6 cientistas LGBTQ que estão transformando a ciência moderna
Conheça os "herdeiros" de Alan Turing, os pesquisadores que são destaque em suas áreas — e também orgulhosamente assumidos.
Alan Turing é provavelmente o cientista LGBTQ mais conhecido da História — e não é por um motivo feliz. O matemático que inventou um computador primitivo poderoso e importante para a Segunda Guerra Mundial (história que inspirou o filme O Jogo da Imitação) nasceu em uma época em que ser homossexual era crime na Inglaterra. Sua orientação sexual foi exposta e ele foi condenado à castração química. Forçado a tomar altas doses de hormônios, ficou deprimido e se suicidou.
A fama de Turing vem tanto da sua genialidade quanto de sua luta contra o preconceito. Décadas depois, uma nova onda de cientistas, que mostra traços da mesma genialidade de Turing, também vê a importância de gerar exemplos para outras pessoas da comunidade LGBTQ, mostrando que a ciência, independente da área, também pode e precisa ser mais aberta a todas as sexualidades. A seguir, conheça alguns cientistas LGBTQ que vêm obtendo destaque:
1. Jon Hall
Falando de Alan Turing, não podemos deixar de mencionar o diretor executivo da Linux Internacional, conhecido pelo nome de usuário maddog. Hall passou a vida como ativista do software livre. Há 5 anos, ele fez uma homenagem ao centésimo aniversário de Turing em seu blog oficial na Linux Magazine, assumindo sua homossexualidade. Ele disse que, por anos, foi discreto sobre sua orientação sexual por dois motivos: o primeiro era que não queria que os pais, cristãos fundamentalistas, descobrissem. O segundo é que não queria que a discussão sobre sua sexualidade ofuscasse o Linux e sua verdadeira militância, por serviços e programas virtuais que respeitem a liberdade e o senso de comunidade do usuário.
2. Audrey Tang
Hacker, trans e ministra. Audrey Tang é uma das maiores programadoras de Taiwan. Ela criou sua primeira linguagem de programação aos 12 anos, a Pearl 6. Aos 15, largou a escola e foi criar projetos de tecnologia. Vendeu um mecanismo de busca que ela mesma inventou para letras de música em mandarim aos 18 anos, quando já trabalhava no Vale do Silício. Aos 35 anos, ela foi indicada a Ministra Digital do governo de Taiwan, com a principal tarefa de tornar os dados federais acessíveis à população, na maior iniciativa de transparência de informação que o país já promoveu. Taiwan é considerado o país mais aberto à população LGBTQ da Ásia e Tang foi a primeira trans a se tornar ministra no mundo todo.
3. Carolyn Bertozzi
A bioquímica é professora na Universidade Stanford e tenta entender como a forma que o corpo processa o açúcar pode indicar a presença de doenças. Ela estuda como as células se comunicam umas com as outras usando açúcares, e tenta descobrir novas formas de monitorar e classificar a atividade celular através dessas substâncias. Mulher e lésbica, ela sempre arranja um tempo para ir a conferências sobre gênero e sexualidade dentro da ciência — e garante que, ainda que os obstáculos existam, são menores do que eram no passado. A própria Carolyn quebrou recordes: foi uma das mais jovens cientistas a receber a MacArthur Fellowship, uma sociedade para pesquisadores excepcionalmente criativos, e a primeira mulher a receber o Lemelson-MIT, o maior prêmio em dinheiro para cientistas nos EUA.
4. Nergis Mavalvala
Em 2016, a ciência viveu um momento histórico. Detectamos pela primeira vez ondas gravitacionais, fenômeno que antes só existia no papel e havia sido previsto por Einstein — que apostava que jamais seriam capazes de observá-lo. Einstein estava errado e o time do Observatório LIGO, em Washington, conseguiu provar sem sombra de dúvidas que essa perturbação no espaço-tempo é real. Desse time fazia parte Nergis Mavalvala, uma pesquisadora do Paquistão. Além de mulher e imigrante de um país conservador e religioso, Nergis é lésbica — fato que foi quase que escondido pela imprensa do seu país de origem quando anunciaram o estrondoso resultado de sua pesquisa. Mas a pesquisadora bateu na tecla até que decidissem publicar: seu principal objetivo é mostrar que cientistas podem alcançar resultados incríveis, não importa seu gênero, sua sexualidade nem de onde eles vem.
5. Jack Andraka
Esse nem é cientista propriamente dito. Jack Andraka virou celebridade e palestrante quando, no Ensino Médio, em 2012, inventou um método de detecção de diferentes tipos de câncer que chegou às manchetes do mundo todo — até da nossa parceira Exame. Seu teste busca por marcadores de cânceres, principalmente o pancreático, em uma gota de sangue, podendo ajudar a diagnosticar a doença precocemente. Nos últimos anos, o método tem passado por testes clínicos para que possa ser usado globalmente. Enquanto isso, Andraka dá palestras para jovens sobre a carreira científica e os desafios de ser jovem, pesquisador e LGBTQ, além de cursar a Universidade Stanford, onde está fazendo pesquisas com nanorrobôs.
6. Martin Lo
Esse matemático da Nasa trabalha no Jet Propulsion Lab, possivelmente a área mais descolada da agência. O trabalho de Lo ficou famoso quando ele passou a calcular trajetos de voo muito econômicos, chamados de Superautoestradas Interplanetárias. São caminhos no Sistema Solar onde uma espaçonave poderia orbitar gastando pouco combustível. A ideia é tirar proveito de uma faixa espacial bem específica entre dois grande objetos (como planetas), em que a atração gravitacional de um está em equilíbrio com a do outro. Além da Superestrada, Lo desenvolveu um software chamado LTool, usado na missão Gênesis, a primeira da Nasa que usou robôs para trazer amostras de material provenientes de regiões mais distantes que a Lua.
E, com tudo isso, ainda tem gente que se pergunta “Que tipo de exemplo os LGBTQ estão dando para os meus filhos?”. Ao que tudo indica, todo tipo de exemplo — inclusive o da inovação científica.