Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Como uma sequência de remendos pode ter tornado o 737 MAX perigoso

Adaptação em avião do século passado pode estar por trás de dois acidentes idênticos

Por Rodrigo Ribeiro, da QuatroRodas
Atualizado em 17 mar 2019, 14h04 - Publicado em 15 mar 2019, 21h20

O Boeing 737 é o avião mais bem-sucedido da história. Desde seu lançamento, em 1967, foram construídas mais de 10,4 mil unidades. Durante esse tempo, a empresa norte-americana foi aperfeiçoando o avião para torná-lo mais eficiente sem que fosse necessário reprojetar toda a fuselagem – o que sairia muito mais caro.

Quando a Boeing desenvolveu o 737, seus dois motores eram pequenos. Isso permitia que o avião tivesse trens de pouso curtos, o que reduz os custos de operação e manutenção. Só que, com o tempo, foi necessário colocar motores mais eficientes (e bem maiores).

Com motores mais altos, o avião inteiro precisou subir. O que significou instalar trens de pouso mais altos. Para isso, foi necessário reprojetar toda a estrutura que sustenta a aeronave quando ela está no solo. Para dar uma ajudinha, a Boeing moveu os fios e equipamentos que costumavam ficar instalados ao redor do motor para outras partes da fuselagem do avião – o que rendeu o visual “amassado” que os motores dos 737 modernos têm.

No entanto, quando a Boeing desenvolveu a última geração do avião (batizada de “MAX”), os motores cresceram tanto que remanejar os equipamentos em torno deles não era mais suficiente. Então, a empresa resolveu colocá-los alguns centímetros para frente da asa – e, com isso, deixá-los levemente mais altos.

O truque funcionou, mas engenheiros detectaram que isso fazia com que avião tivesse uma pequena tendência de elevar o nariz sem que os pilotos precisassem tocar nos comandos. Em certos casos – sobretudo durante as decolagens –, essa situação poderia fazer com que o 737 perdesse sustentação (estol) e caísse.

Continua após a publicidade

Por causa disso, a Boeing incluiu no 737 MAX um software chamado MCAS (sigla para sistema de ampliação de característica de manobra, em inglês). Ao detectar o risco de estol, o MCAS altera o ajuste de uma peça chamada trim para abaixar o nariz do avião e manter a sustentação.

Foi aí que começou a sequência de erros da Boeing. O primeiro é que o MCAS não dá nenhum alerta na cabine de que entrou em ação. E o ato dos pilotos puxarem o manche (o que faz com que o avião volte a subir) não inibe o funcionamento do software de correção. A cereja do bolo: a Boeing não avisou aos seus clientes da existência do MCAS, e não incluiu os procedimentos de inibição do software no manual de operação do 737 MAX.

Tudo isso começou a vir à tona quando um 737 MAX 8 da Lion Air com apenas dois meses de uso caiu em outubro passado próximo a Indonésia, matando todos os seus 189 ocupantes. O acidente ainda está em investigação, mas uma falha do MCAS entrou na lista de suspeitas pela queda.

Continua após a publicidade

A situação em piorou em março, quando outro MAX 8, da Ethiopian Airlines, caiu em Addis Ababa e levou consigo 149 vidas. O acidente foi idêntico ao de 2018, com o avião colidindo poucos minutos após ter decolado da capital etíope.

Muitos especialistas creem que, em ambas as situações, o MCAS pode ter entendido que o avião estava em risco de estol e entrou em ação sem alertar os pilotos, fazendo com que o 737 apontasse em direção ao solo.

A China resolveu não esperar o fim da investigação e suspendeu os voos do 737 MAX em seu território, sendo seguida por outros países asiáticos e a União Europeia. Três dias depois, a pá de cal: a Boeing, em acordo com a FAA (Administração de Aviação Federal dos EUA), resolveu solicitar a seus clientes que todos os aparelhos MAX não voassem até que as causas dos acidentes fossem esclarecidas.

O resultado imediato foram queda nas ações da Boeing, que também pode ser impactada com a perda de confiança do consumidor e até cancelamento de pedidos do 737 MAX. Ao final de 52 anos de história, talvez a Boeing finalmente desista de continuar fazendo atualizações constantes em seu mais importante avião.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

A ciência está mudando. O tempo todo.

Acompanhe por SUPER.

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.