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A doença em que seu intestino vira uma cervejaria – e te deixa bêbado

Conheça a síndrome da fermentação natural, um problema raro em que leveduras se instalam na sua barriga e fermentam os carboidratos que você come.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
12 abr 2024, 14h00

Ter uma cervejaria no intestino soa como a utopia do jovem universitário. Mas é possível, e nada agradável: trata-se de uma doença rara e razoavelmente grave conhecida como síndrome da fermentação natural.

Ela acontece quando certos fungos ou bactérias se multiplicam descontroladamente no intestino do paciente e, como o nome já diz, começam a fermentar os carboidratos que ele ingere. Leveduras como a Saccharomyces cerevisiaeCandida albicans e Pichia kudriavzevii podem causá-la, mas a lista não se limita a esse trio. Cada caso é um caso.

O importante é que o microorganismo responsável seja ele uma bactéria ou um fungo – consiga realizar a reação de fermentação alcoólica que você estudou nas aulas de biologia do ensino médio. Essa é uma alternativa metabólica para gerar energia quando não há oxigênio para respirar normalmente. 

A maioria dos seres vivos queima açúcar usando oxigênio para gerar energia. Como subproduto, eles liberam água e gás carbônico o gás que seus pulmões exalam. No nível químico, esse é o processo que chamamos de respiração.

Na ausência de oxigênio, porém, a fermentação é uma boa alternativa. Ela usa a glicose e uma molécula chamada piruvato para recarregar os ATPs, que são as moléculas-bateria do nosso corpo. Como subprodutos, ela gera água, gás carbônico (que faz as bolhas da cerveja) e etanol (que a torna intoxicante).

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Com a ajuda de leveduras, um nome genérico para fungos de uma célula só capazes de fazer fermentação, o ser humano faz pão, pizza, gorós variados e o etanol que vai no tanque do seu carro. Se leveduras se multiplicarem na sua pança e você se entupir de carboidrato, bingo: você vira uma cervejaria ambulante.

Não há muitos casos registrados da síndrome da fermentação natural. Os primeiros registros formais da doença vêm do Japão, na década de 1950. Um trio de pesquisadores que compilaram e revisaram casos existentes na literatura médica encontrou 52 pacientes.

Sabe-se que pessoas com diabetes ou cirrose são mais propensas a apresentar o probema, porque elas têm uma tendência maior à produção de etanol endógeno (“endógeno” significa que algo acontece dentro do corpo). E é claro que hábitos alimentares pouco saudáveis ajudam a desregular a microbiota e fornecer combustível para as leveduras.

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A presença de açúcar na urina de pessoas com diabetes é capaz de causar um problema similar na bexiga: o xixi fermenta e se torna um drink assaz desagradável, cujo aroma foi descrito como sendo similar ao vinho. Há um caso registrado na literatura, descoberto quando uma mulher de 61 anos apresentou álcool na urina, mas não nos exames de sangue.

O tratamento não tem segredo: antibióticos ou antifúngicos para eliminar os microorganismos fermentadores, mais uma dieta rica em proteína e pobre em carboidrato para cortar o fornecimento de matéria-prima às pestinhas.

Evidentemente, não há graça nenhuma em ficar bêbado quando essa não é a intenção. Os relatos disponíveis na literatura médica dão conta de que os pacientes se sentem confusos, além de precisarem lidar com náuseas, visão dupla e outros sintomas típicos da manguaça.

Mas acredite no seu potencial: se você pode ter uma cervejaria no seu estômago, você pode tudo. Inclusive explicar para o juiz que seu cliente detido por direção embriagada, na verdade, tinha síndrome da fermentação natural. Trata-se de um argumento relativamente frequente entre advogados. E que, é claro, não costuma colar no tribunal.

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