Apollo 17: a última vez em que pisamos na Lua
A missão derradeira levou o primeiro cientista, e bateu uma série de recordes lunares.
Embora a Nasa estivesse treinando cientistas como astronautas havia algum tempo, nenhum deles tinha sido escalado para ir à Lua. Havia pressão para que essa chance não fosse perdida e, então, na Apollo 17, a agência decidiu incluir o geólogo Harrison “Jack” Schmitt – primeiro e único pesquisador até hoje a visitar nosso satélite natural.
O comandante escolhido para se tornar o último homem a pisar na Lua no século 20 foi Eugene A. Cernan, que fez o “quase pouso” da Apollo 10. Para ele, a segunda viagem lunar, desta vez para descer à superfície, seria ainda mais especial. “Esse foi o voo mais longo, o primeiro e único lançamento noturno, e teve uma série de desafios diferentes”, disse, durante visita ao Brasil, em 2010.
Completando o time, Ronald Evans faria seu único voo espacial, como piloto do módulo de comando America.
A decolagem noturna era necessária para que a tripulação chegasse na hora certa – com o nível de incidência solar mais adequado – ao vale Taurus-Littrow, destino da última expedição Apollo. A partida se deu em 7 de dezembro de 1972, e o pouso do módulo lunar Challenger em seu destino na superfície aconteceu em 11 de dezembro.
Diversos recordes foram estabelecidos – maior estadia na Lua (75 horas) e maior tempo de caminhadas lunares (22 horas e 3 minutos), distribuído em três sessões. Também foi a maior distância percorrida até hoje por um jipe tripulado em outro corpo celeste – 35,7 km. Por fim, a maior coleta de amostras de todo o projeto Apollo – 110,5 kg. Além de tudo isso, a missão foi vibrante.
“A Apollo 17 foi acusada de ter sido a missão em que nós mais nos divertimos na Lua”, contou Cernan. “Nós dissemos e fizemos muitas coisas, todos os experimentos, mas nos divertimos também. E trouxemos muitos resultados de geologia. Mas eu disse aos meus dois colegas: ‘Vocês só vão vir para esses lados uma vez. Portanto, aproveitem. Apreciem o momento. Não se preocupem com a questão de se vocês vão ou não voltar para casa. Muitas pessoas dizem: você pousa na Lua, você se fecha, e a única preocupação que você tem é se vai voltar para casa. O negócio é deixar para pensar nisso durante a viagem de volta. Quando você está na Lua, você tem de aproveitar o momento. Na hora em que tivermos de iniciar o retorno, esse é o instante certo para fazer uma pequena oração. Não antes, OK? Então aproveitem.’ E foi o que fizemos.”
No primeiro dia, eles ainda tiveram um problema: uma das pás que protegiam as rodas do LRV (o jipe lunar) se quebrou. Um reparo de improviso foi feito, e o veículo funcionou todo o tempo com esse remendo.
Concluída a terceira caminhada, qual foi a sensação? “Ah, eu fiquei desapontado. Nós gostaríamos de ter ficado mais tempo”, admitiu Cernan. “As coisas estavam indo bem, mas algumas vezes é quando as coisas estão bem que é hora de partir. Sabe, não tínhamos eletricidade suficiente, não tínhamos oxigênio suficiente… talvez tivéssemos para ficar mais um dia, mas o plano era 72 horas, e funcionou bem. Você não pode discutir com o sucesso. E a coisa não termina quando partimos. Ao sair da superfície, você precisa chegar à órbita lunar. E se você tem um incêndio antes? E quando você se encontra com a nave-mãe em órbita lunar, ainda precisa sair de lá e pegar o caminho de casa. A satisfação vem quando você parte de volta para casa, ajusta o curso para reentrar na atmosfera.
A partir daí, não há muito mais que você possa fazer, além de esperar. Aí é que vem uma sensação de gratificação, de satisfação. Eu tinha a responsabilidade, como comandante, de ter sucesso, voltar para casa vivo, e fizemos tudo isso. Tive imenso orgulho e satisfação pelo que conseguimos fazer.”
Com o fim da Apollo 17, as primeiras viagens à Lua virariam história, em meio a um clima de contenção de gastos, redução de riscos e desinteresse público.