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As 7 pragas do apocalipse brazuca: agora é meteoro?

A Nasa anunciou que uma bola de fogo explodiu com a força da bomba de Hiroshima, a milhas da costa brasileira. Será que o Brasil está no alvo da ira divina?

Por Denis Russo Burgierman
Atualizado em 11 mar 2024, 09h18 - Publicado em 24 fev 2016, 14h15

Atenção: este texto foi publicado em 2016.

A Nasa anunciou esta noite que um meteoro explodiu no Oceano Atlântico, a 1.000 quilômetros da costa brasileira. Foi o maior astro a atingir a Terra desde que uma bola de pedra maior do que uma casa esbofeteou a região de Chelyabinsk, na Rússia, em 2013, com a energia de 20 ou 30 bombas de Hiroshima, mandando milhares de pessoas para o hospital. Para quem gosta de filme bíblico de catástrofe, o Brasil anda mais animado que Sodoma e Gomorra – e pensar que há apenas seis anos, o país posava de foguete decolando na capa da Economist, enquanto fazia planos para ganhar o Nobel, descobrir petróleo, faturar a Copa e conquistar os mercados do mundo.

E aí? Afinal, como explicar que um país subitamente seja vítima das 7 pragas do Apocalipse? E qual é a desse meteoro? Comecemos pelas pragas:

Primeira praga: a corrupção
Em 2008, pouco depois do anúncio da imensa descoberta de petróleo no pré-sal brasileiro, bem que esta Super avisou que achar óleo normalmente prejudica mais do que ajuda os países. Governos de países muito ricos em petróleo quase sempre “não prestam contas a ninguém, roubam descaradamente, torram dinheiro público e a sociedade civil é fraca, desestruturada”, dissemos. É que petróleo é tão incrivelmente lucrativo que, normalmente, atrai uma multidão de chupins querendo tirar uma lasquinha, e esses chupins ficam tão ricos que não dão a mínima para a opinião de ninguém, o que mina a democracia. No caso do Brasil, tivemos o pior dos dois mundos: os chupins apareceram, pimpões, mas o lucro do petróleo nem chegou a jorrar direito porque as quedas dos preços internacionais deixaram o pré-sal caro demais para explorar. Não é à tôa que o foco central dos escândalos de corrupção que ameaçam dragar todos os maiores partidos políticos e quase todas as maiores empresas brasileiras, é justamente a Petrobras, por onde fluíram bilhões que deveriam financiar a exploração do petróleo.

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LEIA: 31 músicas para sobreviver ao apocalipse zumbi.

Segunda praga: a seca
Muito se fala sobre a crise de abastecimento de água em cidades como São Paulo. Pouco se fala do fato de que essa crise é muito mais ampla e afeta basicamente o Brasil inteiro. O ar amazônico está mais seco, com isso chove menos no Cerrado, o que seca o solo, reduzindo a vasão de todos os grandes rios brasileiros. Mês passado, a Folha de S.Paulo descobriu que 1 em cada 5 municípios brasileiros estava em estado de emergência ou calamidade pública, e a seca é de longe o problema mais frequente – enfrentado por 77% deles. Isso é um problemaço para o Brasil porque o país é o maior exportador de água do mundo. Quase todos os principais produtos brasileiros de exportação consomem quantidades oceânicas de água na produção: é o caso do café, soja, carne, alumínio. Tanto é assim que hoje o Brasil exporta mais água do que consome (3,5 milhões de litros por segundo exportados, contra 2,4 milhões consumidos). Se o país secar, seus cofres secam também.

LEIA: O apocalipse bíblico.

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Terceira praga: a inundação
Mas, apesar da seca, as barragens do horroroso reservatório da Samarco, em Minas Gerais, se romperam e espalharam resíduos tóxicos por milhares de quilômetros rio abaixo e mar afora. A tragédia ambiental, ainda imensurável, pode ser apenas o começo: dezenas de outros reservatórios operam pelo Brasil sob pressão de aumentar a produção e sem nenhuma fiscalização séria das autoridades locais e federais, que são dependentes demais da grana da mineração. O setor minerador do Brasil é uma imensa bomba relógio.

LEIA: Pompeia: a chuva da morte.

Quarta praga: a peste
E, se uma onda de lama tóxica não é aterrorizante o suficiente para você, que tal então comedores de cérebro que se escondem em mosquitos? Como se não bastasse nosso inferno astral, de uma hora para outra uma epidemia horrível teve origem ano passado em Pernambuco, de onde ganhou o mundo: a zika. Difícil pensar numa doença pior: um vírus sorrateiro, que quase não deixa rastro e vai saltando de humano para humano de carona num mosquito cuja população explodiu globalmente nos últimos anos, desde que as mudanças climáticas se intensificaram. Como não falta carona, o vírus vai se espalhando pelo mundo todo. Até que, quando menos se espera, ele avança e destrói o cérebro dos bebês humanos. Terrível.

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LEIA: Conexões – do Apocalipse ao Calypso.

Quinta praga: a quebra
Cada moeda no seu bolso perdeu quase 50% do seu valor (em dólar) apenas no último ano. Embora alguns brasileiros – donos de banco, em especial – lucrem alto com os chacoalhões da economia, a maioria de nós empobreceu a olhos vistos na comparação com os seres humanos de praticamente qualquer outro país do mundo. Com o swell da recessão se erguendo ameaçador no horizonte, empresas vão fechando, empregos evaporando, enquanto as nuvens do pessimismo fecham o tempo. A economia brasileira enfrenta uma “tempestade perfeita”, e a sensação é de que não tem ninguém manejando o timão.

LEIA: Como driblar o Apocalipse?

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Sexta praga: a discórdia
Aí, em meio à tragédia, o Brasil virou uma imensa arquibancada, na qual cada pessoa está convicta de estar aliada aos bons e justos, enquanto que todo mundo do lado oposto é estúpido e sanguinário. O sistema político, que havia sido desenhado para tornar possíveis soluções coletivas para os grandes problemas, tornou-se uma câmara de raiva, que se consome na disputa pelo poder e já não se importa com o mundo lá fora. Ninguém mais sabe o que quer: a única certeza é o ódio. Nenhum dos grandes partidos políticos brasileiros tem resposta alguma para as grandes questões do país (as pragas listadas acima), eles só falam do quanto o outro lado é inepto. Só o que sabemos é que nossos inimigos são cretinos. E que nós somos santos.

LEIA: E se um asteroide bater na Terra?

Sétima praga: a desesperança
Em meio à catástrofe de dimensões bíblicas, uma epidemia de desânimo está tomando o Brasil. O Facebook foi tomado por profetas do apocalipse, que decretam a impossibilidade do Brasil, enquanto arrumam as malas, convencidos de que a corrupção é um traço eterno e inescapável de nossa cultura. Ninguém vê saída para além do aeroporto.

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LEIA: Missão: desviar um asteroide.

E agora essa: um meteoro
A Nasa anunciou que o corpo que furou a atmosfera a milhas de distância da costa brasileira tinha um diâmetro de 5 a 7 metros – ou seja, era maior que um caminhão. Ela explodiu no dia 7 de fevereiro com o impacto de 13 mil toneladas de TNT, uma força destruidora equivalente à bomba de Hiroshima. Como foi sobre o oceano, a mil quilômetros das praias brasileiras, ninguém viu – soubemos da explosão 17 dias depois graças a satélites de observação meteorológica.

Mas a real é que o meteoro, por mais impressionante que a história possa parecer, não é catástrofe bíblica alguma. Cem toneladas de corpos cósmicos caem na atmosfera terrestre todos os dias. Este, como a maioria dos outros, explodiu sobre o oceano, longe de olhos humanos, sem representar perigo para ninguém. Eventos assim acontecem com frequência, a cada poucos anos – meteoros maiores, como o de Chelyabinsk, são mais raros (ocorrem a cada século, mais ou menos). Terremotos, como o de ontem no Recife, também não inspiram maiores preocupações.

E, aliás, tampouco as sete pragas descritas acima têm qualquer coisa de bíblico. Todos eles são eventos que haviam sido previstos com alguma segurança por cientistas, e cujos sinais foram em grande medida ignorados. Sabemos há pelo menos três décadas que as mudanças climáticas levariam a secas, enchentes e epidemias. Há muito tempo que os especialistas alertam também para os perigos de um modo insustentável de explorar os recursos naturais – inclusive para seus efeitos desestabilizadores para a economia e para a democracia.

O Brasil não está enfrentando a ira divina – está enfrentando as consequências das escolhas que fez.

Que aprenda a escolher melhor. Faz mais sentido do que ficar torcendo pela pontaria de meteoros futuros.

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