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Esse robô é controlado por um cogumelo. Entenda como.

O androide biohíbrido se movimenta de acordo com os sinais elétricos emitidos pelo fungo. Assista ao vídeo.

Por Maria Clara Rossini
14 set 2024, 19h00

Não sabemos se androides sonham com ovelhas elétricas, mas agora descobrimos para onde um robô biohíbrido caminha quando tem pernas. Cientistas da Universidade Cornell (EUA) e Universidade de Florença (Itália) deram membros à espécie de fungo Pleurotus eryngii, também conhecida como “king oyster mushroom” ou shimeji rei. Trata-se de um cogumelo comestível nativo da Europa, Oriente Médio e norte da África.

Assim como os neurônios humanos, as células dos fungos emitem sinais eletroquímicos entre si. Essas células formam as hifas, que por sua vez viram uma trama complexa com milhões de conexões chamada micélio. A maior parte dele fica debaixo do solo em que o fungo se instalou.

Os pesquisadores cultivaram micélios de Pleurotus eryngii na parte elétrica de um robô flexível com cinco pernas, que se assemelha a um polvo. Esse androide híbrido se move de acordo com os pulsos elétricos do micélio, podendo contrair ou relaxar os membros. Dá uma olhada:

https://www.youtube.com/watch?v=5ZkkaM54RH8 

O vídeo mostra o robô se mexendo repetidamente após os cientistas jogarem luz UV sobre ele. Os fungos se dão melhor em cantinhos escuros, o que explica a reação da máquina à exposição solar. A pesquisa foi publicada no periódico Science Robotics

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Em outro experimento, o fungo foi acoplado a um veículo de quatro rodas. O carrinho andava para frente de acordo com os sinais elétricos emitidos pelo micélio.

O sistema consiste em uma interface elétrica que armazena e processa a atividade eletrofisiológica do micélio em tempo real, e um centro de controle. O sistema lê e processa os sinais elétricos do micélio para identificar os picos de atividade, e então converte essa informação para o centro de controle. No fim, isso traduzido em movimentos no robô.

Os pesquisadores planejam usar esses robôs para monitorar as condições do ambiente – por exemplo, em uma plantação. Os fungos são sensíveis não só à exposição solar, mas também a sinais químicos. Se o micélio estiver no solo, ele pode indicar quando a plantação precisa de mais fertilizante.

“Esse estudo é o primeiro de muitos que usarão o reino fungi para fornecer sensoriamento ambiental e comandar sinais para robôs melhorarem seus níveis de autonomia”, disse o pesquisador Rob Shepherd em comunicado

A ideia de incorporar uma forma de vida aos robôs não é nova. A vantagem de usar fungos em um androide é que eles respondem a diversos estímulos. Um sensor comum responde a apenas um input – por exemplo, a radiação solar. Já o fungo manda sinais eletroquímicos em resposta à luz, toque, moléculas, calor, entre outros. Além disso, os fungos são resilientes a condições extremas, como baixas temperaturas e altos níveis de radiação.

“Se quisermos construir robôs do futuro, como eles podem funcionar em um ambiente inesperado?”, diz o pesquisador Anand Mishra em comunicado. “Podemos aproveitar esses sistemas vivos, e se qualquer estímulo desconhecido aparecer, o robô irá responder a ele”.

Para construir esse tipo de robô, é necessário conhecimento não só de engenharia mecânica e eletrônica, mas também de micologia e neurobiologia. Seis pesquisadores de áreas interdisciplinares participaram do estudo.

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