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Há 20 mil anos, o leste asiático viveu uma outra epidemia de coronavírus

Na pré-história, moradores do leste da Ásia precisaram se adaptar ao vírus – e isso deixou marcas no DNA da população atual.

Por Maria Clara Rossini
29 jun 2021, 18h49

Uma epidemia de coronavírus que ocorreu na Ásia pré-histórica deixou marcas nos genes das populações vivas hoje – talvez, para melhor. É o que concluiu um estudo feito por pesquisadores da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, e da Universidade de Adelaide, na Austrália. A pesquisa sugere que o vírus infectou o leste asiático entre 25 e 20 mil anos atrás. 

Os vírus fizeram parte da seleção natural dos humanos ao longo da história. Se um novo patógeno começa a infectar uma população, aqueles que estão mais vulneráveis à doença têm mais chances de morrer – logo, menos chances de ter filhos. Se algumas pessoas tiverem uma mutação aleatória que as torna resistentes ao vírus, essas terão mais chances de sobreviver e passar seus genes para frente.

Com o passar do tempo, a versão vantajosa do gene se torna mais comum, enquanto a versão vulnerável fica mais rara. Se esse gene está presente no DNA de muitas pessoas, pode ser um sinal de evolução desencadeada por uma epidemia no passado. 

Por isso, a lógica não é procurar pelo material genético de um possível vírus pré-histórico, mas sim pelas marcas que ele possa ter deixado no nosso genoma hoje. O time de pesquisadores já usava essa abordagem para estudar diferentes tipos de vírus. Com a pandemia de Covid-19, eles começaram a investigar se outros coronavírus influenciaram a evolução do genoma humano.

Para se reproduzir, os vírus precisam infectar as células de um hospedeiro. Eles se ligam às chamadas proteínas virais interagentes (VIPs, na sigla em inglês), que são produzidas pelo nosso próprio corpo. Mesmo antes da pandemia de Covid-19, pesquisas já haviam identificado quais genes codificam as VIPs que interagem apenas com os coronavírus (como o Sars-CoV-1, o Mers-CoV, e coronavírus que causam resfriados leves). A ideia foi olhar se alguma versão vantajosa desses genes estaria mais presente na população – isso indicaria que nossos ancestrais foram selecionados para se adaptar a uma infecção no passado.

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A nova pesquisa comparou o DNA de mais de 2,5 mil pessoas pertencentes a 26 populações ao redor do mundo. A análise foi feita com base nos genomas já sequenciados no 1000 Genomes Project. Os cientistas verificaram que populações do leste da Ásia, como China, Japão e Vietnã, possuem uma versão dominante de 42 dos genes relacionados aos coronavírus.

Eles também estimaram quando esses genes se tornaram dominantes na população. Com o passar das gerações, é normal que os nossos genes sofram mutações aleatórias inofensivas. Os pesquisadores analisam esse número de mutações para prever há quanto tempo um determinado gene foi introduzido na linhagem. Os pesquisadores observaram que os 42 genes tinham aproximadamente o mesmo número de mutações. Isso indica que eles evoluíram na mesma época, que foi estimada entre 25 e 20 mil anos atrás.

Mas essas marcas nos genes não foram encontradas em populações da América ou Europa, por exemplo. Isso significa que a epidemia provavelmente ficou restrita à Ásia – o que faz sentido, já que naquela época os humanos viviam em pequenos grupos de caçadores-coletores e não se deslocavam muito.

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Então a população leste asiática é mais resistente ao coronavírus atual? Os pesquisadores não se arriscam a afirmar isso. O que sabemos por enquanto é que há fortes evidências de que eles tiveram que se adaptar a uma epidemia de coronavírus no passado.

Outros estudos têm se dedicado a investigar como alguns genes influenciam a susceptibilidade e severidade da Covid-19. Os pesquisadores do novo estudo, no entanto, apontam que vale a pena estudar esses 42 genes de perto, tanto para entender a resposta imunológica ao vírus quanto para propor novos tratamentos à doença. 

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