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Por redação Super
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Cassini sai da vida para entrar na História

A sonda deu seu mergulho final em Saturno após passar 20 anos no espaço – 13 deles colhendo dados na órbita do senhor dos anéis

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
15 set 2017, 16h00

Nessa sexta-feira (15), às 8:55 da manhã no horário de Brasília, astrônomos do mundo todo prestaram as últimas homenagens à Cassini. O projeto de exploração de Saturno envolveu 17 países, durou 20 anos e custou US$ 3,26 bilhões.

Nesse horário, enquanto as Américas tomavam café da manhã, a sonda não-tripulada estava a 1530 quilômetros de distância das nuvens mais altas de Saturno, e mergulhava de encontro ao senhor dos anéis a 133 mil quilômetros por hora – o suficiente para ir de São Paulo a Londres em um minuto e trinta segundos.  

Ela enviou seu último sinal a uma estação de monitoramento em Camberra, na Austrália, e penetrou na atmosfera do gigante gasoso a 10º de latitude norte, só um pouquinho acima da linha do Equador. Assistimos a tudo isso com um delay de 83 minutos – os eventos acima, na prática, ocorreram às 7:22 da manhã, mas o sinal demora um pouco para percorrer a distância entre a Terra e Saturno (que varia entre 1,2 bilhão e 1,7 bilhão de quilômetros).

Com o atrito, a Cassini se incinerou. É sempre bom lembrar que Saturno não tem superfície, só gás. Isso significa que as coisas que caem por lá não se chocam com nada.

Mesmo que um veículo entrasse no ângulo certo e sobrevivesse ao atrito da reentrada, ele eventualmente acabaria esmagado (e põe esmagado nisso) pela pressão atmosférica do planeta – que fica dez vezes mais intensa que a da Terra a “apenas” 200 quilômetros de profundidade.

Moral da história: o trabalho de duas décadas virou pó na hora. “Cassini é agora parte do planeta que estudou”, afirmou a Nasa no Twitter. “Obrigado pela ciência”. Lágrimas… Ela teria ficado bonita decorando o meu quarto. Felizmente, todas as informações que ela coletou desde que foi lançada, em 1997, estão em segurança nas mãos de cientistas terráqueos.

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Em 1997, eu tinha só uns dois anos de idade (o resto da redação da SUPER talvez prefira não tocar no assunto). Eu não sabia o que era um planeta – mal sabia falar –, e a espécie humana nunca tinha colocado uma nave na órbita de Saturno. As Voyagers, tanto a 1 como a 2, já haviam feito visitas rápidas na década de 1980, mas não coletaram dados tão completos.

O caminho até lá foi longo. A Cassini só chegou em julho de 2004, sete anos depois do início da viagem – no caminho, para economizar combustível, pegou impulso na gravidade de Júpiter e aproveitou para fazer imagens espetaculares. Chegando a Saturno, deu 300 voltas em torno dele e de suas luas. Levou o tempo todo em suas “costas” o módulo Huygens, e quando alcançou a posição correta o ejetou na superfície da lua Titã. A pequena nave, de 1,3 metros de diâmetro, bateu o recorde de aterrisagem mais distante da Terra já feita pelo homem, e passou 90 minutos coletando informações antes de ficar sem bateria. Graças à Huygens, hoje sabemos que Titã tem oceanos e rios de metano estáveis em sua superfície, reabastecidos por um ciclo de chuvas análogo ao da água. 

Além de deixar sua “encomenda”em Titã, a mochileira Cassini também viu de perto as luas Reia, Jápeto (que tem dois hemisférios de cores diferentes, um branco como neve), Dione, Tétis, Encélado (onde encontrou água líquida), Mimas, Hipérion, Febe, Jano, Epimeteu, Prometeu, Pandora, Helene, Atlas, Telesto e Methone – e eu nem mencionei as observações de Saturno em si. Isso é que é aproveitar a viagem.

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Suas últimas imagens estão no vídeo acima. Até o retrato falado da nuvem em que ela mergulhou está lá. Não fique triste: muitas sondas espaciais terminam sua carreira com um “suicídio” espetacular. Em 2003, por exemplo, a Galileo se jogou em Júpiter em ritmo de novela. Essa manobra é comum porque une o útil ao agradável.

O útil é que, na aproximação final, os aparelhos são capazes de coletar dados científicos precisos e fazer fotos bem de pertinho, o que seria impossível em outra situação – há um limite para o quanto você pode chegar perto de um planeta se você não quiser cair nele.

O agradável é que, decidindo onde a sonda vai cair, você evita que ela despenque em um lugar aleatório – como Titã (lua de Saturno) ou Europa (lua de Júpiter), que podem ter formas de vida microscópicas e primitivas. Afinal, não seria muito inteligente da nossa parte destruir seres extraterrestres antes de descobri-los.

Valeu, Cassini. Foi legal nascer com você e crescer te vendo na TV. E meio triste pensar que agora eu estou dando a notícia de que você foi.

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