Árvores tropicais crescem menos em anos mais quentes, mostra estudo
Pesquisadores analisaram a floresta tropical da Costa Rica por 21 anos e perceberam possível declínio de produtividade – que pode significar menos absorção de CO2 pelas árvores.
As árvores nas florestas tropicais crescem menos em anos mais quentes, segundo um novo estudo publicado no periódico Journal of Geophysical Research. Isso sugere que, com o aumento de temperatura provocado pelas mudanças climáticas, essas florestas podem passar a absorver menos gás carbônico da atmosfera.
Deborah e David Clark – um casal de pesquisadores da Universidade de Missouri-St Louis, nos Estados Unidos – passaram décadas na Estação Biológica La Selva, um local no nordeste da Costa Rica em que cientistas do mundo todo se dedicam à investigação da floresta tropical.
De 1997 a 2018, eles fizeram medições detalhadas da floresta, avaliando a produção de madeira das árvores, seu crescimento e o acúmulo de folhas, galhos e outros materiais orgânicos no solo.
Esses são alguns componentes que ajudam a entender a produtividade da floresta. Ela consiste no resultado entre dois processos: a fotossíntese, que usa o carbono da atmosfera como matéria-prima de troncos, caules e raízes, liberando oxigênio; e a respiração das plantas, que consome oxigênio e libera gás carbônico.
Junto ao cientista Steven Oberbauer da Florida International University, também nos Estados Unidos, a dupla descobriu que o crescimento das árvores era menor em anos com noites mais quentes. Elas também cresciam menos nos anos em que, na estação seca, passavam mais horas do dia acima de 28ºC – temperatura ideal para fotossíntese das árvores.
Essas descobertas mostram que as florestas tropicais, sob condições climáticas adversas, podem apresentar declínios de produtividade – e passar a absorver menos carbono da atmosfera. Isso é preocupante porque se torna um ciclo: quanto menos a floresta consome gás carbônico, mais ele se concentra na atmosfera e agrava o aquecimento global.
Os pesquisadores escrevem que as descobertas levantam “profundas preocupações” e que o declínio da produtividade seria uma “grande ameaça a esses ecossistemas de biodiversidade únicos”. Segundo Deborah, é um cenário “muito assustador”.
Mas não é novidade que as florestas correm sérios riscos com o avanço das mudanças climáticas. Um estudo recente mostrou que algumas regiões da Amazônia estão emitindo mais carbono do que absorvendo, por exemplo. Isso porque o desmatamento e as queimadas por lá dão origem a um ciclo de “estresse” para a floresta, que amplifica a mortalidade das árvores e as emissões de gases do efeito estufa.