40 anos após proibição da caça, baleias reocupam habitats polares
No começo do século 20, 1,3 milhões desses mamíferos foram capturados só nos arredores da Antártida. Agora, com a prática proibida, elas começam a voltar em segurança para seus lares.
Em 1986, a Comissão Baleeira Internacional, formada por mais de 80 países, decidiu decretar uma moratória (ou seja, uma suspensão) na baleação pelo mundo – o termo técnico para a caça de baleias. “Pesca” não é correto porque elas são mamíferos, e não peixes.
Décadas de exploração haviam levado diversas espécies à extinção e posto tantas outras em risco, especialmente nas águas geladas próximas aos polos da Terra. Estima-se que, só nos arredores da Antártida, mais de 1,3 milhões de baleias tenham sido caçadas nos 70 anos anteriores à moratória.
Agora, quase 40 anos após da medida entrar em vigor, os resultados começam a aparecer. Um estudo recente descobriu que a população de baleias-azuis em torno da ilha da Geórgia do Sul, no Oceano Atlântico, cresceu nos últimos anos.
No começo do século 20, três mil baleias eram mortas por ano nessa região, considerada o centro da caça do animal no mundo. Obviamente, os números eram insustentáveis: a espécie praticamente desapareceu dessas águas ao longo das décadas.
Nos últimos nove anos, porém, pesquisadores que monitoram a área registraram 41 novas baleias-azuis vivendo perto do arquipélago, o que indica que a espécie “redescobriu” a região. As águas ao redor da ilha são ricas em krill, os minúsculos crustáceos que servem de alimento para esses gigantes mamíferos. Portanto, a equipe acredita que a espécie possa se reestabelecer a longo prazo por lá.
Felizmente, a boa notícia não é isolada. No extremo norte do mundo, os registros de baleias que habitam águas setentrionais também vêm aumentando nos últimos anos, especialmente em volta do estado americano do Alaska. Por lá, os números da espécie estão retornando ao mesmo patamar observado antes da ampla caça comercial no século passado.
Atualmente, a maioria dos países bane a prática com base na decisão de 1986. Apenas alguns são abertamente contra a restrição e desejam sua retirada, entre eles o Japão, a Islândia e a Noruega – todos países em que o setor era importante para a economia. Além deles, Canadá, Estados Unidos, Dinamarca, Groenlândia, Rússia e Coreia do Sul praticavam a baleação em maior ou menor escala, mas atualmente todos têm restrições e regulamentações devido à pressão de organizações de preservação ambiental e de outros países.
A preocupação agora é manter o sucesso – e expandi-lo, porque não são todas as espécies de baleia que estão retomando seus números pré-caça. Um dos fatores que deve se levar em conta é o aquecimento global – com águas mais quentes, inclusive nos polos, é possível que a oferta de krill diminua em longo prazo, ameaçando novamente os cetáceos.