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Inalação com moléculas de RNA pode ensinar pulmão a fazer os próprios remédios

Técnica pode revolucionar o tratamento de doenças como a fibrose cística

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
9 jan 2019, 17h37

Agradeça todos os dias por suas moléculas de RNA. Você pode até não saber que elas existem, mas elas “sabem” que você existe – e te conhecem melhor que seu amigo mais íntimo. Todos os dias, o tempo todo, em todas as suas células, moléculas de RNA acessam o DNA, coletam as instruções armazenadas nele e usam essas instruções para fabricar as 92 mil proteínas que permitem a sua existência. Sem o RNA para fazer o trabalho duro, o DNA seria só um cartão de memória inerte; suas proteínas não seriam fabricadas e você nem chegaria a morrer – pois nunca teria nascido.

Para exercer sua função, o RNA precisa se dividir em 3 tipos. Um é o mensageiro (RNAm). Ele é o cara que anota instruções de uma proteína no DNA e leva essas instruções para a fábrica. Outro é o ribossomal (RNAr). Como o próprio nome diz, ele forma o ribossomo – e o ribossomo é a fábrica de proteínas da célula, o lugar em que elas são montadas. Por último, há o transportador (RNAt). O RNAt tem função logística. Leva os aminoácidos, que são a matéria-prima das proteínas, para os ribossomos.

Isso fez um grupo de pesquisadores do MIT pensar: o que aconteceria se você inserisse RNAm com instruções para fabricar medicamentos no corpo de um paciente? Será que os ribossomos leriam essas instruções e passariam a fabricar os medicamentos com a mesma eficiência com que produzem as proteínas originais? A resposta, publicada em um artigo científico na última sexta-feira (4), é sim. E no caso de uma doença pulmonar como a fibrose cística, o RNAm poderia ser ministrado de maneira bem simples: misturado no soro durante seções de inalação.

Os testes foram feitos em camundongos. Os pesquisadores criaram uma molécula de RNAm que contém instruções para produzir uma proteína chamada luciferase – que é bioluminescente (ou seja, que emite luz). Depois, misturaram o RNAm no vapor e fizeram os camundongos respirá-lo. Não deu outra: os pulmões dos camundongos prontamente absorveram o RNAm, e os ribossomos passaram a produzir a proteína luciferase. Em 24 horas, tudo estava aceso feito o abdômen de um vagalume.

Os cientistas usaram uma proteína bioluminescente para fazer o teste (em vez de uma proteína com finalidade terapêutica, que é o objetivo final) porque com a luz fica mais fácil verificar que a dita cuja foi produzida com sucesso.

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Não há motivos para acreditar que o processo não se aplique a seres humanos, pois o trio DNA, RNA e proteínas é universal: todos os seres vivos, de uma ameba a uma girafa, dependem dele. O RNA de uma ameba consegue ler o DNA de uma girafa, e vice-versa – a linguagem do material genético é compartilhada por toda os seres vivos da Terra.

O próximo passo, claro, é testar a técnica em seres humanos – e até, quem sabe, diluir as moléculas de RNAm em soluções de aplicação ainda mais simples, como um spray aerosol. Uma empresa farmacêutica chamada TranslateBio já está organizando o primeiro round de testes clínicos. A terapia de RNAm não chegará tão cedo à farmácia; quando chegar, provavelmente será cara. Mas representa um passo inédito para a ciência: uma técnica que força o corpo fabricar o próprio remédio, em vez de fornecê-lo pronto. 

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