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Facebook quer ler seus pensamentos – e também digitá-los por você

Tecnologia seria capaz de transcrever 100 palavras por minuto - e eliminaria nossa necessidade de teclar para compartilhar um status

Por Guilherme Eler
20 abr 2017, 17h08

“No que você está pensando?”. A provocação que o Facebook faz para motivar você a compartilhar um status com seus amigos parecia ser apenas uma pergunta retórica: Zuckerberg e sua trupe não estavam exatamente interessados no que você fez hoje ou sua opinião sobre o momento político atual. Quer dizer, é o que acreditávamos. A frase ganhou um novo sentido na última quarta-feira. Isso porque a rede social anunciou que pretende investir em projetos para conseguir ler pensamentos – transformando o que se passa em nossas mentes em textos sem que precisemos nos dar ao trabalho de digitar.

Essa história de tentar unir nossos cérebros às máquinas não vem de hoje. Que o diga Elon Musk, que apresentou o Neuralink ao mundo há algumas semanas. Porém, enquanto a ideia do bilionário da SpaceX envolve a implantação de pequenos eletrodos em nosso cérebro, o Facebook aposta em uma tecnologia ainda mais complexa. Buscando alternativas mais seguras do que abrir nossas cabeças, a rede social azul quer focar no desenvolvimento de sensores não-invasivos. Eles funcionarão como “um mouse para a realidade aumentada”: o acesso ao computador é feito apenas com o poder da mente, e a máquina capta o que estamos pensando na hora, a partir da leitura ótica das imagens cerebrais, principalmente dos centros de fala.

As pretensões do projeto foram divulgadas na F8, conferência de desenvolvedores do Vale do Silício que aconteceu na última quarta-feira (19) em San José, na Califórnia. O objetivo é que a tecnologia consiga ser capaz de transcrever 100 palavras por minuto, cinco vezes mais rápido do que você seria digitando o mesmo texto em seu smartphone.

Para conseguir essa fórmula mágica, a empresa conta com um grupo de 60 cientistas, mobilizados na tarefa há pelo menos seis meses. “Queremos transformá-los em um sistema fácil de usar e que possa ser produzido em grande escala”, disse Mark Zuckerberg em uma postagem feita em sua conta pessoal.

Mais do que enxergar nosso cérebro por dentro, a tecnologia quer funcionar como “prótese de linguagem” para pessoas com dificuldades de comunicação, ou ainda ampliando as possibilidades da realidade aumentada, defende a executiva do Facebook Regina Dugan.

Líder de uma equipe no Building 8, departamento do Facebook que desenvolve as ideias mais disruptivas da marca, Dugan revelou também seu trabalho em outro produto, que vai na mesma linha: sensores que permitam às pessoas “ouvir” por meio da pele.

Eles fariam um papel parecido ao de nosso ouvido, que captam vibrações e as preparam para ser interpretadas como som pelo cérebro – com a vantagem de que esse som viria diretamente descrito em forma de texto. Seria o fim dos tradutores simultâneos: discursos feitos em outra língua poderiam, assim, serem entendidos por quem quer que fosse.

Compartilhar pensamentos, da mesma forma como fazemos com fotos e vídeos, tem a óbvia vantagem de eliminar o trabalho de transmitir o que sentimos ao teclado e, aí sim, às pessoas de nossa rede. Mas, sem digitar, poderíamos perder o papel mediador de nossa consciência – deixando nossa mente completamente à disposição do próprio Facebook. Regina Dugan garante que não. “Não estamos falando em decodificar todos os seus pensamentos […]. Falamos daqueles que você quer compartilhar. Das palavras que você decidiu enviar ao centro de fala do seu cérebro”, disse, em seu pronunciamento durante a F8.

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