CD-ROMs: formidáveis enciclopédias portáteis
Como um único CD-ROM equivale a muitos disquetes, essa nova mídia muda radicalmente o mundo dos micros e ganha mais adeptos à medida que seu preço cai
Carios Seabra
Com o aumento, cada dia mais impressionante, do tamanho do software para computador, o CD-ROM representa um formidável salto de qualidade no mundo dos microcomputadores. Com sua vasta capacidade – capaz, por exemplo, de armazenar 19 000 sinopses de filme ou criar jogos com vozes e imagens reais -,essa nova mídia acaba com a necessidade de instalar programas que ocupam dez ou quinze disquetes compactados. Mais ainda, elimina a necessidade de adquirir discos rígidos cada vez maiores, ou remover periodicamente programas pouco usados, uma estafante luta que o usuário nunca tem a satisfação de vencer.
CD-ROM quer dizer Compact Disc Read Only Memory, ou seja, um disco cuja memória, uma vez gravada, só pode ser lida; a gravação é feita na fábrica e não pode haver regravação, como se faz num disquete magnético. Fisicamente, o CD-ROM é idêntico aos CDs de áudio digitalizados. A diferença é que seus bits são interpretados como dados de computador, em vez de música.
Cada CD-ROM pode armazenar cerca de 650 megabytes de dados – o equivalente a centenas de disquetes. Não é danificado por campos magnéticos. Poeira e outras sujeiras são facilmente removidas, sem danos. No entanto, os CD-ROMs são de dez a vinte vezes mais lentos do que discos rígidos.
Para os produtores e vendedores de software, o CD-ROM impõe uma nova lógica ao mercado: a pirataria torna-se impossível. Ou melhor, impraticável, pois embora se possa copiar qualquer conteúdo de um CD-ROM, o custo disso só se justifica para pequenos arquivos (copiar um CD-ROM para o winchester significa ter um disco rígido que sairia várias vezes mais caro que um único CD-ROM).
Velocidade do drive é essencial
Para usar CD-ROMs em seu computador, você necessita instalar um drive, isto é, uma leitora de CDs especial para micros. Esse drive pode ser externo ou interno – quando é instalado no lugar de um dos drives para disquetes de 5¼ polegadas. Existem diversas marcas no mercado, mas o mais importante é saber que, com alguns tipos de leitora, não se podem usar programas multimídia devido à baixa velocidade de acesso. Deve-se verificar a compatibilidade com o padrão MPC – caso contrário, só se poderão ler textos. Não será possível, por exemplo, rodar animações gráficas com a velocidade adequada. Além do drive, instala-se uma placa de som, em geral a SoundBlaster, mas existem outras. Sem isso, muitos programas não funcionam, ou perdem boa parte da atração. Um par de pequenas caixas de som, especiais para o uso em micros, completa o conjunto. Os equipamentos podem ser adquiridos em separado, ou em kits completos, que incluem alguns programas.
Outra diferença entre os vários tipos de leitoras de CD-ROM é a sua compatibilidade com o PhotoCD – discos criados pela Kodak, para armazenar até 100 fotos digitalizadas a partir de filmes comuns de 35 milímetros. Com essa notável tecnologia, podem-se gravar fotos em um CD-ROM virgem. A gravação pode ser feita aos poucos, caso se queira, com um detalhe: depois de feita, ela se torna permanente.
Mas apenas alguns drives conseguem ler os filmes. Vários são incapazes disso e outros conseguem ler apenas a primeira faixa (algo equivalente à primeira “revelação”). Além de programas de computador, os drives de CD-ROM também podem reproduzir CDs de áudio. Ouve-se música ao mesmo tempo que se usa o computador, seja como processador de textos ou o que for. Há programas que controlam a audição de CDs de áudio, e mantêm nomes dos discos e das músicas em arquivo.
Sons dos bichos e discursos de Lênin
Os títulos no mercado abrangem hoje todos os gêneros de software. É claro que os programas existentes no formato de disquete apresentam diferenças notáveis na sua versão em CD-ROM. Com centenas de megabytes à disposição, os programas dão um salto de qualidade que até se poderia esperar, mas que espanta.
Assim, o conhecido pacote gráfico Corel Draw traz em versão CD-ROM cerca de 18 000 cliparts (imagens e símbolos) e 750 fontes de letras, além de dezenas de filtros, centenas de texturas e animações, e um conjunto completo de ferramentas auxiliares.
Para os amantes da música, a Microsoft lançou três produtos que reúnem toda a qualidade do som digital com a interatividade da informática: Beethoven, Mozart e Stravinsky. Caso se queira, com um clicar do mouse, em qualquer parte da obra se pula da audição para textos e fotos com comentários sobre o autor e a composição. Podem-se ouvir separadamente os instrumentos tocando trechos específicos ou consultar um dicionário musical.
Já a Compton’s NewMedia lançou o seu Jazz: a Multimedia History, uma enciclopédia do jazz que permite navegar através dos textos ouvindo trechos musicais, acionando símbolos de alto-falante que aparecem ao lado das ilustrações de partituras. O mais interessante desse CD-ROM é ver e ouvir clássicos do jazz, como Louis Armstrong, Billie Holliday ou Miles Davis, em clips musicais com até 5 minutos de duração.
As enciclopédias, certamente, estão entre os produtos com maior tendência a se multiplicar na nova mídia. A facilidade de consulta é muito maior, como é maior o número de dados disponíveis. A Multimedia Encyclopedia, da The Software Toolworks, reúne o equivalente a 21 volumes de papel num único CD-ROM – contendo 33 000 verbetes, com mais de 3 000 ilustrações. O mais interessante são as animações que mostram desde o sistema solar até o corpo humano; os sons de animais, instrumentos musicais e discursos famosos. Assiste-se a cenas históricas do revolucionário soviético Lênin, do líder negro americano Martin Luther King, ou os primeiros passos do homem na Lua.
A Microsoft já lançou a edição 1994 da Encarta, uma enciclopédia multimídia que inclui trechos de linguagem digitalizada de 60 idiomas, cerca de 800 mapas, incluindo as principais cidades do mundo, mais de 100 filmes de vídeo e oito horas de sons digitalizados.
Para os fãs da sétima arte, Cinemania, também da Microsoft, traz mais de 19 000 sinopses de filmes e cerca de 4 000 biografias de diretores e artistas. A edição de 1994 traz também vinte trechos de filmes – e não fotogramas isolados -, cuja ausência era a grande queixa com relação à edição anterior. Traz também trechos de áudio de mais de 100 filmes.
No próximo mês a Editora Abril colocará no mercado um dos primeiros CDROMs inteiramente produzido no Brasil: a edição completa do Almanaque Abril, enriquecida com tudo aquilo a que a nova mídia dá direito: muitas fotografias coloridas, música e animações. Jogos: mais vida e realismo
Muitos jogos existem apenas em CD-ROM devido à alta qualidade: o uso intensivo de vozes digitalizadas e imagens reais exigem grande memória. E cada vez mais os jogos incorporam técnicas e profissionais do cinema, como é o caso do excelente Sherlock Holmes Consulting Detective, um CD da ICOM com cenas filmadas com atores profissionais. Just GrandMa and Me é diferente: é um “livro vivo” da Broderbund, em que a criança não apenas vira as páginas na tela, como explora cada detalhe do desenho com o cursor, via mouse. Os desenhos adquirem vida, tocam música e falam.
Loom, da LucasArts, de grande originalidade e beleza quase poética, leva o jogador a aprender encantamentos e magias por meio de notas musicais tocadas num cajado mágico. A qualidade da digitalização das vozes e do som é muito superior à média. Maniac Mansion 2: Day of the Tentacle é uma aventura bem-humorada onde os personagens lutam contra o tentáculo púrpura, mutante de um certo Dr. Fred.
Desenho de primeira qualidade, que lembra o expressionismo alemão no cinema. As vozes são reais e as palavras aparecem também por escrito (o que ajuda no aprendizado do inglês). Indiana Jones and the Fate of Atlantis é diversão garantida. Também da LucasArts. A ação faz o jogador mergulhar no mundo do filme como se fosse real. Existem três caminhos possíveis para o jogo, todos iguais no início, convergindo no final: o modo “raciocínio”, onde o jogador deve usar a cabeça; o modo “‘equipe”, em que Indiana tem a companhia de uma parceira, Sophie; e o modo “punhos”, onde os confrontos são resolvidos como se pode imaginar.
A maioria dos CD-ROMs custa em torno de 50 dólares, a menos que sejam softwares mais valiosos. Mas o preço nunca supera o da versão em disquete em muito mais de 10 dólares. Diversas lojas oferecem títulos do exterior. Pelo telefone (011) 725-3711. a Brasoft indica a revenda mais próxima dos produtos que distribui.
Revistas, jornais e livros digitais
Outra tendência é o surgimento de um novo tipo de publicação periódica: a revista eletrônica. A publicação americana Newsweek acaba de lançar seu primeiro número multimídia em CD-ROM, inaugurando o que está sendo chamado de jornalismo digital”. Editada em conjunto com a software-house The Software Toolworks, chama-se Newsweek Inter Active e reúne características de revista com televisão e rádio. Além de textos e fotos, traz diversos vídeos e cerca de 4 horas de áudio. Cada edição contém o equivalente a 12 edições regulares, mais centenas de artigos do jornal The Washington Post. Cada exemplar custa US$ 50. Assinaturas podem ser feitas diretamente pelo telefone 1-800-634-6850 (nos Estados Unidos) ou junto à The Software Toolworks: 60 Leveroni Ct., Novato, CA 94949, (415) 883-3000 USA.
Mas a primeira publicação com periodicidade regular em CD-ROM foi a Nautilus, que hoje alcança a cifra de 10 000 assinantes, metade fora dos Estados Unidos. O cardápio inclui artigos, filmes e animações, sons e músicas, jogos e instruções animadas sobre aplicativos, e outros programas. A Nautilus é editada em duas versões, uma para a plataforma Macintosh e outra para Windows. A assinatura anual para o Brasil, com 12 edições, já incluido o frete aéreo, custa 222 dólares. Solicitações: 7001 Discovery Boulevard, Dublin, OH 43017-8066, (614) 766-3165, USA. Ou. por computador e modem, via Internet: 75140.2712® compuserve.com.
A área editorial, após lançar vários livros contendo disquetes, começa agora a incorporar o CD-ROM como complemento de algumas obras. Além dos importados, saíram dois livros em português: PC Vídeo Extravagâncias!, de Ron Wodaski, e Multimídia Para Novos Usuários, de Linda Tway, ambos da Berkeley Brasil Editora. O primeiro traz em CD-ROM uma edição especial da Nautilus, cheia de vídeos e outros materiais multimídia – uma boa oportunidade para conhecer aquela publicação eletrônica. O segundo poderia oferecer o conteúdo do CD-ROM em disquetes que não faria diferença: 99% do CD não é utilizado (todos os arquivos juntos ocupam 4,5 me-gabytes). Pior ainda: como todos os arquivos vêm compactados obriga o usuário a descompactá-los para o disco rígido, ocupando espaço precioso.
Boa parte dos CD-ROMs disponíveis são coleções de software e coletâneas de imagens e sons. Shareware Extravaganza, por exemplo, é um denso conjunto de CD-ROMs repletos de programas compactados – o total de 25 000 arquivos, após a descompactação, ocuparia 5 gigabytes de espaço. São quatro discos em embalagem dupla ao custo de apenas 60 dólares. Também há dezenas de títulos contendo, em cada CD, centenas de fontes de letras ou alguns milhares de desenhos prontos para serem usados, músicas em diversos formatos, filmes de animação ou vídeo.