Voyager 1 completa 40 anos no espaço
Plutão é passado: a Voyager já saiu do Sistema Solar, e vai rumo ao infinito e além – é o objeto mais distante já lançado pelo homem,
20.884.814.527 quilômetros. Essa é a distância que a sonda Voyager 1 percorreu desde que foi lançada, em 5 de setembro de 1977, há exatos 40 anos. Agora que eu cheguei ao final da frase anterior e voltei à página oficial da NASA para verificar, o valor já mudou para 20.884.822.375. Sim, foram 8 mil quilômetros – a distância entre São Paulo e Lisboa – em alguns minutos. No vácuo, distâncias enormes na escala humana são percorridas muito, muito rápido. E mesmo assim não são nada para os padrões da escala cósmica. Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol, está a 4,37 anos-luz de nós, e demoraria mais ou menos 90 mil anos para ser alcançada pela sonda.
Seja como for, a Voyager 1 é o único objeto feito pelo homem que já alcançou o espaço interestelar – ou seja, passou do perímetro de influência do campo magnético do Sol. Isso aconteceu em agosto de 2012. No caminho, visitou Júpiter (março de 1979) e Saturno (novembro de 1980) – sua gêmea, Voyager 2, também passaria pelos dois alguns meses depois.
As informações coletadas pelas duas irmãs permitiram muitas descobertas. As sondas encontraram anéis em Júpiter, muito mais discretos que os de Saturno, e também deram os primeiros closes em sua grande mancha vermelha (GRS) – o “olho” no hemisfério sul, que na verdade é uma tempestade duas vezes maior que o diâmetro da Terra. Outro ponto alto da missão foi a descoberta de vulcões no satélite Io. Foi a primeira vez que um fenômeno geológico do tipo foi verificado em outro corpo celeste.
Chegando a Saturno, a Voyager 1 teve sua trajetória calculada para passar o mais próximo possível da lua Titã. Não deu muito certo: descobriu-se que a atmosfera do satélite era opaca em comprimentos de onda visíveis, o que impediu a sonda de fotografar sua superfície. Seus espectômetros, porém, detectaram uma grande quantidade de compostos orgânicos, o que aumentou o interesse pelo astro. Em 2004, 24 anos depois, a Cassini redimiu a Voyager I, dando um rasante com equipamento capaz de registrar a geografia debaixo da densa camada de gás que envolve a lua.
Daí em diante, a trajetória da Voyager 1 não permitiu que ela passasse por Urano, Netuno e Plutão (os três foram clicados apenas pela Voyager 2). Ela seguiu sua viagem solitária, e seu próximo encontro, ainda que hipotético, seria a nuvem de Oort – um enorme “depósito” de asteroides que, ao que tudo indica, se encontra no limite da influência gravitacional do Sol. Quando ela chegar lá, daqui 300 anos, a redação da SUPER não estará mais aqui para contar a história, e os equipamentos da sonda já não enviarão mais sinais para a Terra (a desativação total está prevista para 2025). A humanidade chegará a um domínio completamente inexplorado do espaço. E continuará sem saber nada sobre ele.
Esse tempo todo no espaço rendeu muitas histórias aqui na Terra. Por isso, a NASA fez uma página especial com depoimentos de pesquisadores que trabalharam na missão Voyager ao longo dos últimos 40 anos. Eu escolhi um especialmente divertido: o da astrônoma Linda Spilker, que analisou informações coletadas pela missão ao longo da década de 1980. “Eu conto para as minhas filhas que os nascimentos delas foram baseados no alinhamento dos planetas. E foram mesmo! Elas nasceram na janela de cinco anos entre o sobrevoo da Voyager 2 em Saturno, em 1981, e em Urano, em 1986. Outras mamães da Voyager tiveram filhos na mesma época, e nossas crianças cresceram juntas.”
Prova de que há, afinal, um jeito astronômico (e não astrológico) da posição dos planetas afetar para sempre a vida de bebês terráqueos. Feliz aniversário, Voyager 1. A gente deseja uma boa viagem, mesmo sabendo que ela nunca irá terminar.