Cientistas encontram última refeição de dinossauro fossilizada em seu estômago
Descoberta permitiu descobrir mais detalhes sobre a dieta da espécie de herbívoro, incluindo sua preferência por samambaias na hora do rango.
Em 2011, mineradores trabalhando no norte do Canadá se surpreenderam ao encontrar um enorme fóssil da metade superior de um dinossauro bastante preservado (como você pode ver na foto acima). Em 2017, pesquisadores confirmaram que se tratava de um nodossauro, espécie que integra o grupo dos anquilossauros ou “dinossauros blindados”, assim chamados por conta da grossa carapaça óssea presente em suas costas. Agora, um novo estudo sobre o mesmo fóssil revelou um detalhe impressionante e inusitado: a última refeição que o dino fez antes de morrer ainda está preservada.
A equipe passou anos analisando o interior do fóssil de mais de 1.300 kg e descobriu que o estômago era o mais preservado já encontrado em um dinossauro até agora. O órgão está tão conservado que, 110 milhões de anos após sua morte, o seu conteúdo ainda se encontra praticamente intacto, já que também foi fossilizado quando o dinossauro morreu e seu corpo foi parar no mar, onde rochas oceânicas o envolveram e o preservaram pela história. Assim, pela primeira vez, pesquisadores conseguiram literalmente enxergar a dieta de um dinossauro retirada diretamente de seu estômago.
Já se sabia anteriormente que os dinossauros deste grupo eram herbívoros, mas detalhes sobre suas dietas não passavam, nas melhores hipóteses, de especulações direcionadas. Agora, os paleontólogos têm uma prova concreta do que pelo menos uma espécie deles comia em seu dia a dia.
A análise do material mostrou que o animal tinha preferência alimentar por folhas de uma espécie específica de samambaia: 88% do material encontrado era formado por isso. O restante era composto por sementes, pedaços de galhos e troncos de pelo menos 50 plantas diferentes, de vários tipos, incluindo desde musgos a plantas com flores (angiospermas). Um fato surpreendeu os pesquisadores: o animal parecia ignorar em grande parte um ingrediente que cientistas supunham fazer parte de sua dieta por conta de sua abundância na época: as folhas de coníferas (grupo que inclui, por exemplo, os pinheiros). Só alguns resquícios desse material foram encontrados no estômago do réptil.
Além da variada dieta de vegetais, os pesquisadores também encontraram um elemento curioso no estômago do dino: os chamados gastrólitos, pedras engolidas propositalmente por animais para ajudar na trituração e digestão de alimentos em seus estômagos. Crocodilos e focas são alguns animais modernos que mantém essa prática, e já se teorizava que várias espécies de dinossauros também utilizam do recurso.
Os cientistas também encontraram pedaços de vegetação queimada no estômago do animal, o que foi considerado intrigante. A equipe não sabe se o consumo desse “carvão” foi acidental ou proposital. Alguns herbívoros que vivem em áreas de constantes incêndios naturais se adaptaram para consumir restos de vegetação queimada em suas dietas, mas não se sabe se esse é o caso do nodossauro – até porque a quantidade encontrada foi muito pequena para se afirmar com certeza.
Apesar de pioneiro, o estudo publicado na revista Royal Society Open Science não tem a pretensão de generalizar a dieta do fóssil para todos os dinossauros da época, tampouco para seus parentes: os anquilossauros eram muitos e habitavam todos os continentes, incluindo a Antártica, o que provavelmente significava que tinham dietas diferentes dependendo da localidade.