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Assim será a morte do Sol: seu cadáver brilhará por 10 mil anos

Daqui 5 bilhões de anos, quando a nossa estrela morrer, seu núcleo produzirá energia suficiente para iluminar a explosão. O resultado será uma nebulosa colorida como a da foto, visível de outras galáxias

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 9 Maio 2018, 16h35 - Publicado em 8 Maio 2018, 17h29

O Sol começou a carreira como uma bola de 1.988.000.000.000.000.000.000.000.000.000 quilos de hidrogênio – que, por sua vez, é um sério candidato a elemento mais sem graça da tabela periódica. Em temperatura ambiente, o átomo com um próton e um elétron é um gás sem cheiro nem cor, que circula pelo seu corpo sem fazer cócegas. Quando esse tanto de hidrogênio é um concentrado em um lugar só, porém, o resultado não é nada monótono.

Primeiro, graças à gravidade, o gás começa a cair sobre si próprio. Você está acostumado a pensar na gravidade como algo que te mantém colado na superfície da Terra, mas isso só acontece porque o nosso planeta tem uma superfície para interromper a queda das coisas. Quando o hidrogênio cai no espaço aberto, por outro lado, ele só encontra mais hidrogênio. E essa nuvem vai ficando concentrada. Cada vez mais concentrada.

Logo, o calor e a pressão transformam o núcleo em uma usina de fusão de hidrogênio: os átomos se unem para formar hélio, um elemento só um pouquinho mais pesado. Esse processo libera uma quantidade mastodôntica de energia, que é irradiada e compensa a atração da gravidade. A estrela recém-nascida se torna uma corda bamba cósmica, que só não desaba sobre si própria por que passa o tempo todo queimando a 15 milhões de graus Celsius.

E assim o Sol vem sobrevivendo há 4,6 bilhões de anos. Estável, pero no mucho. Pela frente, há a mais ou menos a mesma quantidade de tempo – ele está bem no meio de sua vida útil. É daqui a 5 bilhões de anos, quando praticamente todo o hidrogênio do núcleo tiver sido queimado, que a diversão começa.

Na falta de combustível no miolo, o Sol começará a usar o gás disponível em outras camadas, mais próximas da superfície. Aí ele incha. E incha. Incha até engolir Mercúrio, e depois Vênus. Se torna uma monstruosidade chamada “gigante vermelha”. Adeus, Terra. Vamos virar churrasco. Ainda bem que ninguém vai viver pra ver o apocalipse: nessa altura do campeonato, é muito provável que o ser humano já esteja extinto.

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Quando essa bexiga incandescente chega ao limite, ela estoura. Mais ou menos metade da massa da estrela é ejetada violentamente em uma nuvem colorida chamada nebulosa planetária (como a que você vê na foto que abre a matéria). Por “ejetada violentamente”, entenda gás e poeira sendo arremessados a 20 quilômetros por segundo. O que sobra, no meio, é o núcleo morto, mas ainda brilhante, chamado anã-branca.

Todo astrônomo concorda com as previsões acima. Mas, a partir desse ponto, começava uma polêmica: será que o núcleo moribundo vai liberar energia rápido o suficiente para iluminar a nuvem – gerando uma paisagem digna das fotos psicodélicas que tornaram o telescópio Hubble famoso? Ou será que o Sol vai expulsar sua matéria discretamente?

Quem bateu o martelo na questão foi um grupo formado por astrônomos poloneses e argentinos. Usando simulações de computador, eles descobriram que o Sol está bem no limite mínimo de tamanho necessário para morrer da forma fotogênica – seu anel de gás e poeira brilhará intensamente por 10 mil anos, o que não é nada na escala de tempo do Universo, mas vale uma menção honrosa. Uma estrela só um pouquinho menor de que ele não teria o mesmo destino glorioso. Os resultados foram publicados na Nature.

Nebulosas planetárias são muito, muito mais brilhantes que as estrelas que lhes deram origem, o que significa que a explosão do Sol pode colocá-lo no mapa de astrônomos de outras civilizações. Vista de longe, a morte da nossa estrela será apenas um pontinho que subitamente brilhará no céu de outros cantos da Via Láctea – e que provavelmente renderá um ou dois artigos nas revistas de ciência dos alienígenas.

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