Estudo identifica 25 mutações genéticas responsáveis por vivermos mais
De acordo com a pesquisa, esses mesmos genes também podem ameaçar nossa vida na velhice. Entenda
Quais fatores determinam que uma mosca (que vive em média, quatro semanas) tenha uma vida tão mais curta do que uma pessoa? Intrigados com essa pergunta, um grupo de cientistas de instituições espanholas e inglesas conduziram um estudo – publicado em agosto no periódico Molecular Biology & Evolution.
A pergunta é complexa porque mesmo espécies geneticamente próximas têm expectativas de vida extremamente diferentes. Há 63 milhões de anos, por exemplo, viveu o ancestral em comum de todos os primatas. Você é tão descendente dele quanto um sagui-pigmeu. Só que a sua expectativa de vida é de quase 80 anos. A do sagui, de no máximo 12.
Isso é verdade para a maior parte dos primatas. Segundo o novo estudo, que investigou o DNA de 17 espécies desse grupo, apenas três delas tiveram um aumento significativo de duração da vida, com relação ao tal ancestral em comum. São eles o macaco Rhesus, o macaco-caranguejeiro e os humanos em si.
Para identificar o que no DNA deles teria permitido esse aumento na longevidade, o passo seguinte dos cientistas foi rastrear genes especiais que aparecem nas três espécies – e compará-los aos das outras 14 analisadas.
Os autores identificaram 25 mutações genéticas específicas que seriam responsáveis por uma pessoa conseguir chegar aos 100 anos ou o macaco Rhesus até os 30, por exemplo.
Olhando para esses genes mais de perto, os cientistas perceberam que a função mais óbvia deles não tinha a ver, diretamente, com envelhecimento. Alguns desses genes, por exemplo, ajudam a controlar processos como a cicatrização e a coagulação.
Segundo Gerard Muntané, principal autor do estudo, esse ponto é extremamente importante, já que esses são dois mecanismos fundamentais para uma espécie viver por mais tempo – afinal, quanto mais rápido uma ferida se cura, menos vulneráveis estamos a pegar infecções, certo?
Genes do bem e do mal
As mesmas mutações que nos permitem chegar à velhice também podem ameaçar a vida na terceira idade, de acordo com a pesquisa. É que os genes que ajudam o joelho de uma criança a cicatrizar rapidamente estão igualmente associados a problemas cardiovasculares que só costumam aparecer com o avançar da idade.
Para Muntané, isso corrobora a ideia de que alguns genes podem ter diferentes papéis ao longo da vida. “Eles nos ajudam quando somos pequenos e nos prejudicam quando a idade reprodutiva chegou ao fim”, disse o pesquisador, em nota à imprensa.