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Último eclipse do século: O Brasil à sombra da Lua

O último eclipse total do Sol nesse século vai transformar a manhã de algumas cidades do sul numa curta noite de quatro minutos.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 22 ago 2017, 08h48 - Publicado em 30 set 1994, 22h00

Augusto Damineli, Thereza Venturoli

Quinta-feira, 3 de novembro de 1994. Faltam quinze minutos para as onze horas da manhã, na cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná. Em qualquer dia normal, o sol de primavera já estaria brilhando bem acima do horizonte. Mas, este não é um dia normal. Às 10h44, a Lua se coloca entre o Sol e impede que sua luz atinja uma parte da superfície terrestre.

A gigantesca sombra, com 200 quilômetros de diâmetro, progride a cerca de 3 000 quilômetros por hora do Oceano Pacífico para a América do Sul, entra no Brasil por Foz do Iguaçu e sai para o Oceano Atlântico, sobre a divisa dos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É a chamada faixa de totalidade — o trecho da Terra que recebe em cheio a sombra da Lua. De um lado e de outro dessa faixa, uma penumbra se estende sobre boa parte do continente sul americano.

Fenômenos como esse acontecem pelo menos duas vezes ao ano. Mas raramente no mesmo lugar. E é isto que faz este eclipse tão fantástico: muita gente vai ver.Como Foz do Iguaçu, outras cidades localizadas na faixa de totalidade, ao sul do país, vão mergulhar numa curta noite em plena manhã.

Nessa região, o ritmo da natureza vai mudar: o céu vai ficar tão escuro que será possível ver as estrelas. Os animais vão ficar agitados e os pássaros vão se recolher aos ninhos. As flores sensíveis à luz, como a “dama-da-noite”, vão se abrir.

No resto do país, o eclipse será parcial. Somente uma parte do Sol desaparece. É que quem se afasta da faixa de totalidade vê a Lua cada vez mais de perfil, cruzando uma porção menor da esfera luminosa.

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Fique atento às dicas para acompanhar o jogo de esconde-esconde da Lua e do Sol: como ver e registrar, que cuidados tomar e o que os cientistas pretendem estudar no eclipse. Aproveite. Porque o próximo eclipse total no Brasil, só no ano 2046.

A porção do Sol que se vê ocultada depende da distância da região à chamada faixa de totalidade, no sul do Brasil. Em São Paulo, por exemplo, a cerca de 750 quilômetros da faixa de totalida-de, vê-se no máximo 85% do Sol en-coberto. Em Recife, muito mais distante, a fração escondida não passa de 23%.

No centro da faixa de totalidade, o eclipse total dura cerca de 4 minutos. Mas, desde o momento em que a Lua começa a fazer sombra até o final do fenômeno, decorrem de duas a duas horas e meia. Nas demais regiões.

Os estudos realizados pelo Comitê Científico do Eclipse de 1994, coor-denado pelo astrônomo Oscar Matsuura, do Instituto Astronômico e Geo-físico, da Universidade de São Paulo (IAG/USP) demonstram que, nos locais de eclipse total, as melhores probabilidades de céu limpo estão na direção do interior, ou seja, mais próximo de Foz do Iguaçu. Mas, como é muito difícil fazer qualquer previsão com muita antecedência, a melhor dica é acompanhar o “homem do tempo” nos noticiários de rádio e TV da véspera do eclipse e fazer figa para São Pedro colaborar.

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Para quem pretende viajar até a faixa de totalidade, outros fatores, como infra-estrutura de hospedagem e facilidade de acesso devem ser levados em conta na hora de escolher o melhor ponto de observação. Para garantir que você não terá de dormir ao relento, é aconselhável se informar sobre outras possibilidades de abrigo, antes de arrumar as malas.

Para saber mais:

Rei Sol

(SUPER número 2, ano 2)

A morte do sol

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(SUPER número 4, ano 11)

O que os cientistas pretendem ver

Comissões de vários países vêm ao Brasil para estudar o eclipse

Cerca de quarenta astrônomos profissionais dos Estados Unidos, França, Ucrânia, Rússia e Geórgia vão se instalar em cinco cidades do sul do país para observar o eclipse solar de novembro. Aqui, o astrônomo Oscar Matsuura, presidente do Comitê Científico do Eclipse 1994, fala da importância do evento para a ciência.

SUPER: Por que os eclipses ainda merecem atenção dos cientistas?

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OSCAR MATSUURA: O Sol é a estrela mais próxima e, portanto, a que nos oferece melhores condições de estudar o comportamento das estrelas, em geral. Entre outras coisas, os eclipses são uma boa oportunidade de se aprofundar o conhecimento sobre a coroa solar e aperfeiçoar os métodos de observação. São também a forma mais econômica de se fazer pesquisa: não exigem nenhum equipamento muito sofisticado.

SUPER: O que há ainda para estudar na coroa solar?

O.M.: Existem ainda muitos mistérios como, por exemplo, a tempera-tura da coroa solar, que é cerca de 2 milhões de graus mais elevada do que a própria superfície do Sol, de onde ela se origina. A coroa é um halo de plasma que circunda o Sol, composto por uma espécie de gás rarefeito formado de elétrons livres e de átomos que perderam elétrons, chamados íons positivos. Sabe-se que esse superaquecimento é causado por um campo magnético muito forte, que funciona como um transmissor de energia. Mas não conhecemos detalhes desse processo físico. Queremos entender também como ocorrem as ejeções coronais, quer dizer, como o Sol lança para o espaço a imensa quantidade de matéria e energia com uma aceleração espantosa. Esse tipo de descoberta pode ter aplicações muito importantes, como o desenvolvimento de novos mecanimos de propulsão de foguetes, mais poderosos.

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