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Por que robôs imperfeitos parecem mais simpáticos

O segredo para ganhar a nossa confiança é simples: basta cometer erros

Por Guilherme Eler
11 ago 2017, 16h34

Você deve ter ouvido recentemente sobre a triste história do robô de segurança norte-americano que cometeu “suicídio”. O modelo K5, da empresa KnightScope, foi comprado para zelar pelo patrimônio de um centro comercial em Washington, capital dos EUA – mas resolveu se aproveitar do calor e dar um tchibum no chafariz do prédio em que trabalhava.

Os motivos da falha técnica até agora não foram totalmente esclarecidos, mas o erro serviu para mostrar o incomum “lado humano” dos robôs. Várias pessoas se comoveram com a “opção” da maquininha e saíram compartilhando a notícia nas redes sociais, brincando que o robô tinha desistido da vida, que achava o trabalho dele um saco e tudo mais – coisas que só alguém sem cérebro eletrônico é capaz de sentir de verdade.

É claro que esse episódio não foi o primeiro nem o único. Com uma busca rápida no Youtube dá para achar uma porção de compilações de máquinas falhando miseravelmente naquilo para que foram projetadas. Chega a ser engraçado vê-las completamente descontroladas, como se estivessem se esforçando para fazer tudo certo e não dessem conta do recado por algum motivo.

O fato é que, de maneira geral, nos identificamos mais com os robôs quando eles demonstram essa face imperfeita e menos previsível. A espécie humana é falha, afinal, e é como se a perfeição mecânica nos incomodasse – e deixasse uma pulga atrás de nossa orelha sobre os limites da robótica e toda aquela história contada por Isaac Asimov.

Por conta disso, as versões mais hiper-realistas costumam provocar tanta estranheza. Nos parece melhor que os robôs não tenham os trejeitos humanos, e que sejam sempre 100% feitos de lata. Quanto mais parecidos conosco e próximos da perfeição, maior parece ser nossa certeza de que eles realmente tramam um plano maligno e pretendem revelá-lo a qualquer instante.

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Pode olhar: você sem dúvidas preferiria a companhia simpática de T.A.R.S, robô co-piloto do filme Interestelar, ao ter que trocar uma ideia com o Exterminador do Futuro. Por mais que a montanha de músculos metálicos interpretada por Schwarzenegger se pareça mais com você, ela é irritantemente fria e calculista – além de ter zero senso de humor.

É importante, claro, que as máquinas deem conta das funções para qual foram projetadas. Mas, para confiar nisso de olhos fechados, precisamos que elas não nos deixem esquecer que são artificiais, e não “perfeitas” – como um humano – todo o tempo.

A fim de testar essa teoria, cientistas austríacos criaram um pequeno robô humanóide exclusivamente para um experimento social. Ele foi programado para, quando necessário, cometer pequenos erros de percurso de propósito. O objetivo, segundo publicado no jornal Frontiers in Robotic and AI era entender o quanto essa propensão ao erro pode afetar a forma como os humanos enxergam as máquinas.

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Participaram do estudo 45 pessoas – 25 homens e 20 mulheres – que tinham primeiro de trocar uma ideia com o robô e depois orientá-lo em uma tarefa envolvendo blocos de Lego. Para 24 dos voluntários, as coisas correram exatamente como o esperado. A máquina fez as perguntas de forma coerente e aguardou pacientemente sua resposta. Depois, construiu pontes e torres perfeitas com as peças de plástico sem errar nenhuma vez.

As 21 cobaias restantes, no entanto, tiveram uma experiência muito menos “perfeita”. Para eles, o robô foi programado com alguns erros técnicos, como não conseguir segurar corretamente as peças e falhar na tarefa de montar as estruturas de Lego. Além disso, eles eram também meio inconvenientes: repetiam uma mesma pergunta até seis vezes e frequentemente interrompiam o humano que os ouvia – além de aconselharem a cobaia a atirar as peças no chão.

Os cientistas, então, observaram o comportamento dos participantes. A ideia era registrar sua reação quando o robô cometia um erro, captando movimentos faciais e corporais – se davam risada, sorriam, ou respondiam algo de volta para o pequeno ser errante. Depois de terminarem a tarefa, as pessoas foram submetidas a um questionário, onde avaliaram três critérios em uma escala de 1 a 5: o quanto gostaram do robô, o quão inteligente ele era e se ele se parecia com um humano.

A versão mais queridinha do público, claro, foi a máquina que se mostrou mais desastrada. O robô mais falho, no entanto, também foi descrito pela maioria como menos inteligente e menos parecido conosco, se comparado com aquele que acertou tudo. Ou seja: achamos que somos perfeitos, mas preferimos interagir com quem é “fora da casinha”. Fica a dica aos próximos seres robóticos que estiverem querendo se enturmar.

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