10 pessoas que moldaram a ciência em 2024, segundo a revista Nature
Conheça os principais avanços científicos do ano e quem foram os pesquisadores responsáveis por eles.
O periódico científico Nature anuncia todos os anos uma lista de 10 pessoas que tiveram o maior impacto na comunidade científica durante os últimos 12 meses. Em 2024, os selecionados são “pessoas notáveis no centro de alguns eventos notáveis”, disse Brendan Maher, editor da revista.
Em um ano com surtos de doenças, como a mpox, e pontos críticos atingidos com o aquecimento global, conheça quem são os profissionais que mereceram destaque.
Anna Abalkina
No começo deste ano, a pesquisadora Anna Abalkina, da Free University of Berlin’s Institute of East European Studies, na Alemanha, descobriu que o seu nome estava numa lista de observação da Roskomnadzor, agência russa que rastreia atividades online.
Tudo isso porque ela tem investigado fraudes científicas nos últimos 13 anos, focando em plágio e “paper mills” (empresas que vendem artigos falsos), principalmente na Rússia, países ex-soviéticos, Irã e Índia. Abalkina também descobriu sites fraudulentos que clonam e plagiam revistas legítimas para cobrar taxas de publicação. Seu trabalho levou a Elsevier, dona da base de dados Scopus, a remover links dessas revistas.
Cordelia Bähr
Em 2015, a jovem advogada Cordelia Bähr, em Zurique, começou a trabalhar em um conceito de litígios sobre mudanças climáticas. Ao estudar a onda de calor de 2003 na Europa, que matou 70 mil pessoas, ela descobriu que mulheres idosas morreram em taxas incomumente altas, o que as torna especialmente vulneráveis às mudanças climáticas. Com isso, ela processou o governo suíço por violar os direitos dessas mulheres ao não tomar medidas suficientes contra o aquecimento global.
Com o apoio da Greenpeace Suíça, Bähr formou o grupo KlimaSeniorinnen Schweiz (Mulheres Idosas Suíças pela Proteção Climática) e entrou com o primeiro processo em 2016. Após perder a apelação no tribunal federal suíço em 2020, o caso foi levado ao Tribunal Europeu, que, em abril deste ano, deu ganho de causa, determinando que a Suíça violava os direitos humanos das mulheres do grupo ao não adotar medidas adequadas para limitar o aquecimento global.
Ekkehard Peik
O primeiro “tic” de um relógio nuclear foi dado este ano. Atualmente, os melhores relógios atômicos do mundo dependem das transições de energia de elétrons que orbitam um núcleo atômico, com precisão tão alta que ganham ou perdem apenas um segundo a cada 40 bilhões de anos. Ekkehard Peik, do Instituto Nacional de Metrologia da Alemanha, teve a ideia de usar uma abordagem nuclear para aperfeiçoar os relógios. Após anos tentando excitar os núcleos de tório-229, ele finalmente descobriu como fazer isso funcionar.
Um relógio nuclear, além de ser mais preciso que os atômicos, seria mais robusto, pois os núcleos são menos sensíveis a campos eletromagnéticos. Este avanço também permite explorar questões de física fundamental, como a natureza da matéria escura.
Huji Xu
O médico chinês, da Universidade Médica Naval de Xangai, obteve sucesso no tratamento de doenças autoimunes graves usando células T editadas geneticamente e provenientes de doadores. As células T fazem parte do sistema imunológico, e a terapia desenvolvida é uma evolução da CAR-T therapy, que já foi utilizado com sucesso no tratamento de câncer,
A terapia CAR-T envolve editar geneticamente as células T para que elas possam identificar e atacar células doentes de maneira mais eficaz. A novidade aqui é que, ao usar células T de doadores e modificá-las geneticamente, o tratamento pode se expandir para doenças autoimunes, além do câncer.
Kaitlin Kharas
Pelos últimos 20 anos, o salário de estudantes de PhD no Canadá não via mudanças significativas. Porém, este ano, com a liderança de Kaitlin Kharas na campanha de aumento salarial, os alunos conseguiram o tão sonhado reajuste. “Foi uma excitação e uma euforia absolutas quando eu vi aqueles números,” disse a pesquisadora à Nature.
Li Chunlai
Li Chunali é geólogo no Observatório Astronômico Nacional da China, e este ano realizou um sonho de outro mundo – literalmente. Ele foi o primeiro cientista a colocar as mãos (ou, neste caso, luvas) em amostras do solo lunar, que chegaram na Terra pela missão Chang’e 6.
Chunali lidera as pesquisas sobre a amostra, que foram coletadas da parte mais profunda da Bacia South Pole–Aitken, considerada a maior e mais antiga cratera na Lua.
Muhammad Yunus
Depois de semanas de protestos intensos que resultaram na queda do governo autocrático de Bangladesh em agosto deste ano, os estudantes que comandaram a revolução apresentaram uma única exigência: convidar o economista Muhammad Yunus, laureado com o Prêmio Nobel da Paz, para assumir a liderança do país.
Antes da revolução, muitas instituições do país estavam sob controle do governo. Desde então, Yunus e os estudantes formaram grupos de trabalho para protegê-las de influências políticas.
Placide Mbala
A mpox na República Democrática do Congo (RDC) já fez mais de 600 mortos e 18 mil casos confirmados. E esses dados só dizem respeito aos diagnósticos de 2024.
Por isso, o trabalho do epidemiologista Placide Mbala está entre os destaques do ano. Ele chamou atenção para o início do surto no país e, antes que se espalhasse para o resto do continente, alarmou sobre o potencial de contágio para além das fronteiras da RDC. Mbala também defendeu a necessidade de um foco global maior em surtos de doenças para que as reações sejam mais rápidas e mais vidas sejam salvas.
Rémi Lam
Em tempos de inteligência artificial, não tinha como terminar o ano sem uma menção para trabalhos que avançaram o uso dessa tecnologia.
Rémi Lam, um pesquisador da Google DeepMind, teve a ideia de unir IA com previsão do tempo e o resultado foi promissor: as previsões se mostraram mais rápidas e acertaram mais vezes o verdadeiro estado do clima em comparação com o modelo usado atualmente.
Wendy Freedman
Há anos que a taxa de expansão do universo, chamada constante de Hubble, assombra cientistas. O “problema” é que, ao medir a constante de Hubble, uma das metodologias gera um valor diferente da outra, e essa diferença tem gerado debates e incertezas na comunidade científica. Neste ano, a astrônoma Wendy Freedman anunciou resultados que poderiam ajudar a resolver essa discrepância.
Utilizando o telescópio espacial James Webb (JWST), Freedman combinou duas técnicas mais recentes, chamadas de “padrões luminosos” (standard candles), com dados de supernovas. Ao fazer isso, ela obteve uma taxa de expansão do universo que está dentro da margem de erro dos resultados obtidos com o fundo cósmico de micro-ondas (CMB, na sigla em inglês), um dos métodos usados para medir a constante de Hubble, com valor de 67 km/s/Mpc.