Gás que destrói a camada de ozônio diminuiu mais rápido que o esperado
O nível de concentração de HCFCs, um substituto do CFC, atingiu pico na atmosfera em 2021 – cinco anos antes do previsto.
Assinado por 197 países, o Protocolo de Montreal está em vigor desde 1989. Ele previa a redução da utilização de gases CFC, que são prejudiciais para a atmosfera do planeta. Desde então, se tornou um dos acordos ambientais mais bem sucedidos da história. Um novo estudo mostra que um dos gases danosos à camada de ozônio estão diminuindo até antes do previsto.
Publicado na revista Nature Climate Change, o estudo revelou que a quantidade de gases HCFC (hidroclorofluorcarbonetos), que destroem a camada de ozônio, atingiu o seu pico na atmosfera em 2021, e agora está em queda. A previsão era que os HCFCs atingissem esse nível em 2026 – ou seja, estamos cinco anos antes do esperado.
Tanto os gases CFCs (clorofluorcarboneto), quanto os HCFCs são prejudiciais para a atmosfera. A diferença é que, enquanto os HCFCs duram em média duas décadas, os CFCs podem permanecer na atmosfera por cerca de 100 anos. A diminuição de pelo menos um deles (os HCFCs) já representa um sucesso na implementação de protocolos ambientais.
“Em termos de política ambiental, há um certo otimismo de que esses tratados ambientais podem funcionar se devidamente implementados e seguidos corretamente”, conta em entrevista ao The Guardian, Luke Western, pesquisador da Universidade de Bristol, no Reino Unido, e um dos autores do novo estudo.
A emissão de gases CFCs foi totalmente eliminada em 2010, mas seus substitutos, os HCFCs, ainda são utilizados. É esperado que eles também sejam eliminados até 2040.
“Sua produção está atualmente sendo eliminada globalmente, com uma data de conclusão prevista para 2040. Esses HCFCs estão sendo substituídos por hidrofluorocarbonetos (HFCs) não destrutivos para o ozônio e por outros compostos. Ao impor controles rigorosos e promover a adoção de alternativas amigas do ozônio, o protocolo reduziu com sucesso a liberação e os níveis de HCFCs na atmosfera”, complementa Western em nota à imprensa.
De acordo com Martin Vollmer, cientista atmosférico dos Laboratórios Federais Suíços para Ciência e Tecnologia de Materiais (EMPA) e um dos autores do estudo, as análises foram feitas usando dados do Experimento Avançado de Gases Atmosféricos Globais e da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA.
“Usamos técnicas de medição altamente sensíveis e protocolos rigorosos para garantir a confiabilidade dessas observações”, disse em nota.
O problema dos CFCs
Os gases CFC (também chamados de gás freon), eram utilizados desde o final dos anos 20, e podiam ser encontrados em uma série de produtos, como sprays aerossóis, sistemas de refrigeração (como geladeiras) e aparelhos de ar condicionado.
O problema é que as moléculas de cloro desse gás interagem com moléculas de ozônio (O3) presentes na atmosfera. A camada de ozônio, composta por essas moléculas, protege contra os raios UV do Sol. Sem ela, esses raios poderiam danificar plantações, causar queimaduras, câncer de pele, entre outros efeitos.
A reação entre as moléculas de cloro dos gases CFC e as moléculas de ozônio presentes na atmosfera criaram um grande buraco, permitindo que os raios UV atingissem a superfície do planeta mais intensamente. A descoberta do buraco em 1980 ocorreu graças a estudos feitos pelo fisico-quimico mexicano Mario Molina, que foi agraciado com o Premio Nobel de Química em 1995.
Em 2023, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estimou que pode levar pelo menos 40 anos para que a camada de ozônio se recupere a níveis anteriores à década de 1980.