Estresse provocado por furacão causa envelhecimento precoce em macacos
O furacão Maria, ocorrido em 2017 em Porto Rico, alterou a expressão dos genes dos animais – "envelhecendo" o sistema imune em até dois anos.
Em 2017, o furacão Maria deixou mais de 4,6 mil mortos em Porto Rico. Estima-se que um terço das mortes ocorreu depois que a tempestade deixou o país, devido à interrupção de serviços de saúde. Mas os danos posteriores também atingiram outros moradores da região: os macacos rhesus.
O furacão acelerou o processo de envelhecimento dos animais, aumentando sua idade biológica em uma média de dois anos – que seriam equivalentes a sete ou oito anos para um ser humano. Esses são os resultados de um estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
Os macacos rhesus são os primatas mais estudados por cientistas (tirando os humanos, claro). Eles são usados em pesquisas e testes durante o desenvolvimento de vacinas e medicamentos.
Indivíduos dessa espécie habitam florestas como a da ilha Cayo Santiago, a um quilômetro da costa sul de Porto Rico. O local é um importante centro de conservação, e cientistas do mundo todo viajam para lá com o objetivo de estudar os primatas.
Noah Snyder-Mackler, da Universidade Estadual do Arizona (Estados Unidos), participa de uma das equipes que estudam os animais em seu habitat natural. Desde 2014, ela coletava amostras de sangue de 435 macacos rhesus para examiná-los – e fez o mesmo um ano após o furacão Maria, para verificar o impacto do evento.
A equipe realizou o sequenciamento genômico das amostras e descobriu que a expressão de 4% dos genes relacionados ao sistema imunológico dos animais sofreram alterações depois da destruição do ecossistema pela tempestade.
O DNA é um manual de instruções para a produção de proteínas. Só que ele não é “lido” e executado o tempo todo. Uma hora precisamos de mais colágeno, em outra precisamos de enzimas de digestão, e assim por diante. A decodificação do DNA depende de como os genes se expressam em cada momento e região do corpo. A expressão gênica, por sua vez, é regulada a partir de um conjunto complexo de processos celulares.
Após o estresse causado pelo furacão, alguns genes dos macacos passaram a se expressar de maneira inesperada. Houve aumento na expressão de genes relacionados a respostas inflamatórias e diminuição nos genes associados ao desempenho da função de algumas proteínas. Essas são mudanças geralmente associadas ao envelhecimento.
O estudo analisou mudanças médias na população de macacos e verificou que alguns sofreram mais com as alterações de expressão gênica do que outros. Alguns deles passaram a interagir com um grupo maior de indivíduos, por exemplo. Snyder-Mackler afirma que isso pode ter dado maior estabilidade a esses macacos, tornando a situação menos estressante.
Segundo os pesquisadores, se pudermos entender como esses animais se tornaram mais resilientes, é possível encontrar maneiras de minimizar impactos negativos de longo prazo na saúde de humanos após eventos extremos, como o furacão Maria.