Ver mulheres magras muda padrões de beleza em 15 minutos
Pessoas que passaram a vida sem acesso à mídia começaram a considerar a magreza ideal após serem expostas a imagens de modelos apenas uma vez
Médicos e psicólogos são quase unânimes em criticar a magreza extrema adotada como padrão de beleza em vitrines, capas de revista e desfiles de moda – e responsável por casos de depressão, anorexia e bulimia principalmente em adolescentes de 15 a 19 anos.
O problema é que mesmo em um país como o Brasil, com taxas de pobreza e desigualdade relativamente altas, 95,1% das pessoas têm uma TV em casa. Ou seja: é quase impossível encontrar pessoas que tenham passado a vida toda alienadas – e ver se elas mudariam a opinião que têm sobre o próprio corpo depois de entrar em contato com a cultura de massa.
A oportunidade surgiu este ano em um vilarejo na isolada Costa do Mosquito, na Nicarágua; onde as casas, até então, tinham apenas algumas poucas lâmpadas acionadas por energia solar. O governo está instalando rede elétrica no local, e com ela, é claro, virão TVs e geladeiras.
O suíço Jean-Luc Jucker, da Universidade de Neuchâtel, selecionou 80 voluntários que estavam prestes a instalar aparelhos em suas casas. No computador, esses representantes da população local, que tinham entre 16 e 78 anos, usaram uma espécie de gerador de personagens do The Sims para mostrar aos pesquisadores o que eles consideravam um corpo feminino ideal. As mulheres representadas saíram mais gordinhas que os manequins considerados ideais por norte-americanos ou europeus.
Depois, o grupo foi dividido ao meio. 40 dos voluntários foram expostos a 72 imagens de modelos magras por 15 minutos. Os outros 40 viram imagens de modelos plus size pelo mesmo período. E então todos voltaram ao programa de computador. Não deu outra: os corpos ideais, dessa vez, ficaram levemente mais magros ou mais gordos de acordo com o tipo de modelo que cada pessoa tinha visto. Não se sabe se o impacto é duradouro ou momentâneo.
“É muito interessante ver que uma exposição breve e leve é suficiente para causar uma alteração notável no ideal de corpo”, afirmou à New Scientist Helen Sharpe, participante do estudo da Universidade de Edimburgo. Os pesquisadores enfatizam que a ideia não é se opor à instalação das televisões, o que sem dúvida ajudará a informar e educar a população local, mas sim alertar sobre os possíveis problemas de saúde pública que a chegada da eletricidade pode causar. Segundo o artigo científico, entre 30% e 50% das mulheres do chamado “mundo ocidental” não estão satisfeitas com o próprio corpo.