Estudo revela como plantas carnívoras aprenderam a digerir carne
Mesmo com a enorme distância entre si, plantas diferentes aprenderam a usar os mesmos mecanismos para digerir insetos — uma incrível coincidência
Água e fotossíntese — a dieta das plantas é mesmo um tédio. Mas a maior parte delas vive bem com isso: só 580 das 400 mil espécies do reino vegetal desenvolveram a capacidade de capturar e digerir animais para sua própria nutrição. Um estudo liderado por Victor Albert, da Universidade de Buffalo, nos EUA, passou a limpo a história evolutiva das plantas carnívoras — que inspiraram a vilã do jogo Super Mario World que você vê aí em cima — e revelou alguns mistérios que estão por trás de seu surgimento.
“Tudo sugere que há poucas maneiras de se tornar uma planta carnívora”, afirmou Albert. “Essas plantas têm uma caixa de ferramentas genética, e com ela tentam encontrar uma resposta para o problema de como passar a comer carne. No final, todas elas chegam à mesma solução.”
Na Austrália, na Ásia e nas Américas, espécies sem conexão evolutiva direta (Nepenthes alata, Sarracenia purpurea e a Cephalotus follicularis, que você vê abaixo) aprenderam a capturar insetos usando uma folha côncava de superfície interna escorregadia, que torna quase impossível para o animal decolar de volta para a liberdade depois que é atraído para a armadilha.
Outra característica em comum é que, para digerir os insetos, todas elas deram novas aplicações a proteínas que antes eram usadas para se defender de doenças e ameaças do ambiente. Uma delas, a quitinase, é responsável por correr o rígido esqueleto externo dos insetos. Outras, as fosfatases, permitem à planta extrair fósforo, um nutriente crítico, do corpo da vítima. Com a mudança de função, também vieram mudanças na construção das enzimas em si, que ganharam novos aminoácidos (os “tijolinhos” de que são feitas as proteínas). Uma série de alterações muito específica para plantas tão distantes.
Para todas elas, é claro, a necessidade de insetos não foi um capricho: elas vivem, em geral, em solos pobres, que não podem fornecer nutrientes adequados. Prova de que a evolução, quando encontra boas soluções, consegue aplicá-las em contextos muito diferentes — e em espécies sem nenhuma relação entre si.