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Clonagem humana

Riscos de saúde para a mãe e o bebê são provavelmente o único obstáculo para a produção de um clone humano hoje

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 18 fev 2011, 22h00

Cópias de todo tipo de mamífero já saíram dos laboratórios do mundo, inclusive do Brasil. As pessoas nem prestam mais atenção quando um feito desses é anunciado. (Até em Dubai, paraíso financeiro dos Emirados Árabes, pesquisadores conseguiram clonar uma fêmea de dromedário, o famoso camelo de uma só corcova. A ideia é criar supercamelos de corrida ou produtores de leite.) Mas há uma exceção nessa galeria de clones: primatas – membros do subgrupo ao qual pertencem os seres humanos. Por motivos não muito bem compreendidos, os cientistas não conseguiram fazer cópias genéticas de macacos, e ninguém ainda tentou a sério clonar uma pessoa. Se depender apenas dos problemas técnicos, porém, é só questão de tempo.

Isso porque não temos razão para acreditar que o DNA de primatas como nós vá se comportar de maneira tão diferente assim para impedir a clonagem de funcionar. O processo, em linhas gerais, já é muito bem conhecido. O núcleo de uma célula adulta, contendo todas as informações genéticas necessárias à “construção” de um organismo, é colocado no interior de um óvulo cujo núcleo, por sua vez, foi previamente arrancado. Um estímulo elétrico “convence” o núcleo adulto a se fundir ao óvulo e, ao mesmo tempo, reprograma o dito-cujo, de maneira que ele se “convence” de que é um embrião no começo de seu desenvolvimento.

É bem possível que tudo isso aconteça de acordo com o script acima em humanos, mas as dificuldades éticas é que não podem ser desprezadas. Primeiro, a clonagem hoje é muito ineficiente. Centenas de óvulos são necessários para um único nascimento, e obter óvulos humanos nessa quantidade é um processo complicado e doloroso para a mulher – poucas se candidatariam a doadoras. Pior ainda, apenas entre 2 e 5% das gestações de clones terminam em nascimento. Os fetos que não vingam muitas vezes colocam em risco a vida da mãe; os que chegam a nascer sofrem de gigantismo, sistema de defesa do organismo muito fraco e envelhecimento precoce.


Fora de controle?

“Eu não sei se a gente algum dia será capaz de fazer o controle direto desses problemas da clonagem de forma precisa”, diz a bióloga Lygia da Veiga Pereira, pesquisadora da USP e estudiosa da reprogramação genética que torna o nascimento de clones possível. A principal raiz dos problemas de saúde dos clones tem a ver com essa reprogramação. Células normais precisam de marcações químicas especiais, que “informam” o embrião, por exemplo, sobre os genes que ele herdou do pai e da mãe. Reconstruir esses marcações perdidas pela clonagem é muito complicado. “É como uma mesa de som”, compara Pereira. “Você precisa mexer em tantos botõezinhos diferentes para obter um som bom que é muito difícil aprender como fazer esse acerto.”

Nada disso impede que um clone humano nasça logo. Mas certamente significa que muito sofrimento será necessário para que ele venha ao mundo.

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