Ana Paula Corradini
Uma equipe de arquéologos descobriu no Peru as ruínas da mais antiga cidade das Américas. Caral, um dos 18 centros cerimoniais da área do Rio Supe, dominava a região há 4 600 anos – pelo menos 800 anos antes dos primeiros registros de civilização de que se tinha conhecimento no continente. Segundo Ruth Shady Solís, da Universidade Maior de San Marcos, Peru, uma das líderes da equipe, Caral foi a primeira sociedade complexa do dito Novo Mundo. A descoberta revela que as cidades são tão antigas em nosso continente quanto na Ásia e no Oriente Médio, lugares tidos como o berço da civilização.
A descoberta de Caral colocou em cheque a tese da origem marítima da civilização peruana, defendida por muitos estudiosos dos povos andinos. Segundo a tese, o mar teria garantido os recursos para que a vida em sociedade começasse no litoral. Só que Caral fica no meio do deserto e é muitíssimo mais velha que qualquer aldeia costeira. A cidade, que viveu seu apogeu provavelmente na década de 2620 a.C., tinha 65 hectares de área e apresentava uma arquitetura monumental, com construções de pedra que chegavam a 18 metros de altura.
Foram encontrados também um anfiteatro circular, um setor residencial e canais de irrigação. Os habitantes de Caral tinham o Rio Supe como única fonte de água e construíram engenhosos canais de irrigação para suas plantações. Ao contrário dos outros povos andinos, não cultivavam milho, mas goiaba, feijão, abóbora e algodão. Outro achado incrível foi um conjunto de 32 flautas transversais, datadas entre 2000 e 1800 a.C. “Estamos diante de uma das expressões mais antigas e avançadas da música na América”, afirma Ruth. “Eles demonstram um nível altamente avançado de conhecimento da acústica e técnicas complexas de fabricação de instrumentos musicais.” Em resumo: a civilização andina não deve nada aos sofisticados egípcios e suas pirâmides.