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Coração de Chopin, há 170 anos num pote, diz causa de sua morte

A autópsia old school do órgão do compositor foi feita há três anos, mas só agora estão saindo os resultados

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 9 nov 2017, 20h40 - Publicado em 9 nov 2017, 18h45

Descansar em paz já saiu de moda faz tempo. Às vezes é o corpo inteiro que fica: é o caso do cadáver de Lenin, que está até hoje embalsamado (e exposto!) em um mausoléu em Moscou. Em outras ocasiões, é só um pedacinho: vide o cérebro de Einstein, que foi removido de sua cabeça sete horas e meia após sua morte – e rendeu tantas pesquisas que ganhou até um artigo na Wikipedia.

O compositor Frédéric Chopin é do segundo time. Ele partiu desta para a melhor em 1849, com apenas 39 anos. Deixou para trás uma obra lendária e o seu… coração. Pois é.

A pedido do músico, o órgão foi retirado antes de seu enterro em Paris, e levado por sua irmã em um pote com álcool (provavelmente conhaque) para uma igreja católica em Varsóvia, capital da Polônia – seu país natal. Lá ele repousa até hoje, acompanhado de uma inscrição bíblica: “onde estiver o seu tesouro, lá também estará o seu coração” (Mateus, 6:21).

Agora, sem ser retirado do pote, esse exótico picles do período romântico foi usado para estabelecer a real causa da morte do virtuoso. Antes de investigá-lo, a equipe do pesquisador Michał Witt, da Academia de Ciências da Polônia, selou a valise com cera para evitar evaporação. Depois de tanto tempo, o órgão se tornou frágil, e qualquer contato com o ambiente exterior pode destruir uma das relíquias mais valiosas da cultura polonesa. Esse processo de exumação incomum ocorreu há três anos, praticamente em segredo, e só agora os resultados estão sendo divulgados.

Segundo os pesquisadores, o coração estava coberto por uma substância branca, que lhe dava a aparência de algo congelado. Chopin provavelmente sofria de pericardite, uma irritação na película que envolve o tecido cardíaco que pode, em casos raros, ser desencadeada por tuberculose. A teoria se contrapõe a versão mais aceita até então, que atribuía a morte precoce do músico a uma fibrose cística. Um laudo parcial foi publicado em outubro no periódico American Journal of Medicine – o final sairá em fevereiro do ano que vem.

Se Chopin morreu mesmo por consequência de sua tuberculose – essa sim, confirmada por diversas fontes –, isso só o encaixaria ainda melhor no espírito de seu tempo. Sua tosse letal foi considerada quase charmosa por seus contemporâneos: “Chopin tosse com graça infinita”, escreveu a romancista francesa George Sand.

A doença nos pulmões era parte do “mal do século”, a depressão coletiva que acometeu as artes ocidentais no século 19 e gerou obras tão pungentes quanto Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe – um best seller deprê, a que se costuma atribuir uma onda de suicídios entre jovens leitores. Aquele foi um período de valorização do indivíduo, em que se fixou a figura do gênio solitário e depressivo, que dá tudo pela arte. Principalmente o coração.

 

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