Novas espécies de animais :invadiram a nossa praia
Novas espécies entram de penetras no país e viram uma ameaça tão grande ao meio ambiente quanto o homem.
Dante Grecco e Alexandre Versignassi
Uma gangue de búfalos está enlouquecida em Rondônia. Eles atacam tudo o que aparece. Nem onça escapa. Enquanto isso, vão destruindo uma reserva florestal. Um terror. Outro lugar arrasado por uma gangue é o interior do Nordeste. Mas o bando lá é outro: o das algarobas, um tipo de árvore que está tomando conta do pedaço. O que uma coisa tem a ver com a outra? É que são dois exemplos de espécies “invasoras”, que foram parar onde não têm predadores naturais e acabaram se reproduzindo feito coelhos. Os búfalos vieram da Ásia para virar gado e acabaram soltos no delicado ecossistema da Amazônia. Com as algarobas é por aí também. As sementes delas foram trazidas da África. A idéia é que a planta virasse uma fonte barata de madeira para construções. Mas o barato saiu caro: ela gostou do clima nordestino, se multiplicou e tomou o lugar de plantas nativas. A biodiversidade da caatinga, então, ficou mais pobre do que já era. E essa dupla não está sozinha. Só no Brasil, o Ministério do Meio Ambiente catalogou 573 espécies que vivem nessas condições. Quase todas trazidas pelas mãos do Homo sapiens, espécie que ainda não sabe o tamanho exato do prejuízo que as “invasoras” causam. Seja como for, não é pouco: a estimativa é que elas foram responsáveis por 39% dos animais extintos nos últimos séculos.
Festa na floresta
Eles chegaram ao Brasil pelas mãos do homem, não encontraram predadores e dominaram geral. Veja alguns dos bichos que mais fizeram estragos por aqui.
Cabra de Trindade (Capra hircus)
O que rolou: No século 18, expedições européias desembarcaram na ilha de Trindade, a 1 000 km da costa do Espírito Santo, e foram largando cabras por lá, para que servissem de alimento a eventuais náufragos.
Prejuízo: Sem inimigos naturais, elas se reproduziram loucamente. A população chegou a 800 caprinos, que devastaram a vegetação.
Búfalo-asiático (Bubalus bubalis)
Como chegou: No século 19, importaram esse bicho do Sudeste Asiático para ser criado em fazendas da Região Norte. Mas alguns acabaram soltos nos anos 50, em Rondônia, e caíram na selvageria.
Prejuízo: Em seu habitat natural, ele é comida de tigre. Por aqui, ninguém encara. E o búfalo selvagem se reproduz à vontade. Tanto que hoje há 4 mil deles em Rondônia atacando pessoas e destruindo nascentes de rios.
Capim-anoni (Eragrosti plana)
Como chegou: Ele resiste a geadas. Fazendeiros do Rio Grande do Sul, então, trouxeram esse capim para servir de pasto ao gado.
Prejuízo: Só que os bois não gostaram da novidade. O anoni se mostrou inútil. E ele não parou de se reproduzir, tomando lugar do pasto bom. Em 1978, o intruso ocupava uma área de 200 km2. Hoje, já se espalhou por 35 mil km2 de pastagens. E causa uma perda anual de uns 100 milhões de reais para a pecuária.
Mosca-dos-chifres (Haematobia irritans)
Como chegou: Esse inseto europeu que vive de chupar sangue de boi chegou aos EUA de carona em gado importado e invadiu o Brasil nos anos 70.
Prejuízo: Elas são ávidas: até 400 moscas ficam sugando cada animal ao mesmo tempo. O tempo todo. A irritação constante faz o gado perder o apetite, e parar de engordar. A produção de vacas leiteiras, por exemplo, cai 20%.
Javali (Sus scrofa)
Como chegou: Trouxeram a comida predileta do Obelix direto da Europa para fazendas do Uruguai. No final dos anos 80, alguns escaparam do cativeiro e vieram parar no Sul do Brasil.
Prejuízo: Transformam roças de milho em refeição. E essa é apenas a entrada. Como prato principal, entram galinhas, patos e filhotes de carneiro, para dor de cabeça dos criadores.
Pinho (Pinus elliottii)
Como chegou: Veio do hemisfério norte na década de 1930 para servir de matéria- prima na fabricação de celulose. Só que alguns “escaparam” das áreas controladas de plantio.
Prejuízo: Ocupa o espaço de outras espécies sem gerar alimento para a fauna. No fim das contas, mata os nossos animais de fome.
Mexilhão-dourado (limnoperna fortunei)
Como chegou: Surgiu na China e veio parar aqui de carona na água que os navios carregam como lastro. Esse mexilhão começou a se espalhar por rios brasileiros em 1988 e não parou mais.
Prejuízo: O acúmulo desses mexilhões obstrui os tubos das usinas hidreléticas e entope o sistema de refrigeração das turbinas. Resultado: os custos de manutenção vão lá em cima.