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Astrônomos detectam sinal de uma das primeiras estrelas do universo

Essa flutuação discreta na radiação cósmica de fundo adiciona uma peça ao quebra-cabeça da infância do cosmos: o que, afinal, ocorreu logo após o Big Bang?

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
1 mar 2018, 13h01

Uns 180 milhões de anos após o Big Bang, a luz do cosmos acendeu: surgiu a primeira estrela. Até então, tudo estava mergulhado em uma escuridão tão espessa que você não conseguiria imaginá-la nem fechando todas as janelas da casa.

Olhar para o céu não é só ver lugares distantes no espaço: também é ver lugares distantes no tempo. Quanto mais anos-luz nos separam de um astro qualquer, mais antiga é a fração da luz deles que nos alcança. A nebulosa de Águia, que está a 7 mil anos-luz de nós, só pode ser vista da maneira como era há 7 mil anos. Talvez algumas estrelas que existem por lá já tenham se apagado nessa altura do campeonato. Para os seus olhos, porém, ainda estão vivas.

Isso significa que, se você olhar longe o suficiente no céu, você verá um passado muito antigo. Em um ponto que está a 13,62 bilhões de anos-luz da Terra, não dá para ver quase nada, porque nessa época as primeiras estrelas ainda estavam surgindo, e tudo era o breu do primeiro parágrafo. E foi procurando ali, onde Judas teria perdido as botas caso andasse no céu, que pesquisadores da Universidade Estadual do Arizona encontraram um sinal de rádio fraquinho, meio tímido: um restinho da estrela mais antiga já detectada.

“Encontrar esse sinal minúsculo abre uma janela para o universo primitivo”, afirmou ao The Guardian Judd Bowman, líder da pesquisa, que está atrás do dito cujo há uma década. “É pouco provável que a gente consiga ver qualquer fato mais antigo do que esse na história das estrelas, pelo menos nessa geração de cientistas.”

A descrição ali em cima não dá uma noção do quanto encontrar esse tantinho de radiação foi difícil. Há algo chamado radiação cósmica de fundo que permeia todo o céu. Você vê um pouquinho dela toda vez que está tentando sintonizar um canal de TV aberta e recebe uma tela cinza, granulada e ruidosa no lugar. Essa radiação estava lá de boa até aparecerem as primeiras estrelas – que teriam causado flutuações nesse sinal outrora bastante uniforme. Foram essas flutuações minúsculas que Bowman e sua equipe detectaram. É a verdadeira agulha no palheiro.

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Para fazer isso, os cientistas foram a um lugar isolado no meio da Austrália, onde haveria a menor interferência possível de outros tipos de radiação, produzida pelo ser humano – e usaram uma antena humilde, do tamanho de uma mesa de centro, para fazer as detecções. Para confirmar que a flutuação detectada era mesmo o que eles achavam que eram, repetiram o experimento de todos os jeitos possíveis, em todas as condições possíveis – essa pequena odisseia está registrada em um artigo científico, publicado na Nature.

As primeiras estrelas, ao que tudo indica, foram gigantes de cor azulada, resultado do colapso gravitacional de regiões em que havia concentrações mais altas de hidrogênio – praticamente o único elemento disponível na época, esqueça o resto da tabela periódica. Só 70 milhões de anos depois delas viriam os primeiros buracos negros. Galáxias como as que conhecemos hoje, nem pensar: elas vieram bem depois.

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