Aquecimento global amplia “entrada para o submundo” na Sibéria
Desde 2016, a cratera de Batagaika tem se expandido cerca de 14 metros por ano, indicam pesquisadores.
A cratera de Batagaika, na Sibéria, está se expandindo rapidamente. Ela surgiu na década de 1960, como consequência do desmatamento da floresta boreal. A região, antes coberta por gelo, ficou sem a proteção da sombra das árvores e começou a derreter devido à incidência dos raios solares. Então, com o degelo, formou-se um barranco, que hoje já possui 900 metros de largura e cerca de 85 metros de profundidade.
No passado, a cratera aumentava cerca de dez metros por ano, mas o número começou a acelerar em 2016. Agora, cresce entre 12 e 14 metros por ano. O motivo principal é o aquecimento global: nos últimos 30 anos, as temperaturas no Ártico subiram duas vezes mais rápido que a média global. A região atingiu em julho deste ano a sua maior temperatura já registrada, chegando aos 38 ºC na cidade de Verkhoyansk, a apenas 75 quilômetros da cratera. Cientistas explicam que, sem a mudança climática induzida pelo homem, esse recorde seria impossível.
O local é conhecido pelos nativos como “entrada para o submundo”. Amostras recolhidas do solo mostram que o permafrost da região é o mais antigo da Eurásia: sua camada mais velha tem 650 mil anos. Thomas Opel, paleoclimatologista do Instituto Alfred Wegener, explicou à revista Science que o registro pode ajudar a entender como o solo e a vegetação presente se comportaram perante os climas quentes do passado, entendendo “os períodos em que o permafrost estava estável e os momentos em que estava em erosão”.
Estudos apontam que, durante a última era glacial, mamutes, rinocerontes e outros animais herbívoros viveram na região. Em 2018, cientistas chegaram a recuperar o corpo de um cavalo de 40 mil anos praticamente intacto, preservado devido ao permafrost.
O derretimento da cratera de Batagaika pode apresentar riscos ao meio ambiente. Durante a formação do permafrost, além da água e do solo, o carbono retido do ambiente também acaba se acumulando no gelo. Quando o permafrost derrete, esse carbono é liberado novamente, contribuindo com o efeito estufa.
Para compensar essa liberação, a vegetação presente no entorno da cratera teria que absorver todo esse CO2 durante seu processo de fotossíntese – mas a realidade é outra. Uma pesquisa publicada em outubro de 2019 na revista Nature analisou 100 lugares do Ártico em que o permafrost estava descongelando entre 2003 e 2017. Os cientistas concluíram que, por ano, a quantidade de carbono liberada excedia em cerca de 600 milhões de toneladas o carbono absorvido pelas plantas.