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Como as Pessoas Funcionam

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Estudos científicos e reflexões filosóficas para ajudar você a entender um pouco melhor os outros e a si mesmo. Por Ana Prado
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Estudo sugere como a terapia pode alterar o cérebro

Por Ana Prado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 set 2024, 15h21 - Publicado em 3 fev 2017, 18h59

Embora a terapia possa produzir efeitos perceptíveis para quem faz, faltam estudos evidenciando o que ela de fato promove no cérebro. E é por isso que um novo estudo do King’s College London e do South London and Maudsley NHS Foundation Trust (instituição responsável por saúde mental do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido) é tão interessante.

Os pesquisadores analisaram os efeitos da terapia cognitivo-comportamental (TCC), um tipo específico de terapia de fala que ajuda as pessoas a mudarem a forma como encaram e reagem aos seus pensamentos e experiências. Com isso, permite-se ao paciente desenvolver estratégias para reduzir o sofrimento e melhorar o bem-estar mesmo quando passam por coisas como a sensação de que alguém o está perseguindo, um sintoma de psicose comum na esquizofrenia e em vários outros transtornos psiquiátricos.

Os autores realizaram, na verdade, dois estudos em épocas diferentes. No primeiro, mais antigo, testaram pacientes com psicose por meio de exames com ressonância magnética funcional (fMRI) para avaliar a resposta do seu cérebro a imagens de rostos expressando diferentes emoções. Isso foi feito duas vezes, após um período de seis meses. Todos os participantes estavam tomando medicação quando participaram do estudo, mas uma parte deles começou a fazer terapia durante esses seis meses. Assim, foram comparados dois grupos: um que só tomava medicamentos e outro que, além disso, fazia terapia.

O resultado mostrou que as pessoas que receberam a terapia exibiram conexões reforçadas entre as regiões-chave do cérebro envolvidas no processamento da ameaça social – aquela que faz com achem que estão sendo perseguidas. O grupo que só recebeu a medicação não mostrou qualquer aumento na conectividade, sugerindo que os efeitos sobre as conexões cerebrais poderiam ser atribuídos à terapia.

Para o estudo mais recente, foi feito um acompanhamento por oito anos de 15 dos 22 participantes iniciais que haviam recebido a terapia. Isso foi feito através de seus registros médicos e, ao final desse período de oito anos, também de questionários para avaliar seu nível de recuperação e bem-estar. Os resultados mostram que o aumento da conectividade entre várias regiões cerebrais, principalmente a amígdala (o centro de ameaça do cérebro) e os lobos frontais (que estão envolvidos no pensamento e no raciocínio), continuam a ter um impacto anos mais tarde na recuperação dessas pessoas. 

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“Esta pesquisa desafia a noção de que a existência de diferenças cerebrais físicas em doenças mentais de alguma forma torna os tratamentos psicológicos menos importantes”, diz o autor principal do estudo, o psicólogo clínico Liam Mason, do King’s College de Londres. “Infelizmente, pesquisas anteriores mostraram que essa ideia pode tornar os clínicos mais propensos a recomendar medicamentos, mas não terapias psicológicas – algo que é especialmente importante na psicose, embora a terapia seja oferecida a apenas uma em cada dez pessoas que poderiam se beneficiar delas”, completa.

Outro lado

Ao buscar mais informações sobre esse estudo, encontrei o artigo de James Coyne, especialista em psicologia da saúde com um currículo invejável. Coyne questiona alguns pontos dessa pesquisa, especialmente o fato de ter sido feita com um número bem pequeno de pessoas.

Os próprios autores reconheceram que precisam confirmar os resultados em uma amostra maior e identificar as mudanças no cérebro que diferenciam as pessoas que experimentam melhorias com a terapia daqueles que não experimentam – algo que, se der certo, pode levar a um conhecimento maior dos fatores que determinam se uma terapia é eficaz ou não.

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Além disso, Coye chama atenção para o fato de que o termo “psicose” é bem amplo e poderia englobar uma grande variedade de estados. Um trecho de seu artigo diz: “Primeiro, a terapia cognitivo-comportamental não é conhecida por ser particularmente eficaz, mesmo a curto prazo. Em segundo lugar, há uma grande heterogeneidade sob o guarda-chuva de “psicose”, mas, em oito anos, uma pessoa que recebeu esse rótulo adequadamente terá uma variedade de experiências: recuperação e recaída, e certamente outros tratamentos de saúde mental. Como em todo esse ruído e confusão podemos identificar um sinal de que uma psicoterapia que não é particularmente eficaz explicaria qualquer melhoria a longo prazo?”. O artigo pode ser lido na íntegra aqui.

De qualquer forma, os autores são de uma instituição de pesquisa renomada e o estudo foi publicado em uma revista igualmente respeitada (chamada Translational Psychiatry), como o próprio Coye lembra. Mas vale a ressalva para que sempre nos lembramos de que estudos científicos não são a verdade última – e a ciência nem tem essa pretensão.

 

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