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O que leva jovens africanos ao terrorismo? Não é (só) religião

Estudo inédito mostra que a incompetência dos governos na África impacta mais no processo de radicalização de jovens do que aspectos religiosos

Por Gabriela Ruic, de Exame.com
Atualizado em 22 set 2017, 12h24 - Publicado em 22 set 2017, 12h23

Uma vida de privações e marginalização, agravada, ainda, por uma realidade em que o governo do país é fraco e protagoniza episódios de violência e o abuso de poder. É este o conjunto de fatores que vem empurrando cada vez mais jovens na África ao extremismo. Contrariando o senso comum, o apego religioso não é uma força definitiva nesta equação.

Tais constatações são fruto de um estudo inédito conduzido pelo Programa de Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (PNUD) chamado “Uma Jornada ao Extremismo da África”. A pesquisa foi divulgada no início de setembro e tem o objetivo de investigar os fatores por trás da radicalização e o processo de recrutamento da juventude.

Para tanto, foram ouvidos 495 jovens que se juntaram voluntariamente aos grupos terroristas Al Shabaab, que atua majoritariamente na Somália, e Boko Haram, cujas atividades estão na Nigéria, especialmente no estado de Borno, que fica nas margens do Lago Chade.

A análise revela que a falência dos governos africanos e a incapacidade de oferecer aos seus cidadãos uma vida plena, com empregos e oportunidades, tem contribuído diretamente para tornar o continente um ambiente propício para a radicalização.

O resultado imediato desse fenômeno é que a África hoje reúne vários dos países mais afetados por atividades terroristas em todo o mundo. Entre 2011 e 2016, a ONU estima que ao menos 33 mil pessoas tenham sido mortas nestes incidentes. O Boko Haram é o mais violento: matou ao menos 17 mil e forçou o deslocamento de 2,8 milhões de pessoas.

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Em 2017, a situação na Nigéria e na Somália segue grave: foram 44 ataques terroristas e 311 mortes em Borno e, em Mogadício, capital somali, 35 atentados deixaram 239 mortos. Embora a Nigéria seja uma das maiores economias da África, esse é um estado isolado, pobre, enquanto a Somália é um país que vive à beira do colapso.

Quem são os militantes

A pesquisa traçou o perfil do indivíduo que se envolve neste tipo de atividade. A maioria deles vem justamente de regiões fronteiriças e periféricas que governos não conseguem acessar e se consolidar. Essas pessoas vivem frustradas no desemprego, sem esperanças de melhora econômicas. 83% crê que políticos atendem aos interesses de poucos e 75% não confia neles.

No que diz respeito ao recrutamento aos quais foram submetidos, 80% dos jovens entrevistados contaram ter se juntado ao grupo terrorista cerca de um ano depois de tê-lo conhecido. Os militantes que conduzem esse processo, na África, o fazem pessoalmente, sem o auxílio das redes sociais, como o que é observado em países ocidentais.

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Os aspectos religiosos, mostra o estudo, são menos relevantes na jornada ao extremismo que a vida na miséria. Mais da metade dos participantes disseram ter se juntado a um grupo extremista por sua crença. No entanto, a maioria deles disse não entender nada sobre textos e interpretações religiosas, revelaram, ainda, sequer tê-los lido.

Neste ponto, uma descoberta surpreendente foi a de que a educação de base religiosa ajuda a fortalecer a resistência ao extremismo. “Receber pelo menos seis anos dessa educação reduz a probabilidade de uma pessoa se juntar a um grupo terrorista em até 32%”, concluiu.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Exame.com

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