Órion, o caçador das noites de verão
Constelação que inclui as populares estrelas Três Marias aparece bem nas noites de verão.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
As noites quentes de verão têm um atrativo especial no Brasil. Devido à inclinação da Terra, nesta época, a mais bonita constelação no céu – Órion – coloca-se exatamente sobre o equador celeste. Isso significa que esse faiscante conjunto de estrelas – entre as quais figuram as populares Três Marias – aparece bem diante da vista, a meio caminho do horizonte e o alto do céu. Por ser tão fácil de achar, é um bom alvo para quem está começando a deslindar os segredos e as maravilhas da Astronomia. A constelação contém sete estrelas principais: quatro delas formam um retângulo em cujo centro situam-se as Três Marias. De acordo com a descrição dos antigos, o retângulo representava o corpo do mitológico caçador Órion, e as Três Marias era o seu cinturão.
Além disso, a região é densamente povoada por objetos, como a Grande Nebulosa de Órion, uma imensa nuvem de gás em expansão. Trata-se de um dos raros fenômenos desse tipo que se podem ver – ainda que francamente – a olho nu. Observada com um telescópio, ou mesmo com um binóculo, ela toma a forma de uma mancha difusa, de intensa coloração verde-azulada (muitas fotografias mostram-na com outras cores, mas tal efeito é artificial). Sua luz fria, do tipo fluorescente, é emitida por gases energizados por estrelas jovens e quentes – especialmente as do Trapézio, um grupo de seis pares de astros, reunido bem no centro da nuvem. Com um pequeno telescópio, não é difícil encontrá-lo.
A Grande Nebulosa situa-se logo acima das Três Marias, cujas estrelas têm os nomes árabes de Mintaka (a da esquerda), Alnilam (do meio) e Alnitak. Essas posições estão invertidas, no mapa, porque o desenho tradicional das constelações foi feito pelos povos do Hemisfério Norte: no Hemisfério Sul, as figuras parecem estar de cabeça para baixo. Alnitak é um astro do tipo gigante, situado a uma distância de 1 108 anos-luz (um ano-luz mede aproximadamente 10 trilhões de quilômetros). Alnilam, distantes 1 206 anos-luz, era, para os árabes, a “pérola” de Órion, e merece, com certeza, essa designação. Mintaka, finalmente, é um tipo raro de estrela e desdobra-se em um interessante sistema duplo, quando visto através das lentes.
A estrela mais brilhantes de Órion, situada abaixo e à direita da Três Marias, é Betelgeuse, uma supergigante vermelha (cujo diâmetro é 250 vezes maior que o do Sol). A segunda em fulgor é Rigel, diagonalmente oposta a Betelgeuse na Constelação. Ao contrário da primeira, é azul, quase branca, e relativamente quente: tem uma temperatura superficial de 13 500 graus, contra os 5 500 do Sol. Como Mintaka, vista ao telescópio, desdobra-se em um sistema duplo. Fechando o retângulo, vê-se Belatrix, no canto inferior esquerdo, e, na ponta superior, Saiph. Esta última, apesar de comparativamente pálida, é, na realidade, um sistema triplo que orbita em torno de um centro comum.
Não muito distante de Órion, vê-se outra constelação de destaque nas noites de verão – o Cão Maior. Sua estrela mais importante é Sírius, a mais brilhante do céu e a sexta mais próxima do Sol (está a uma distância de 8,5 anos luz). Por ser fácil de encontrar ajuda a achar objetos interessantes nas vizinhanças: por exemplo, as sete estrelas dispostas em semicírculo, junto a Wezen, a Delta do Cão Maior.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo e membro da União Astronômica Internacional
Eventos do mês
Meteoros
Dia 16 por volta das 4h da madrugada, ocorrerá a máxima atividade dos Conona Australídeos, com uma freqüência de oito meteoros por hora. Em seguida vêm os Gama Normídeos, cujos rastros amarelados originam-se entre Constelações do Escorpião, Altar, Lobo e Triângulo. Com taxa horária de 10 meteoros, aparecerão as 4h. A partir do dia 20, até 13 de abril, haverá chuvas do Delta Pavonídeos, com taxa variável. São meteoros rápidos que deixam rastros. Dia 24, os Alfa Corvídeos cairão com taxa de 10 meteoros, às 2h. Dia 30, será vez dos Alfa Virginídeos, com taxa de 5 meteoros. Evitar luzes ofuscantes, na cidade, é o cuidado mais importante a tomar, quando se quer observar meteoros.
Lua do Outono
Março e Abril são meses em que a Lua nasce logo depois do pôr-do-sol e fornece algumas horas extras de luz, à noite. Esse Fenômeno, tradicionalmente, permite aos agricultores estenderem a colheita até mais tarde. Ele ocorre próximo à transição entre o verão e o outono, denominado equinócio, que será dia 20, às 18h19. Nessa data, o dia e a noite terão exatamente a mesma duração. Em vista desses fatos, a primeira Lua cheia desse período costuma ser chamada Lua do Outono, ou Lua da Colheita.
Fases da Lua
Quarto minguante, dia 8, 7h32;nova, dia 16, 5h10; quarto crescente dia 23, 3h03; cheia, dia 30, 4h17; a luz cinzenta poderá ser observada entre os dias 16 e 18.
Planetas
Mercúrio: pode-se observá-lo logo após o pôr-do-sol, ao longo do mês (magnitude -1,1. Comparar com a magnitude de Sírus, a estrela mais brilhante do céu -1,46. Quando menor, ou mais negativa a magnitude, maior o brilho).
Vênus: será visível ao anoitecer, desde o fim da tarde até as primeiras horas da noite (magnitude -3,4).
Marte: estará visível logo após o pôr-do-sol, junto à Constelação do Touro (magnitude +0,9).
Júpiter: não será difícil encontrá-lo junto a Constelação de Câncer, pois, nesse período será o astro mais brilhante do céu (magnitude -2).
Saturno: aparece pouco antes da aurora, junto à Constelação do Sagitário (magnitude +0,9).
Urano: visível, com luneta, pouco antes da aurora, junto ao Sagitário (magnitude +6,1).
Netuno: visível, com luneta, pouco antes da aurora, junto ao Sagitário (magnitude +7,8)
A Lua é um dos melhores pontos de referência para localizar os planetas. No dia 10, Unano e Netuno estarão ao Sul da Lua; No dia 12, Saturno e Mercúrio estarão ao Norte; no dia 18, Vênus, estará ao Norte; no dia 22, Marte estará ao Norte: no dia 25, Júpiter estará ao Sul.