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Quanto o Brasil pode perder com o escândalo da carne

Grandes importadores estão barrando as carnes brasileiras. Irregularidades em 21 dos quase 5 mil frigoríficos brasileiros podem causar um estrago bilionário

Por Pâmela Carbonari Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 mar 2017, 20h30 - Publicado em 21 mar 2017, 20h10

Na última sexta-feira, a Polícia Federal divulgou os resultados de dois anos de investigações e revelou um esquema de fraudes de fiscalização em 21 dos 4,7 mil  frigoríficos do país. Como o Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina e de frango do mundo e a carne é o terceiro produto mais exportado por aqui, os efeitos internacionais da apuração da PF foram imediatos: vários países manifestaram suas restrições, temerosos com a qualidade da carne brasileira.

A União Europeia decidiu bloquear as importações de carne oriunda de empresas investigadas. A Suíça anunciou que também vai barrar a entrada de carnes produzidas pelas empresas apontadas pela PF. Chile, Hong Kong e Egito suspenderam temporariamente a compra de carnes brasileiras. A China anunciou que não vai desembarcar a mercadoria dos portos e recomendou aos importadores que as carnes compradas do Brasil sejam mantidas em depósitos.

Se levarmos em consideração que só em 2015 exportamos para 160 países, esta lista de restrições pode não assustar. Mas estamos falando dos principais compradores do produto brasileiro, ou seja, o corte é fundo. A consultoria britânica Capital Economics estima que o Brasil possa perder US$ 3,5 bilhões em um ano se as sanções à carne continuarem por mais tempo.

Tomemos a China como exemplo: ela é a segunda maior compradora de carnes do Brasil. De acordo com informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, importou  mais de 736 mil toneladas do produto no ano passado, somando US$ 1,75 bilhão. Com Hong Kong, maior cliente de carnes do Brasil, o quadro se agrava ainda mais: eles compraram US$ 1,85 bilhão no último ano. As compras do Chile e Egito totalizaram US$ 441 milhões e US$ 692 milhões, respectivamente, em 2016.

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CARNES
(IBGE/Superinteressante)

Nessa matemática básica de açougue, sem contar os embargos de países europeus, ultrapassaríamos os US$ 4,7 bilhões de prejuízo – que, caso as restrições perdurem, correm o risco de não virem para os bolsos brasileiros em 2017.

Precaução legítima ou excesso de cuidado dos nossos compradores, o fato é que o temor com o possível rombo da Operação Carne Fraca se justifica. No último ano, exportamos 6,7 milhões de toneladas de carne que representam US$ 14,2 bilhões nos cofres tupiniquins. Outra preocupação é a de arranhar a credibilidade de um setor que emprega atualmente 7 milhões de brasileiros.

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Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) afirma que “o Brasil é reconhecido internacionalmente pela qualidade e status sanitário de seus produtos, que são auditados não apenas pelos órgãos brasileiros como também por técnicos sanitários dos mais de 160 países para os quais exporta”. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) destaca que os padrões sanitários da indústria de carne brasileira são um modelo internacional.

“Estamos em uma missão patriótica, em defesa da indústria de proteína animal, que embarca anualmente 262 mil contêineres para 160 países, gerando uma receita que representa 15% do total das exportações brasileiras”, afirma Francisco Turra, presidente da ABPA. Até a última sexta-feira, a previsão do Ministério da Agricultura era de que, dentro de três anos, a produção de carne bovina brasileira poderia suprir 48,1% da demanda mundial de carne de frango, 44,5% de gado e 14,2% de carne suína.

 

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