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Estudo sugere provável local onde sapiens e neandertais tiveram filhos

O motel dos hominídeos foi a Cordilheira de Zagros, no Irã. O local fornecia condições climáticas favoráveis para as duas espécies

Por Manuela Mourão
Atualizado em 23 set 2024, 10h15 - Publicado em 18 set 2024, 19h00

O Homo sapiens emergiu na África. Parte da espécie ficou no continente, enquanto um bocado seguiu caminho em direção à Eurásia. A viagem passou por onde hoje é o Oriente Médio, e por lá encontraram a espécie irmã, o Homo neanderthalensis. Um novo estudo sugere que esse contato aconteceu na Cordilheira de Zagros, no Irã. O encontro resultou em vários bebês sapiens-neandertais, que deram origem ao DNA neandertal que carregamos até hoje. 

A pesquisa conduzida por Saman Guran e sua equipe da Universidade de Colônia, na Alemanha, revela novos detalhes sobre o local onde neandertais e sapiens se cruzaram. Utilizando uma combinação de dados genéticos, arqueológicos, topográficos e ecológicos, os pesquisadores chegaram à conclusão que as Montanhas Zagros desempenharam um papel crucial para a interação entre essas duas espécies.

“Acreditamos que as Montanhas Zagros atuaram como um corredor, facilitando a dispersão dos Homo sapiens para o norte e dos neandertais para o sul”, afirmam os pesquisadores no artigo publicado. 

O modelo elaborado por Guran e sua equipe sugere que as condições ambientais na cordilheira são as que melhor atendem às necessidades dos homens das cavernas e dos homens modernos. Essa área abriga habitats mais frios, como os de origem paleártica dos neandertais, e ambientes mais quentes e ricos da região afrotropical, onde nossa própria espécie se originou.

“Evidências arqueológicas e fósseis indicam que o Homo sapiens entrou na Ásia Ocidental durante esse período”, afirmam os pesquisadores. O intervalo temporal de 120 a 80 mil anos atrás coincide com a segunda onda de intercruzamento que ainda está presente em nosso DNA.

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Com sua alta biodiversidade, a região das Zagros ofereceu recursos suficientes para que as espécies coexistissem. Além disso, a variedade de ambientes proporcionou refúgios durante períodos de mudanças climáticas adversas. “As áreas de fronteira de dois reinos são importantes na biologia, pois funcionam como refúgios para espécies de ambientes glaciais”, explicam Guran e sua equipe.

Modelos de adequação de habitat das duas espécies de Homo e suas potenciais zonas de contato e cruzamento no sudoeste da Ásia e no sudeste da Europa.
(Scientific Reports (2024) / DOI: 10.1038/s41598-024-70206-y/Reprodução)

Estudos recentes mostraram que o humano moderno teve que se adaptar rapidamente a condições extremas, como altas pressões, sistemas de montanhas e ecossistemas paleárticos (região que compreende a Europa, Norte da África, grande parte da Arábia e Ásia ao Norte dos Himalaias).

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Já os neandertais são fiéis habitantes de Zagros. É lá que fica a famosa Caverna Shanidar, um dos mais conhecidos sítios neandertais. Nesse local foram encontrados os restos de dez indivíduos, incluindo a célebre sepultura com flores – que mostrou que a ideia de realizar funerais deveria ser patenteada pelos homens das cavernas.

Um dente de neandertal com 65.000 anos, associado a uma coleção de ferramentas de pedra, sustenta o modelo ecológico desenvolvido pela equipe de Guran, confirmando a presença de ambas as espécies na região no momento certo (para que o encontro ocorresse). Além disso, pesquisas anteriores revelaram semelhanças nas características faciais entre neandertais e Sapiens nesta área, que comprovam as teorias de reprodução interespécies.

A análise dos genomas ao longo do tempo revela que a contribuição neandertal para o DNA humano ocorreu em um período específico: a mistura genética começou há cerca de 47 mil anos e durou aproximadamente 6,8 mil anos.

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Isso implica que o intercâmbio entre humanos e neandertais foi breve. Embora sete mil anos possa parecer muito, é um intervalo curto na história evolutiva dos Homo sapiens, especialmente considerando a importância das contribuições genéticas neandertais.

A equipe de pesquisadores incentiva arqueólogos iranianos a investigar a área identificada para descobrir mais pistas sobre essas interações. 

O estudo foi publicado pela Nature Scientific Reports

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