Mark Zuckerberg está processando centenas de vizinhos no Havaí
Depois de pagar 100 milhões por terreno do tamanho de um bairro, o fundador do Facebook está processando herdeiros que têm direito a partes da área comprada
Fato irônico do dia: Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, é muito preocupado com sua privacidade. Tão preocupado, de fato, que após comprar um terreno de 2,8 quilômetros quadrados na ilha de Kauai, no Havaí — área equivalente à do bairro de Pinheiros, em São Paulo, ou três vezes o bairro da Graça, em Salvador —, ele está processando todo mundo que mora no pedaço.
O lote de terra, adquirido em 2014, custou 100 milhões de dólares e veio com um problema de brinde: em uma parte dele, os vizinhos podem entrar sem autorização do dono. A razão é uma questão legal e histórica de mais de um século.
Entre 1850 e 1855, a região da ilha de Kauai que agora servirá de refúgio a Zuckerberg foi parcelada e concedida a pequenos agricultores nascidos no próprio Havaí. Para garantir que a medida de distribuição de terra fosse respeitada, as autoridades da época determinaram que a posse seria hereditária e que essas áreas não poderiam ser vendidas nem por vontade da família do dono original. O tempo passou e essa espécie de reforma agrária parou de dar frutos: hoje, várias dessas áreas são improdutivas e muitos herdeiros sequer sabem que têm direito sobre elas.
Ou seja: é pouco provável que algum estranho seja pego fazendo um churrasco no quintal do milionário. Mas, pelo menos em teoria, não há nada que impeça algo do tipo. Para conseguir de vez a posse do local, Zuckerberg entrou em contato com especialistas na história do Havaí para traçar a árvore genealógica dos donos originais e encontrar seus herdeiros vivos, e sua equipe de advogados foi atrás de uma brecha legal que permita que eles vendam suas terras para ele.
O dinheiro investido deu retorno: o CEO descobriu que se a justiça provar que as propriedades são improdutivas, elas serão postas em leilão aberto ao público independente de sua situação legal anterior. Pelo menos oito terrenos que estão na mira do fundador do Facebook se encaixam nessa categoria.
Um caso particular foi destacado pelo jornal local The Garden Island: o de Manuel Rapozo. Em 1894 o homem, dono de quatro parcelas de terra, fechou um contrato de locação financeira com a empresa Kilauea Sugar Plantation, que passou a explorar sua propriedade. Ele morreu sem deixar testamento, e 80% de seus herdeiros, que são mais de 150 pessoas, não fazem a menor ideia de quem tem direito, cada um, a 1% ou até 0,25% da área, que hoje vale 1,1 milhão de dólares. Todos precisarão ser encontrados e chamados para os leilões, e todos receberão alguns milhares de dólares para garantir a integridade do humilde quintal de Zuckerberg. Trabalho para um pequeno exército de advogados.
Em seu perfil no Facebook, o bilionário deu sua versão dos fatos: “ninguém será expulso da terra. A maior parte dessas pessoas vai receber dinheiro por algo que nem sabiam que tinham. Nós amamos o Havaí e queremos ser bons membros da comunidade”. Apesar das objeções éticas, as centenas de processos que foram abertos realmente não geraram nenhum atrito grave com as famílias do local.
Não é a primeira vez que ele gasta uma quantidade descomunal de dinheiro para sair do radar. Após comprar sua casa “titular”, uma propriedade de 7 milhões de dólares em Palo Alto, na Califórnia, ele também comprou as quatro casas vizinhas. Sua ideia era demolir todas e construir versões menores, com as janelas posicionadas de tal forma que fosse impossível observar qualquer canto de sua propriedade. Depois, ele decidiu que era mais fácil simplesmente manter as casas e anexá-las às suas posses. As autoridades locais precisaram lembrar o bilionário que as leis de zoneamento e o plano diretor do local não permitiriam tanta ostentação.