99,9% dos cientistas concordam que crise climática é causada por humanos, diz pesquisa
O consenso científico de que a ação humana é a principal responsável pelo aquecimento global está cada vez maior; de quase 90 mil estudos, apenas 28 são céticos quanto à questão.
O consenso entre cientistas de que a ação humana é a principal responsável pelas mudanças climáticas está cada vez maior. É o que evidencia uma análise de quase 90 mil estudos feita recentemente: 99,9% dos especialistas em clima estão de acordo.
Segundo a pesquisa publicada hoje (19), o grau de certeza científica sobre o impacto humano sobre os gases do efeito estufa agora é semelhante ao nível de certeza sobre a evolução da vida terrestre ou sobre a existência e dinâmica das placas tectônicas.
“É realmente um caso encerrado. Não há ninguém significativo na comunidade científica que duvide que as mudanças climáticas são causadas por humanos”, disse Mark Lynas, autor principal do estudo, ao jornal The Guardian.
O estudo realizado pela Universidade Cornell (Estados Unidos) consiste em um esforço de reunião e revisão de 88.125 pesquisas sobre a crise climática, publicadas entre 2012 e novembro de 2020.
A revisão funcionou assim: os cientistas responsáveis buscaram os estudos por meio de um banco de dados chamado Web of Science. Eles filtraram pesquisas publicadas em língua inglesa no período determinado, a partir de palavras-chave referentes ao aquecimento global.
Primeiro os cientistas analisaram uma amostra aleatória de três mil estudos, a partir dos quase 90 mil que foram selecionados anteriormente. Nessa amostra, eles encontraram apenas quatro artigos cujos autores se mostravam céticos de que a crise climática é causada por ação humana.
Depois dessa primeira análise, eles examinaram a amostra completa. Dos 88.125 estudos sobre as mudanças climáticas, apenas 28 duvidavam da influência humana – falando sobre “ciclos naturais” ou “raios cósmicos” para explicar altas temperaturas ou eventos climáticos extremos, por exemplo. Os cientistas também observaram que essa minoria de estudos foi publicada em revistas científicas pequenas e pouco conceituadas.
Uma pesquisa anterior havia mostrado que 97% dos estudos publicados entre 1991 e 2012 sustentavam a ideia de que as atividades humanas – como o desmatamento ou a queima de combustíveis fósseis – estão agravando o efeito estufa e bagunçando o clima do planeta. O estudo de agora mostra que o ceticismo entre os pesquisadores é cada vez menor.
O consenso entre a comunidade científica internacional é considerado importante para uma resposta conjunta à crise climática – que pode ser planejada por tomadores de decisão ao redor do mundo por meio de conferências como a COP26, que acontecerá entre em Glasgow (Escócia), durante as primeiras semanas de novembro.
Segundo os autores do estudo, ele pode servir para que as plataformas de redes sociais, que são palco para a disseminação de fake news sobre o clima, repensem suas políticas. As conclusões do trabalho – que, segundo os pesquisadores, apresentam “alta confiança estatística” – também estão de acordo com aquilo que afirmou o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês): com certeza, a ação humana é a principal responsável pelas mudanças que estão acontecendo.