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Cientistas propõem uma nova origem evolutiva para a empatia

Até agora, o consenso era de que a empatia nasceu com a busca por cooperação. Mas pesquisadores do Instituto Max Planck discordam – e apresentam provas.

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 9 abr 2019, 20h53 - Publicado em 9 abr 2019, 20h12

Apesar do termo estar na moda, entender a empatia não é algo simples. Segundo o dicionário Aurélio, é “a capacidade psicológica para se identificar com o eu do outro, conseguindo sentir o mesmo que este nas situações e circunstâncias por esse outro vivenciadas”. Traduzindo: é o ato de se colocar no lugar de alguém.

Por isso, ter empatia não significa ajudar um velhinho a atravessar a rua, não estacionar na vaga de deficiente ou ajudar o seu vizinho a encontrar o cachorro perdido. Na verdade, a empatia envolve um processo de compreensão emocional do outro, de percepção das suas reais necessidades, de como ele se sente diante de alguma situação.

Até agora, os cientistas acreditavam que a origem desse sentimento tão complexo estava ligada a uma busca por cooperação. Ou seja, o homem evoluiu em suas relações sociais, desenvolvendo uma maior compreensão sobre o outro, porque ele precisava da ajuda desse outro. Afinal, já é conhecido que o altruísmo possui uma origem egoísta – a de trazer uma vantagem para si por meio da cooperação com o outro.

Só que agora pesquisadores do Instituto Max Planck e do Instituto Santa Fé desenvolveram uma nova hipótese para explicar as origens evolutivas desse sentimento. De acordo com o modelo deles, a origem de todas as nossas respostas empáticas está em uma tentativa de simulação cognitiva. E isso não obrigatoriamente está ligado à cooperação.

Calma, pode soar difícil, mas não é. Vamos do início.

Atitudes espelhadas

Existem alguns fenômenos, ligados a espelhar comportamentos de outras pessoas, que ocorrem mecanicamente no ser humano. Um exemplo que os pesquisadores usam é o do bocejo contagioso: é (quase) impossível não bocejar vendo outra pessoa bocejando. Também entram nessa categoria alguns comportamentos quase insalubres, como a ecopraxia (espelhar involuntariamente os movimentos de alguém) e a ecolalia (ecoar compulsivamente a fala de alguém).

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Mafessoni e Lachmann, os autores do novo estudo, explicam que os humanos, bem como outros animais sociais, demonstram os chamados comportamento espelhados  de forma espontânea. Esse hábito é tão importante que é chamado pelos cientistas de “estratégia de leitura da mente” – ou seja, você está pegando as mínimas deixas possíveis para entender o que ocorre na cabeça de outra pessoa. E faz isso através da imitação.  “Estamos constantemente executando simulações do que outras mentes poderiam estar fazendo” diz Lachmann. O motivo disso não é apenas promover a cooperação.

Para ilustrar esse ponto, os pesquisadores mencionam a existência dos “neurônios-espelho” (neurônios viso-motores): um conjunto de células cerebrais que respondem em dois contextos: quando uma pessoa, por exemplo, levanta a própria mão e quando essa pessoa observa outra pessoa fazendo esse mesmo movimento, ou seja, levantando a mão. O neurônio responde imitando o comportamento de outro animal como se estivesse ele próprio a realizar essa ação.

Para os cientistas, a empatia é um desses fenômenos espelhados. Só que no campo cognitivo e emocional. Se simulamos comportamentos, por que não podemos simular o que está se passando na cabeça do outro? Para eles, a empatia é exatamente isso.

Todas as pesquisas existentes, no entanto, associavam esses comportamento de simulação como uma ferramenta de aprendizado social. Ou seja, voltava para origem evolutiva da cooperação.

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Foi aí que veio a proposta inovadora da nova pesquisa: investigar qual o papel dessas estratégias simulativas fora do contexto social. Escrevendo no periódico Scientific Reports, os dois pesquisadores averiguaram se a empatia e outros mecanismos espelhados similares podem se desenvolver na ausência de um contexto social que requer cooperação.

Curiosidade instintiva

Os pesquisadores explicam que o objetivo deles era “testar alguns desses comportamentos e mostrar que, em contextos sociais complexos, onde pode haver informação social insuficiente para inferir o comportamento dos outros, estratégias de simulação evoluem para melhorar a capacidade de inferir as ações dos outros.”

Usando um modelo de teoria dos jogos (ramo da matemática aplicada que estuda situações estratégicas onde pessoas escolhem diferentes ações na tentativa de melhorar seu retorno) especialmente desenvolvido para aplicar a evolução da empatia e do contágio emocional, os pesquisadores constataram que um indivíduo pode imitar alguém que está observando mesmo quando isso não trará nenhum benefício para ele. Por pura curiosidade.

Ou seja, de acordo com os cientistas, a empatia e mecanismos similares evoluíram simplesmente como uma ferramenta para visualizar o que outros membros da mesma espécie pensam e sentem. Como uma curiosidade cognitiva.

É só você imaginar o seguinte cenário: se você tivesse o poder de ler a mente de alguém, não usaria esse poder o tempo todo? Claro que ele seria útil para te trazer vantagens estratégicas… Mas quem é que nunca se perguntou o que a pessoa sentada ao seu lado no ônibus está pensando, sem motivo nenhum?

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Bom, a empatia é uma forma bem mais sutil do poder de ler mentes. “Isso muda completamente o modo como pensamos sobre humanos e animais”, disse Lachmann. O modelo, segundo ele, encontra uma explicação comum para um grande conjunto de fenômenos de simulação emocional e comportamental. Talvez o altruísmo não tenha uma origem tão egoísta assim.

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