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Plutão: o rei dos anões

Após passar dois séculos e meio na fronteira com as estrelas, Plutão está agora ao alcance de uma nave terrestre. Ela poderia investigar a nova hipótese de que o mais estranho mundo da corte solar faz parte de uma família de não descobertos.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h31 - Publicado em 31 dez 1992, 22h00

Menor do que a Lua e feito de gelo como um cometa — mas de tamanho desproporcional e aparentemente fora do lugar —, Plutão não é apenas o mais distante e o menos conhecido dos planetas. Talvez nem deva ser chamado por esse nome, é o que começam a pensar alguns astrônomos. “Seu tamanho e sua órbita sugerem que Plutão é um desajustado”. diz o planetologista Alan Stern do Instituto de Pesquisa do Sudoeste. Texas. Estados Unidos. “Ele desafia a visão convencional sobre a arquitetura do sistema solar.” Stern ensina que a teoria prevê o nascimento de dois tipos de planeta. O primeiro inclui os mundos rochosos, próximos do Sol: Terra, Marte, Vênus e Mercúrio. O segundo inclui os gigantes de gás: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Estes também têm um núcleo rochoso, mas ínfimo, comparado às imensas atmosferas.

Mas Plutão é inexplicável. Um pequeno exemplo das dúvidas que suscita: se ele nasceu tão distante do Sol, porque não conservou a massa externa de gás, como seus formidáveis vizinhos? Entende-se que os planetas centrais tenham perdido a maior parte da atmosfera — o vigoroso vento de partículas emitidas pelo jovem Sol deixou-os quase carecas. Mas Plutão vagueia a salvo de qualquer turbulência. Em boa parte de sua órbita, está a mais de 7 bilhões de quilômetros do Sol (sua distância média é de 4,6 bilhões de quilômetros). O mais interessante remendo para esse tipo de enigma é supor que alguns planetas nunca passaram da fase de embrião — deixaram de crescer há mais de 5 bilhões de anos, quando ainda estavam acumulando bolotas de gelo e poeira, a matéria-prima dos mundos. Alguns corpos — como os cometas — teriam sido flagrados pela ignição do vento solar e acabaram varridos com atmosfera e tudo para longe do local em que se desenvolviam.

Talvez esse raciocínio valha também para corpos maiores que os cometas, anima-se Stern. Nesse caso, é possível que se descubra até uma dezena de Plutões escondidos na periferia do sistema solar. Uma visita a essa região teria que ser preparada de imediato. Em 2001 e 2003, por exemplo, Júpiter estará entre a Terra e Plutão — assim, a atração de sua gigantesca massa pode ser usada para acelerar a nave numa longa viagem de doze anos através do vazio. Em 2013 haverá outra “janela” gravitacional desse tipo, diz o astrônomo Ken Croswell, de Berkeley, Estados Unidos. Mas então será tarde para observar sua desconhecida atmosfera, que deve estar congelada em 2020, antes da chegada da nave (o curioso ar de Plutão é conversível: a certa distância do Sol, o frio reduz seu volume até solidificá-lo sobre a superfície). Nenhum telescópio, nem mesmo o Hubble, pode discernir a superfície de Plutão (detectou-se metano gelado, mas ela também pode conter nitrogênio e CO2 ).

Se for posto em prática e funcionar, o plano de vôo deverá levar a nave a apenas 3 000 quilômetros da superfície. E o suficiente para obter fotos tão boas quanto as que se tem de Marte, por exemplo, mas também para capturar gases da atmosfera e depois analisá-los a bordo. Plutão passou os últimos dois séculos e meio a distâncias inacessíveis, junto ao vazio interestelar, mas sua exótica órbita o trouxe a 5,9 bilhões de quilômetros — mais perto do Sol do que Netuno. Em 1990, ele chegou ao ponto mais próximo do Sol e começou lentamente a se afastar e em 1999 já terá passado além de Netuno. Para os astrônomos seria uma pena se a crise econômica roubasse a verba necessária para se aproveitar essa rara oportunidade. Os projetistas da NASA, agência espacial americana, acham que podem reduzir custos lançando duas naves simples (uma delas seria dirigida a Netuno). Elas poderiam ser lançadas até 1998 e chegar ao destino, no mais tardar, dentro de mais sete ou oito anos. Apesar de modesto, o vôo valeria a pena, disse em entrevista recente o chefe da missão, Robert Staehle, do Laboratório de Jatopropulsão, na Califórnia. “Já visitamos oito dos nove planetas e é hora de completar o trabalho.

“As expectativas cresceram há alguns meses com a descoberta de um possível parente de Plutão: um objeto designado 1992 QB1, o mais distante membro do sistema solar. A cerca de 7,5 bilhões de quilômetros, acredita-se que ele se encontra no hipotético cinturão de Kuiper, um dos dois reservatórios de cometas (o outro é a nuvem de Oort, a bilhões de quilômetros do Sol). Há muitas lacunas nas novas idéias. Por exemplo: com seus 200 quilômetros de diâmetro, o 1992 QB1 é muito maior que um cometa (cujo diâmetro é de 10 quilômetros, ou menos).

Por outro lado ele é bem menor que Plutão, cujo diâmetro é de 2 300 quilômetros. Além disso, Plutão contém mais rochas do que se supunha: elas são 75% de sua massa, contra 25% de gelo e pó. É o que indica a mais recente medida feita por uma equipe do Laboratório de Jatopropulsão, que pela primeira vez avaliou a massa de Caronte, um satélite de Plutão descoberto em 1978. As incertezas, no entanto, apenas aumentam o apetite por novos dados sobre o vazio gelado além do último planeta.

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