Experimento na ISS mostra como bactéria pode ser usada para mineração em Marte
Mesmo sem gravidade, o micróbio foi capaz de extrair das rochas elementos úteis para viabilizar a vida humana fora da Terra.
Se a humanidade um dia tirar do papel o projeto de colonizar outros planetas, Marte será o destino mais provável. Não à toa, o planeta vermelho vem sendo amplamente estudado para, no futuro, receber alguns astronautas por lá.
Mas não pense que montar uma colônia – ou mesmo um simples laboratório – marciana seja um trabalho simples. Para enviar meio quilo de carga num foguete para a órbita terrestre, é preciso desembolsar U$ 10 mil. Sendo assim, pagar o frete interplanetário de matéria-prima para Marte mobilizaria uma verdadeira operação logística.
Aproveitar os materiais já disponíveis no espaço parece, então, ser uma ideia melhor do que construir tudo do zero. Foi pensando nisso que pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na Escócia, propuseram à Agência Espacial Europeia (ESA) o experimento BioRock. Ele consiste em minerar, no espaço, rochas análogas às marcianas – com o auxílio de microrganismos.
O experimento foi feito à bordo da Estação Espacial Internacional (ISS) pelo astronauta Luca Parmitano, em meados de 2019 – um artigo que descreve os testes foi publicado recentemente na revista científica Nature Communications. Parmitano recebeu 36 recipientes do tamanho de caixas de fósforo contendo pedaços de basalto, uma rocha vulcânica que parece estar também presente em Marte. Metade dessas amostras continham diferentes tipos da bactéria, que deveriam ser colocadas para trabalhar. É o processo que a ciência chama de biomineração.
A biomineração já é aplicada da Terra: cerca de 20% do cobre mundial é extraído dessa forma, além de ouro, em menor quantidade. Mas há também a possibilidade de utilizar o processo na extração de elementos raros, como o cério, lantânio e neodímio.
Os pesquisadores têm como objetivo descobrir quais microrganismos são capazes de, mesmo na gravidade reduzida, extrair estes metais úteis para a manutenção da vida humana. Três bactérias foram enviadas para testes na ISS, mas apenas uma apresentou resultados satisfatórios. A Sphingomonas desiccabilis se mostrou capaz de extrair metais não apenas quando submetida a uma centrífuga que simulava a gravidade marciana – que equivale a 38% da terrestre – mas também na microgravidade da ISS.
O rendimento foi baixo, mas impressionante, já que os cientistas esperavam que, com a gravidade reduzida, os microrganismos ficassem estressados, rendendo menos no serviço de mineração. Isso até ocorreu com as outras duas espécies, mas a S. desiccabilis pareceu não se afetar. Como os resultados não foram expressivos, os pesquisadores explicam que esta não é uma demonstração de biomineração comercial, mas sim um estudo do processo.
A pesquisa não vai parar por aqui. Em dezembro deste ano, deve-se dar início a um experimento complementar chamado BioAsteroid. Dessa vez, ao invés do basalto, serão enviadas caixinhas contendo meteoritos; e em substituição às bactérias, devem ser utilizados fungos mineradores. As amostras irão ao espaço à bordo da SpaceX.
A iniciativa dos cientistas não é a única na área. Na última semana, anunciamos aqui na SUPER um projeto da empresa britânica Metalysis que pretende extrair oxigênio e ligas metálicas de rochas lunares. O fato é que a humanidade nunca esteve tão próximo de expandir seus domínios pelo espaço – e as bactérias podem dar uma mãozinha nisso.