Charles Manson, o psicopata pop
Ele queria ser um artista famoso, mas acabou virando um dos assassinos mais infames do século 20
Era Uma Vez em… Hollywood, nono filme do cineasta Quentin Tarantino, chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (15). Apenas alguns dias depois, na segunda (19), entra no catálogo da Netflix a segunda temporada de Mindhunter. O que as duas obras têm em comum? Charles Manson.
De artista frustrado a líder de uma seita assassina, Manson foi talvez um dos criminosos mais emblemáticos do século 20. Seus crimes, praticados no final da década de 1960, chocaram os EUA e entraram no imaginário popular desde então. Carismático e persuasivo, ele transformou o seu julgamento, no início dos anos 1970, em um grande espetáculo televisionado – um dos primeiros do tipo – acompanhado por milhões de pessoas.
O caso do assassinato da atriz Sharon Tate e das outras vítimas da seita é tão marcante que é recontada até hoje, à exemplo das recentes produções, cujas versões do psicopata serão, coincidentemente, interpretadas pelo mesmo ator, Damon Herriman. A seguir, uma breve biografia de Manson.
Um retrato falado
Charles Milles Manson nasceu em 1934 em Cincinatti, Ohio, e cresceu com os tios religiosos, em McMechen, Virgínia Ocidental. Via a mãe, que o teve com 15 anos, apenas quando a visitava na prisão. Na escola, ele se metia em brigas, mentia descaradamente e tinha um interesse obsessivo por facas.
O garoto passou boa parte da adolescência em reformatórios e internatos para jovens delinquentes. Em 1955, ele se casou com Rosalie Willis e tentou levar uma vida dentro da lei. Mas logo passou a roubar carros, o que o levou para a cadeia após uma fuga mal-sucedida para Los Angeles.
Manson abusava do carisma para atrair jovens (a maioria mulheres) que pudesse seduzir e controlar facilmente. Em 1968, o grupo foi para Los Angeles e conseguiu abrigo na casa do baterista dos Beach Boys, Dennis Wilson. Ao se aproximar de um dos maiores artistas do rock da época, Manson queria emplacar suas próprias composições.
Nas celas, seu interesse por música despertou, especialmente depois que ele descobriu os Beatles. Em 1967, livre e atraído pelo movimento hippie, foi para São Francisco, onde se transformou em uma espécie de guru e deu início à sua própria seita, a “família”.
O sucesso não veio, e a “família” se mudou para uma fazenda na Califórnia. Lá, Manson praticava jogos e dinâmicas para transmitir a sua filosofia ao restante do grupo. Ele acreditava ser uma espécie de messias e que o grupo estaria a salvo de uma iminente guerra civil racial. Enquanto isso, fazia lavagem cerebral com LSD para que todos permanecessem leais e controláveis.
Os crimes da família
No meio do ano, Manson estava mais agressivo que antes, pois acreditava que um traficante que matara era membro dos Panteras Negras. Para sair do foco do grupo, ele planejou uma série de assassinatos de brancos ricos de Los Angeles. A ideia era que os crimes fossem atribuídos aos Panteras, o que culminaria em uma guerra civil racial.
O grupo se mudou novamente, agora para o Rancho Baker, no Vale da Morte, no deserto da Califórnia. Lá, Manson os isolou completamente, controlando todo o acesso ao mundo exterior (a “família” não tinha conhecimentos da Guerra do Vietnã e do movimento pelos direitos civis dos negros). Em janeiro de 1969, eles voltaram para Los Angeles, onde a paranoia do líder aumentou.
Em 9 de agosto, quatro membros da “família” invadiram a casa de Sharon Tate, uma atriz em ascensão em Hollywood e esposa do diretor Roman Polanski. Ela e mais quatro pessoas foram rendidas e mortas. Tate, grávida de 8 meses, levou 16 facadas. Seu sangue foi usado para escrever a palavra “porco”, em inglês, na porta da frente da propriedade. No total, as vítimas foram esfaqueadas 102 vezes.
No dia seguinte, a “família” rendeu Leno La Bianca, gerente de uma rede de supermercados, e sua esposa, Rosemarie. Manson ficou no carro enquanto os outros mataram o casal, cujo sangue foi usado para escrever “guerra” no corpo de Leno. Charles planejava continuar aterrorizando Hollywood. Entre suas futuras vítimas planejadas estavam o cantor Frank Sinatra e a atriz Elizabeth Taylor.
O grupo só foi preso em dezembro, e por causa de outro crime: roubo de carros. Foi assim que a polícia descobriu que a “família” havia cometido os assassinatos. No julgamento, Manson se exibia para as câmeras e se dizia inspirado por artistas como os Beatles, que teriam inserido mensagens subliminares sobre a guerra racial na música “Helter Skelter”. Em 1971 e 1977, houve novos julgamentos (e condenações) referentes a duas outras vítimas mortas em 1969.
Manson foi condenado como autor intelectual dos assassinatos. Ao todo, ele participou, direta e indiretamente, de nove mortes. Ele faleceu em 19 de novembro de 2017, enquanto cumpria a pena de prisão perpétua.