Fóssil de mosquito indica que malária existe desde a época dos dinossauros
Ancestral do mosquito Anopheles pode oferecer pistas sobre os primórdios da doença – que atinge 400 mil pessoas no mundo, a cada ano
Cientistas da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, descobriram um mosquito de 100 milhões de anos perfeitamente preservado, no Myanmar. Naquela época, durante o período Cretáceo, os dinossauros ainda vagavam pelo planeta. Mas não, os pesquisadores não vão usar o sangue preso dentro do mosquito para ressuscitar os dinos. O que eles pretendem é estudar como esse mosquito pode ter sido a chave para a proliferação da malária.
Hoje, a doença tropical é considerada endêmica em várias partes do mundo e mata mais de 400 mil pessoas a cada ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O seu principal vetor é o Anopheles – o famosos mosquito-prego, como é conhecido no Brasil – e ela é causada por protozoários pertencentes ao gênero Plasmodium.
O parasita é transmitido quando mosquitos fêmeas infectados picam seres humanos e animais para se alimentarem de seu sangue. A OMS estima que quase metade da população humana do mundo está em risco de contrair malária. A infecção é tratável, mas ainda não há uma vacina, por isso medidas preventivas incluem inseticidas e mosquiteiros.
A equipe de pesquisadores americanos, embora tenha confirmado que o mosquito primitivo é de outro gênero e espécie (Priscoculex burmanicus), afirma que ele apresenta várias semelhanças com o Anopheles – e que pode ter sido um ancestral do atual transmissor da malária.
O P. burmanicus e os mosquitos anofelinos de hoje têm as veias das asas, antenas, abdômen e probóscide (sua boca longa e sugadora de sangue) praticamente iguais. De acordo com os cientistas, como a nova espécie aparenta ser uma linhagem inicial do vetor de hoje, isso pode significar que os mosquitinhos do Cretáceo carregavam a malária há 100 milhões de anos. “Mosquitos poderiam ter espalhado a doença na época, mas ainda é uma questão em aberto”, disse George Poinar Jr, autor do estudo.
Ainda segundo o pesquisador, é possível que esses insetos tenham afetado os dinossauros com a doença. “Houve eventos catastróficos nessa época, como impactos de asteroides, mudanças climáticas e fluxos de lava, mas está claro que os dinossauros declinaram e lentamente se extinguiram ao longo de milhares de anos, o que sugere que outras questões também influenciaram na extinção”
E isso realmente pode ter acontecido, já que a idade da malária está em aberto para a ciência. Poinar foi o primeiro a descobrir a enfermidade em um mosquito de 15 a 20 milhões de anos na República Dominicana – e esse foi o primeiro registro fóssil do Plasmodium. A primeira detecção em humanos foi na China em 2.700 a.C. – e alguns pesquisadores dizem que a doença pode ter contribuído até para a queda do Império Romano.
O novo estudo também fala sobre como os mosquitos Anopheles se espalharam pelo planeta. Como mostra o mapa acima, eles são encontrados em praticamente todo o mundo. Os pesquisadores observam que seus ancestrais poderiam ter se difundido pela Gondwana, um antigo supercontinente que depois se dividiu no que hoje são África, América do Sul, Madagascar, Índia, Austrália, Antártica e Arábia.
Segundo Poinar, entender a história antiga da malária e de seu vetor oferece pistas sobre como evoluiu o ciclo de vida moderno do parasita e como podemos interromper a transmissão da doença.