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Algas sobrevivem um ano e meio no espaço aberto

No período, ficaram expostas constantemente à radiação ultravioleta letal do Sol, e sobreviveram a variações de temperatura de quase 70°C todos os dias

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 9 fev 2017, 17h18 - Publicado em 9 fev 2017, 16h02

A lista de seres vivos que podem fundar uma colônia em Marte não para de aumentar. Depois dos tardígrados (que você viu na SUPER), os extremófilos (que você também conheceu aqui) e os líquens, chegou a vez das algas darem uma volta do lado de fora de naves espaciais — e voltarem muito bem, obrigado, do passeio cósmico.

Usar a palavra “passeio” é um desrespeito. As algas, todas do gênero Sphaerocystis, passaram 530 dias (16 meses) penduradas do lado de fora da Estação Espacial Internacional (ISS), e só voltaram para a Terra em junho do ano passado. No período, ficaram expostas constantemente à radiação ultravioleta letal do Sol, que na Terra é bloqueada pela atmosfera, e sentiram a temperatura variar entre -20 °C e 47.2 °C todos os dias. É como viajar do Saara à Sibéria a cada 24h sem mudar de roupa — a única coisa que as separava do vácuo era uma fina película transparente.

Esqueça o estereótipo de alga do Bob Esponja: uma comprida folha submersa, plantada em um banco de areia. As Sphaerocystis — também conhecidas pelo código CCCryo 101-99 foram descobertas em meio à neve na península de Svalbard, no norte da Noruega, bem perto do Polo Norte. Elas têm a aparência de ervilhas microscópicas, e no frio, para sobreviver, se tornam cistos resistentes feitos das mesmas substâncias que dão às cenouras sua cor laranja, os carotenóides. Quando estão fechadas nessa espécie de casulo, não se reproduzem nem se alimentam: só esperam. Assim que entram em contato com água líquida de novo, fazem fotossíntese e voltam a ser verdes — assim mesmo, fleumáticas, como se nada tivesse acontecido.   

“Já levamos várias plantas para a ISS, mas do lado dentro, não do lado de fora”, afirmou Thomas Leya, pesquisador do Instituto Fraunhofer para Terapia Celular e Imunologia em Potsdam, na Alemanha, e o responsável pelo jardim rock’n’roll. “Duas semanas depois de voltar para a Terra elas já estavam voltando a ser verdes de novo.” O próximo passo, agora, é analisar o DNA das algas para ver se ele foi modificado.

A pesquisa é mais um passo para, no futuro, cultivar vegetais em outros planetas. É claro que, nesse caso, as sementes viajariam no interior das naves, e não estariam expostas a intempéries como radiação solar. Entender como são, na prática, as condições de vida no vácuo também é importante para confirmar ou não a possibilidade de que a própria vida como a conhecemos não tenha surgido na Terra, mas tenha chegado aqui carregada por outros corpos celestes há bilhões de anos.

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