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A colonização de Marte

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h47 - Publicado em 31 dez 1988, 22h00

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

Parece evidente que, após a Lua, Marte será o segundo astro que o homem irá colonizar. Trata-se do planeta mais habitável: a gravidade é inferior à terrestre, os dias duram 30 minutos mais do que os nossos, existe grande quantidade de água estocada nas calotas polares e talvez no subsolo. Apesar do frio e da atmosfera muito tênue e rica em gás carbônico, será perfeitamente possível lá viver e trabalhar. A conquista de Marte deverá ocorrer nos primeiros decênios do século XXI, paralelamente aos grandes projetos de industrialização das regiões vizinhas à Terra: nas estações espaciais; com a instalação das primeiras bases de mineração e industrialização dos recursos naturais da Lua e de alguns asteróides; e a instalação das indústrias mais poluentes em órbita, poupando assim a atmosfera terrestre. Com as naves espaciais existentes atualmente, estima-se que as primeiras viagens a Marte deverão durar pelo menos três anos – seis meses de ida e dois anos e meio de regresso. A mecânica celeste é a responsável por este longo intervalo de tempo. Com efeito, na ida o veículo ganha tempo em virtude da velocidade da Terra em sua órbita ao redor do Sol ser duas vezes mais rápida que a de Marte. Assim, durante a volta a nave será obrigada a percorrer uma revolução e meia ao redor do Sol para alcançar a Terra. A primeira nave, ou veículo interplanetário, será constituída de três módulos idênticos, montados como os raios de uma estrela. Esse conjunto ao girar em torno de seu eixo vai criar uma gravidade artificial, um terço da terrestre. Nas proximidades do planeta, essas três naves se separam, acionando seus pára-quedas, ao penetrar na atmosfera marciana. Durante o pouso, os motores serão usados como retrofoguetes.

A primeira base em Marte deverá ser constituída de módulos semelhantes ao laboratório espacial (space-lab), que servirão de alojamento; uma central de energia solar fornecerá a eletricidade para a eletrólise da atmosfera, com o objetivo de produzir o combustível necessário ao regresso das naves; um módulo de desumidificação da atmosfera, instalado junto à base, produzirá água necessária à vida; e uma unidade de hidrocultura permitirá o cultivo de plantas. O planejamento das etapas da colonização do planeta vermelho já está bem detalhado.

O veículo interplanetário será construído em órbita terrestre, na estação espacial internacional. Simultaneamente, uma nave cargueira não tripulada será lançada em direção a Marte com equipamentos necessários para a instalação da primeira base marciana. Quando a nave tripulada estiver a caminho, uma segunda estará sendo montada na estação espacial para que haja um revezamento do pessoal que partiu primeiro. Assim, oito dos doze astronautas que haviam permanecido em Marte durante dois anos embarcam nas naves cujos reservatórios de combustível foram recarregados no próprio planeta, e voltam para a Terra.

Os quatro que ficaram em Marte deverão preparar a ampliação da base marciana com a segunda equipe. Desse modo, de dois em dois anos, a instalação original será ampliada até que veículos maiores desembarquem no planeta para deixar um maior contingente de homens, mulheres e material. Desse momento em diante, poderá se falar de uma colonização humana de Marte. Nos séculos vindouros, será a vez do sistema solar. Gradualmente, o homem deixará de ser o atual prisioneiro da Terra para se transformar num verdadeiro habitante de todo o seu sistema planetário.

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O astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico

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