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9 cientistas famosos que já foram refugiados

Muitos gênios da ciência também precisaram abandonar suas casas - e trouxeram grandes contribuições para seus novos lares

Por Ana Carolina Leonardi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Helô D'Angelo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 mar 2024, 11h07 - Publicado em 15 jul 2016, 16h45

A cada novo ataque terrorista, a divulgação da identidade dos suspeitos é geralmente acompanhada por uma onda de xenofobia. As bombas em Paris e Bruxelas, os tiros em Orlando e o caminhão em Nice são associados diretamente aos “malditos imigrantes”. Políticos nacionalistas rapidamente passa a enxergar todos os refugiados como ameaças em potencial… Só que o preconceito acaba saindo pela culatra. Além de empobrecer a cultura, atrapalha a economia e atrasa a ciência.

Duvida? Imagine onde estariam os cientistas sem a Teoria da Relatividade. Albert Einstein se tornou um dos refugiados mais famosos do mundo quando fugiu de Hilter nos anos 30 – e muita gente acredita que foi só por causa do exílio de pesquisadores europeus na Segunda Guerra que a ciência americana teve um salto tão grande na época.

Einstein é só um dos “casamentos” de sucesso entre a ciência e a imigração. Reunimos 9 casos de cientistas que tiveram que fugir dos seus países de origem – por conta de perseguições políticas, racismo e até escândalos sexuais – para depois contribuírem (e muito!) para a pesquisa dos novos lugares que decidiram chamar de lar.

Johannes Kepler
Você provavelmente conhece Kepler depois de ter decorado as suas Leis na aula de Física. Ele foi um dos principais matemáticos do século 16, estabeleceu as regras que guiam o movimento dos planetas e deu base para que, anos depois, Newton desenvolvesse seus Três Princípios.

Mas, apesar das conquistas científicas, Kepler tinha um problema religioso. Em uma Europa majoritariamente católica, ele era luterano. Depois de se recusar a se converter ao catolicismo, foi expulso da cidade de Graz, na Áustria. Só encontrou abrigo em Praga, onde o imperador Rodolfo II abriu uma exceção a sua prática protestante. Ele passou a trabalhar como matemático imperial – o que, na prática, signficava dar conselhos para o imperador baseados na astrologia.

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Erwin Schrödinger
O gato de Schrödinger é mais famoso que o cientista em si, mas o físico Erwin Schrödinger também é responsável por sua equação de ondas que ganhou o Nobel de 1933. Mesmo sem ser judeu, ele se posicionou oficialmente contra o nazismo (era inclusive, amigo de Einstein) só que, ao contrário de outros cientistas famosos, ninguém queria lhe dar abrigo.

Isso porque Schrödinger não escondia de ninguém que ele e a esposa tinham um relacionamento aberto. Ele guardava um diário detalhado dos seus casos amorosos – um deles era com a esposa de um colega professor, que por sua vez, era amante da sua mulher. Suas práticas sexuais levaram universidades na Inglaterra e nos EUA a fecharem as portas para ele.

Primeiro, o físico foi para a Universidade de Graz (curiosamente, na mesma cidade que expulsou Kepler centenas de anos antes), mas então a Alemanha anexou a Áustria e ele teve que fugir de novo. Dessa vez, foi se refugiar na Irlanda, onde a tolerância para suas escapadinhas maritais era maior.

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Salome Gluecksohn-Waelsch

Como um montão de células no útero se transforma em um bebê? Se você sabe a resposta, é graças a essa refugiada da Alemanha Nazista. A geneticista judia Salome Gluecksohn-Waelsch fugiu em 1933. Só que, na época, pior do que ser judia era ser judia e mulher. Ela chegou nos Estados Unidos e não conseguiu emprego como professora na Universidade de Columbia por causa do seu gênero. Passou dezessete anos trabalhando sem ser paga em um laboratório de embriologia, até ser convidada para dar aulas na Faculdade de Medicina Albert Einstein.

Mas o jogo virou para Waelsch: depois que sua contribuição para a genética foi reconhecida, ela recebeu um “diploma de ouro” como homenagem na sua universidade alemã – que a pesquisadora recusou por conta do Holocausto. Columbia também lhe concedeu um de seus muitos diplomas honorários, como um pedido de desculpas atrasado pela não-contratação.

Gustav Nossal
A maioria dos cientistas refugiados conseguiam asilo depois de serem convidados por universidades para lecionar. Esse caminho seria um pouco difícil para Gustav Nossal, que não tinha um currículo acadêmico em 1939… Porque só tinha 7 anos. Nossal e sua família fugiram da Austria e só receberam abrigo na Austrália.

A recompensa veio anos depois, quando Nossal passou a estudar imunologia e se tornou um dos mais famosos cientistas do país. Ele presidiu a Academia Australiana de Ciências e, em 2000, foi nomeado Australiano do Ano. Um refugiado considerado a pessoa mais importante do país.

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Emmanuel Dongala
Quando Emmanuel Dongala saiu da República do Congo para estudar na França, sua intenção era voltar ao país para ensinar o que aprendeu na Europa. Conseguiu seu PhD em física pela Universidade de Montpellier e retornou como professor de química e reitor da Universidade de Brazzaville.

Mas a sua volta não durou muito tempo. O país passou por uma guerra civil brutal nos anos 1990 e o professor decidiu fugir. O primeiro lugar para onde tentou ir foi a França – que recusou terminantemente seu pedido de asilo. Só que, além de físico e químico, Dongala era escritor e dramaturgo. Com a ajuda de amigos artistas, ele conseguiu viajar para os EUA e se tornou professor de física em Massachussetts.

Sem abandonar a arte, fundou uma companhia de teatro e abraçou também a química, pesquisando síntese assimétrica e toxicologia ambiental – enquanto nós, reles mortais, sofremos com um mero TCC.

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Milton Santos
Enquanto a Europa teve milhões de refugiados de guerra, a América Latina exilou seus cientistas por conflitos políticos. O brasileiro Milton Santos foi um deles. Se formou na Bahia, fez seu doutorado na França e se tornou um dos geógrafos mais importantes do país. Fundou o laboratório de Geomorfologia e Estudos Regionais da Universidade da Bahia antes de ser preso e exilado depois do golpe militar de 1964.

Foi abrigado pela Universidade de Tolouse na França. Passou ainda por universidades no Peru e na Venezuela e, por um ano, foi pesquisador do célebre MIT nos Estados Unidos. Só conseguiu voltar ao Brasil em 1977 e se tornou professor da USP em 1984. Dez anos depois, recebeu o Prêmio Vautrim Lud, considerado “o Nobel da Geografia”.

Ernst Bloch
Ernst Bloch, um dos filósofos da famosa Escola de Frankfurt, passou grande parte da sua carreira fugindo. Judeu, precisou fugir da Alemanha em 1938. Se tornou refugiado nos Estados Unidos, mas não conseguiu emprego e era sustentado pela mulher, arquiteta. Em 1949, voltou a sua terra natal. Como Bloch era comunista, escolheu morar na Alemanha Oriental, onde podia publicar seus escritos livremente.

Se tornou um dos maiores pensadores do lado socialista do país dividido, dando aulas lotadas na Universidade Karl Marx, em Leipzig. Só que, apesar dos prêmios que recebeu do governo, Bloch decidiu se manter abertamente crítico à política nacional. Seus livros passaram a ser considerados “antimarxistas”. Depois, veio a perseguição à mulher, aos alunos e aos amigos, além de uma aposentadoria compulsória da universidade. Com isso, Bloch decide se mudar mais uma vez. Estava visitando a Alemanha Ocidental quando ouviu falar da construção de um tal “Muro de Berlim” e, aos 76 anos, decidiu ficar por ali mesmo.

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Ruth Westheimer
Dra. Ruth ficou famosa nos Estados Unidos por manter um programa de rádio que falava abertamente sobre sexo. Desafiando “a moral e os bons costumes”, a sexóloga instruía jovens a fazer sexo seguro e respondia ao vivo às dúvidas, numa época em que falar sobre isso com os pais estava fora de questão.

Mas, antes de ser rainha da ciência midiática, a Dra. Ruth (seu apelido no rádio) sobreviveu ao Holocausto e foi atiradora de elite em Israel. Filha de judeus ortodoxos, ela tinha 11 anos quando saiu da Alemanha, sua terra natal, depois que seu pai foi sequestrado pelos nazistas. Morou na Suíça, onde descobriu, em 1945, que seus pais morreram em Auschwitz.

Quando se tornou maior de idade, se mudou para uma área da Palestina controlada pelos britânicos, em território que hoje é da Síria. Lá, ela entrou para o Haganá, uma instituição paramilitar israelense e lutou na Guerra da Independência de Israel. A senhorinha do rádio na época se tornou atiradora de elite e, com 1,40 m de altura, se escondia com faciliidade em telhados para acertar os alvos.

Na guerra, Dra. Ruth foi ferida por estilhaços de bombas, se aposentou da carreira militar e foi estudar psicologia na França. Imigrou para Nova York seis anos depois, conseguiu seu PhD em sexualidade humana e foi uma das pioneiras da terapia sexual.

Não basta ser uma criança refugiada do Holocausto, nem se tornar uma rebelde armada na Palestina: Ruth ainda prega a liberdade sexual do alto dos seus 88 anos.

Refaai Hamo
Se os outros casos de cientistas refugiados parecem já muito distantes, Refaai Hamo é a prova de que a relação entre ciência e imigração é mais atual do que nunca.

O engenheiro sírio foi entrevistado pelo fotógrafo Brandon Stanton, para o projeto Humans of New York e sua história foi compartilhada milhares de vezes no Facebook.

Refugiado na Turquia, Hamo contou que nasceu em uma família de fazendeiros, mas estava decidido a se tornar cientista e se formou no ensino médio com a terceira nota mais alta da Síria. Trabalhava como pedreiro de noite para pagar a faculdade e conseguiu uma bolsa de estudos para seu PhD.

Durante a crise na Síria, seu bairro foi bombardeado e ele perdeu sete familiares, entre eles seu irmão, sua esposa e uma de suas filhas. Ele fugiu para a Turquia com a família que restou: um filho e três filhas. Ele não pôde trabalhar como engenheiro sem um visto de permanência e a situação financeira da família se deteriorou em dois anos. Depois, vieram problemas de saúde: Hamo descobriu um câncer de estômago, mas não conseguiu tratamento nos hospitais lotados, por não ter plano de saúde.

Quando sua história foi divulgada, Hamo estava prestes a se mudar para os EUA, para um subúrbio próximo a Detroit. A repercussão do caso chegou ao ator Edward Norton, que criou um projeto de crowdfunding para ajudar o engenheiro com as despesas médicas nos Estados Unidos. Mais de US$ 450 mil dólares foram arrecadados.

Depois de sua chegada ao país, Hamo recebeu as boas vindas do presidente Obama na internet e foi convidado por Michelle Obama para um jantar na Casa Branca.

Em Troy, Michigan, dois de seus filhos estão matriculados no colegial. Hamo espera voltar à pesquisa acadêmica. Seu plano é desenvolver projetos de geração de energia elétrica e patentear algumas de suas invenções científicas.

Para os demais cientistas que buscam asilo e se arriscam para atravessar o Mediterrâneo,  a Comissão Europeia criou o projeto Science4Refugees, que quer colocar os cientistas refugiados com universidades que precisam de suas habilidades.

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