Eta Carina, a miss Galáxia
Ela é a estrela que emite mais energia em toda a Via Láctea ¿ uma espécie de top model da pesquisa astronômica atual.
João Steiner
A estrela Eta Carina, como diz o nome, situa-se na pouco conhecida Constelação de Carina. Mas é um dos astros mais intrigantes já vistos no Universo. Em meados do século passado, Eta Carina passou, de uma hora para outra, de um ponto ínfimo de luz para o segundo lugar em brilho em todo o céu (só perdendo para a estrela Sírius, que fica bem mais perto da Terra). Depois, ela voltou a ser pouco reluzente. Os astrônomos começaram a vigiá-la com persistência. Descobriram que se trata da estrela mais luminosa e também de maior massa entre as 100 bilhões que compõem a Via Láctea. Ou seja, se existisse um título de “Miss Galáxia”, Eta Carina o mereceria facilmente.
Discutiu-se muito tempo qual seria o valor real da massa dessa estrela. As especulações indicam que ele deve estar entre 100 e 120 vezes a massa do Sol. Mas a dúvida persiste, e não é a única a respeito do astro gigante. Não se sabe por que ele está associado a uma imensa e estranha nuvem de poeira e gases à sua volta, nem por que seu brilho oscila a intervalos mais ou menos regulares. Uma das poucas certezas, nesse campo, é que se trata de um corpo celeste muito peculiar e que estudá-lo é muito importante para compreendermos melhor como as estrelas nascem, evoluem e morrem.
O telescópio Hubble produziu, recentemente, uma imagem fabulosa de Eta Carina, umas das mais lindas de sua extensa coleção. Mas o Hubble pouco contribuiu para elucidar os enigmas da estrela.
Então, foi uma surpresa o anúncio de que a descoberta mais importante já realizado sobre Eta Carina coube a um astrônomo brasileiro, Augusto Damineli Neto, usando um telescópio de tamanho modesto, o do Laboratório Nacional de Astrofísica, o LNA, situado em Brasópolis, no sul de Minas Gerais. Analisando atentamente os dados que havia coletado ao longo dos anos no LNA, Damineli chegou à conclusão chocante de que Eta Carina não era uma, mas sim duas estrelas. Trata-se um sistema binário, no qual dois astros dançam um em torno de um centro comum, chamado centro de massa. Damineli estimou que a dupla leva 5,52 anos para completar uma órbita inteira. Também previu que uma das estrelas sofreria uma diminuição brusca de brilho, em 10 de dezembro de 1997. Essa previsão – comprovada na data certa – entusiasmou os especialistas, que tinham feito até apostas de muitas garrafas de vinho sobre se seria confirmada ou não.
João Steiner é professor de Astrofísica do Instituto Astronômico e Geofísico da USP