com o medo e a incerteza do mundo real.

Na prática, esse entretenimento estressante pode oferecer uma forma de controle sobre os medos mais profundos. Muitas pessoas se veem atraídas por histórias que espelham seus próprios receios, como crimes ou ameaças psicológicas, pois isso lhes permite explorar esses medos em um ambiente seguro e controlado. 

Isso é evidente no caso dos fãs de true crime, que são majoritariamente mulheres. Consumir filmes, documentários, podcasts e outras mídias que abordam detalhes de crimes hediondos exaustivamente é uma forma de preparo emocional para o mundo. Na posição de espectadores, as pessoas podem ensaiar mentalmente como reagiriam em situações semelhantes, o que pode lhes proporcionar uma sensação de preparação e controle.

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Portanto, enquanto o medo é geralmente evitado no dia a dia, ele pode ser uma fonte de prazer e autoconhecimento quando experimentado de forma segura. Seja para liberar a tensão acumulada, fortalecer laços com amigos ou preparar-se para enfrentar o desconhecido, o fascínio humano por sustos e experiências aterrorizantes parece enraizado em nossa biologia e em nossa necessidade de nos conectar com os outros.

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